É de janelas que continuam a mirar o Tejo que a Casa da Cerca celebra 20 anos de abertura ao público, com um vasto projeto cultural que visa o fomento da investigação e divulgação da arte contemporânea. Neste ano assinalável, a organização decidiu que várias disciplinas haveriam de dar as mãos: Arte, Ciência e Ecologia.
O casamento perfeito para uma programação cultural de excelência durante 2021. Até 4 de julho, apresentam um conjunto de quatro exposições nos seus vários espaços expositivos. A Vida Secreta das Plantas, que está patente na Galeria Principal é também uma celebração dos 20 anos d’O Chão das Artes – Jardim Botânico e que teve como inspiração o livro A Vida das Plantas, de Emmanuel Coccia. Ao contrário do que se pensava, a evidência demonstra que as plantas sentem, mexem-se, pensam, interagem entre si, com outros organismos e com o meio onde se situam.
Na Galeria do Pátio, EVA Ilustradoras portuguesas do século 20, uma exposição que se debruça sobre a obra de oito ilustradoras cujo trabalho se situa maioritariamente na primeira metade do século XX.
Estreitura, de António Bolota, na Cisterna da casa, é uma obra que responde à especificidade do espaço, e que entra em confronto quer com o espaço quer com o espetador. Na Sala de Leitura, podemos ficar a conhecer Cartas de Amor, de Isabel Baraona. Nesta pequena mostra, dedicada a esta faceta da sua produção, dá continuidade a um projeto que iniciou em 2013, quando vivia em França.
A abraçar a casa temos dois jardins principais, o de recreio e lazer e O Chão das Artes — Jardim Botânico notável, que coloca Almada na estreita lista de cidades com jardim botânico. Ambos são mantidos com um esmero que serve de referência para os jardins do nosso País. É no botânico que encontramos uma coleção de plantas peculiares, com uma área dedicada a plantas tintureiras (Jardim dos Pintores), onde todos os anos um artista faz a curadoria das mesmas, sendo, posteriormente, responsável por empregá-las em obras de arte.
De forma a assegurar um diálogo pedagógico permanente com a comunidade, foi criada a iniciativa Amigos do Jardim, onde todas as terças, de forma orientada, qualquer pessoa tem a oportunidade de aprender e contribuir para a manutenção do jardim. Uma das organizadoras partilhou connosco um episódio curioso, que demonstra o quão importante é a literacia ambiental: uma avó queixava-se da não limpeza das folhas, o que o ouvido atento permitiu transformar em educação, explicando que as folhas criam uma espécie de manta térmica e contribuem para diminuir a velocidade de infiltração da água das chuvas no solo.
Existe ainda uma parte do jardim dedicada aos leitores, um outro ex-líbris desta casa, onde é possível desfrutar da frescura que a vegetação proporciona, escudando os leitores das melodias da ponte. Este espaço, que esteve fechado durante muito tempo, não tinha referências do que foi outrora. Foi, por isso, feita uma inteligente recuperação, que tem como base a observação de como a comunidade se relacionava com o espaço. Esta observação deu-se em dois momentos: primeiramente, deram livros às pessoas, que se distribuíram pelo espaço como lhes fez mais sentido; noutra ocasião, convidaram crianças a criar os seus próprios jardins. Ambos os episódios ajudaram a moldar a linguagem atual do espaço.
Ao entrar na Casa da Cerca, não pode deixar de reparar no dragoeiro (Dracaena draco), que passou para a entrada. De extrema importância histórica, este elemento vegetal fazia parte do dragoeiro com 200 anos que para ali foi transplantado, numa ação inédita de tentativa de preservação. Uma viagem extraordinária que também pode ser conhecida ao deambular pelo espaço.
Está aberta de terça a domingo, de forma gratuita, apenas com algumas limitações na entrada devido à pandemia. A programação é ainda complementada todos os fins de semana com atividades diversas, que podem ser encontradas, juntamente com outras informações relevantes, através do endereço: www.m-almada.pt/portal/page/portal/CASA_CERCA/
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