Revista Jardins

Árvores que curam

Escrever sobre árvores é algo quase íntimo, como se estivesse a escrever sobre mim própria ou sobre alguma parte de mim, os meus braços, longas ramas dançando na brisa, os meus dedos querendo regressar ao aconchego da terra, as minhas pernas, troncos rígidos e ao mesmo tempo flexíveis, estáticas pontes entre o céu e o chão, os olhos, os cabelos, os pés, raízes que se comunicam por debaixo do solo em mensagens secretas, deixando trilhos, rastos, segredos, avisos e sementes também, sementes que viajarão e se multiplicarão pelos caminhos de florestas sem fim.

Tal como ela, também eu viajo, espraiando-me pelos quatro cantos do mundo.

As viagens das árvores, no entanto, foram, ao longo da história, e são ainda, um pouco forçadas e com consequências pouco sustentáveis para o planeta, sendo o caso mais óbvio entre o nós o desgraçado do eucalipto, trazido da Austrália para secar zonas pantanosas e hoje instalado em grandes áreas, solos de vales e serras transformados em zonas estéreis e secas, futuros desertos. Para não falar dos incêndios.

No entanto, a sua utilização para fins medicinais é bastante importante para a extração do óleo essencial usado para tratar problemas das vias respiratórias.

Mas a minha intenção aqui é falar do fascínio que tenho pelas cores com que se pintam os bosques, florestas, beiras de estrada e pomares.

Quem nunca reparou nas cores do diospireiro e nos próprios dióspiros que estão por esta altura prontos para fazer as delícias de quem os aprecia, muito ricos em vitaminas A, C, B1, B2 e B3 e sais minerais como ferro, fósforo, cálcio?

Várias espécies de árvores

Romãzeiras

Tingem campos e bermas de estradas com a sua folhagem avermelhada, avisando que o inverno está à porta.

Os frutos sumarentos são ricos em ferro, muito úteis como depurativos, aumentam os glóbulos vermelhos e são ricas em antioxidantes e vitamina C.

No Médio Oriente, combinam-nos com nozes para fazer molhos que acompanham vários pratos.

Medronheiros

Os medronheiros tão mediterrânicos, os seus pequenos frutos bem vermelhinhos, decorando as árvores anunciando já o natal, os seus usos e propriedades vão muito além da destilação da aguardente de medronho.

São também muito ricos em antioxidantes e vitaminas, deliciosos quando comidos bem madurinhos.

Os ingleses dão-lhe o nome de strawberry tree.

Pilriteiro

Outra árvore também muito comum, bonita e útil, que se cobre de minúsculos frutinhos redondos e vermelhos, altamente medicinais e também com algum interesse culinário é o pilriteiro (Crataegus sp.)

As suas bagas, folhas e flores são utilizadas pela indústria farmacêutica no fabrico de medicamentos para tratar vários patologias associadas a problemas cardíacos e ansiedade.

Gostaria muito de ver as árvores mediterrânicas e de frutos comestíveis a ornamentar os jardins das nossas vilas e cidades; juntaríamos a beleza da folhagem à utilidade dos frutos – já existem em Lisboa alguns projetos que apontam nesse sentido.

Bétulas

E, para terminar, as bétulas conhecidas também por vidoeiros, com os seus troncos esguios, de casca sedosa e branca iluminando as noites agora já tão longas.

Chamam-lhes noivas da floresta e são um símbolo de luz e pureza nas culturas dos países nórdicos, onde são veneradas e utilizadas com toda a dignidade que lhe é merecida.

Usam as ramas verdes nos saunas, fazem infusões com as suas folhas verdes ou secas, especialmente como diurético e anti-reumático.

Quando entro num bosque de bétulas, sinto sempre um qualquer impulso de tirar os sapatos e fazer silêncio… E estar, receber em mim aquela luz refletida dos troncos das árvores e agradecer.

Fotos: Fernanda Botelho

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