Revista Jardins

As plantas do “Novo Mundo”

Saiba como foi feita a sua globalização na alimentação.

A troca de plantas entre continentes constituiu um importante desafio, impulsionado durante a expansão marítima nos séculos XV e XVI no continente americano, para a globalização da alimentação.

Nas suas expedições ao “Novo Mundo”, os europeus aprenderam com a população local o interesse da utilização de determinadas plantas quer na alimentação e na medicina, quer no âmbito ornamental.

Ao trazerem algumas dessas espécies, estas adaptaram-se às condições de solo e clima, assumindo um papel relevante na Europa, como o milho, a batata, o tomate, a batata-doce e o tabaco.

No entanto, houve outras plantas cuja aclimatação não foi bem-sucedida na Europa e foram experimentadas, com sucesso, noutros continentes, como a mandioca, em África e no Oriente, e o cacaueiro e o cafeeiro, na costa ocidental africana.

Por sua vez, os europeus também levaram plantas que habitualmente cultivavam e utilizavam na sua alimentação. No caso dos portugueses, “exportaram” várias plantas: quer as tipicamente mediterrânicas, quer as trazidas de outras origens, como é o caso dos citrinos, do arroz oriental e da bananeira.

De salientar o papel crucial que Cabo Verde e São Tomé desempenharam como portos intermediários na troca de plantas entre continentes.

Nesta edição, destacamos a aventura do abacateiro, da batata-doce, da baunilha e do cacaueiro e a sua difusão e globalização na nossa alimentação.

Persea americana Mill. (abacateiro, pereira-abacate)

Família: Lauraceae

O abacateiro é uma planta originária da região da América Central (sul da América do Norte e norte da América do Sul).

Apesar de ser uma planta utilizada e estimada pelos índios antes da chegada dos europeus, que lhes atribuíam propriedades afrodisíacas (frutos) e propriedades medicinais (folhas), e apesar de haver notícias da sua introdução desde c.a.1601 (sul de Espanha), a sua cultura não se difundiu.

Apenas no século XIX, já reconhecidas as qualidades nutritivas dos seus frutos, a sua cultura foi difundida sobretudo nas zonas subtropicais e temperadas quentes como Flórida, Califórnia, sul de Espanha, Madeira, Creta, Algarve, etc.

O abacateiro é uma árvore ou arbusto perenifólio, até 18 metros de altura, com copa larga e densa.

O seu fruto possui uma polpa rica em gordura, mas sem grande sabor, aroma ou cheiro, motivo pelo qual não despertou o interesse dos europeus, como aconteceu com muitas outras plantas que se conheceram nos trópicos.

Vanilla planifolia Andr. (baunilha, baunilheira)

Família: Orchidaceae

Acredita-se que os astecas tenham sido o primeiro povo a utilizar a vagem da baunilha, chamavam-lhe tlilxochitl, que significa vagem escura. Usavam-na para aromatizar o seu chocolatl, uma bebida feita a partir dos grãos do cacau.

O historiador que fazia parte da expedição de Hernán Cortés (1485-1547) descreve a preparação dessa bebida, ressaltando o facto de o líder asteca Montezuma se recusar beber outra bebida senão essa, bebendo-a 50 vezes ao dia.

Quando os espanhóis chegaram ao “Novo Mundo” a baunilha já era bastante conhecida em alguns locais da América Central e os seus frutos muitíssimo apreciados.

Ao verificarem as suas notáveis propriedades aromáticas, a baunilha consta na “lista” das primeiras grandes novidades trazidas pelos espanhóis para a Europa, por volta do ano 1510. É de referir que, de início, o seu cultivo foi muito difícil.

As plantas davam flor, mas não produziam fruto ou, quando o produziam, era de muito baixa qualidade. O primeiro método de polinização artificial da baunilha foi descoberto por Edmund Albius, um escravo de 12 anos da ilha de Reunião, feito manualmente.

Com o sucesso desta polinização artificial, a produção de baunilha dispara, tornando a ilha de Reunião a primeira produtora mundial.

A baunilheira é uma planta trepadeira, flexível, pouco ou nada ramificada, de caules muito compridos. E o seu fruto é uma cápsula, apesar de ser chamada muitas vezes, mas erradamente, vagem.

Theobroma cacao L. (cacaueiro)

Família: Malvaceae

O cacaueiro é uma planta originária do Brasil. Terá sido em tempos muito antigos levada para fora da sua área de origem, constituindo a base de um alimento muito apreciado e valorizado nas comunidades da América Central, um preparado sob a forma de pasta feito com tipos de sementes não amargas.

A primeira vez que os europeus terão tido contacto com o cacau terá sido na corte de Montezuma, onde foi oferecida a Hernán Cortés (1485-1547) uma pasta de amêndoas de cacau trituradas, misturadas com farinha de milho e aromatizadas com baunilha.

Devido à grande procura do cacaueiro, a sua cultura proliferou-se e intensificou-se na América Central para fazer face à crescente procura do produto. Apesar de ser uma planta de origem brasileira, a cultura do cacau no Brasil apenas foi iniciada, em 1674, pela mão do padre José Bettendorf (1625-1698), e intensificada no tempo do Marquês de Pombal (1699-1782).

É uma árvore perenifólia que pode atingir os 20 metros de altura; em meio de cultura, a altura não ultrapassa os 3-5 metros.

O cacau é produzido a partir das sementes do fruto, depois de “fermentadas” e secas, e a partir do qual é produzido o pó, o chocolate e a manteiga de cacau.

O seu nome científico, Theobroma cacao, significa “alimento dos deuses”.

Ipomoea batatas (L.) Lam. (batata-doce)

Família: Convolvulaceae

A batata-doce é uma planta de origem americana, amplamente difundida e cultivada antes da chegada dos europeus ao “Novo Mundo”. Foi uma das muitas espécies trazidas por Cristóvão Colombo (1451-1506) durante as expedições espanholas.

Os portugueses trouxeram a batata-doce para a Europa; em 1538, já existia a cultura na ilha Terceira. É de mencionar ainda a referência feita a esta cultura em S. Tomé, pelo Piloto Anónimo, em 1552, como o “principal sustento” desse povo.

Acredita-se que a batata-doce chegou ao Oriente de duas formas: via Atlântico, pela mão dos portugueses, que levaram os clones antilhanos por mar, para a África, Índia e Indonésia, chegando à China por via terrestre desde a Índia; e via Pacífico, pela mão dos espanhóis, que levaram clones de origem mexicana na sua rota Acapulco-Manila.

Morfologicamente, a batata-doce é uma planta herbácea, composta por caules, folhas, flores e frutos não comestíveis. O seu caule subterrâneo ramifica-se, originando nas extremidades os tubérculos (batatas).

São uma cultura de fácil manutenção e reprodução. A facilidade com que cobre os terrenos é tão grande que é utilizada em zonas onde existe especial incidência de tornados, como é o caso do Japão e das Filipinas, defendendo o solo dos fenómenos erosivos.

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