Conheçam a vida encantada dos ciclâmenes Morel.
Conheci-os por acaso o ano passado no Salon du Vegetal, em Angers, e fiquei imediatamente rendida a estes ciclâmenes. Tive agora oportunidade de ir visitar a sua produção a Fréjus, na Côte d’Azur, em França. Um ano feliz em que a Morel ganhou o prémio da AIPH[1] International Grower of the Year – Young Plants – Gold Winner.
A família Morel
A história desta família é fascinante, quatro gerações a produzir os ciclâmenes mais exclusivos e são os maiores especialistas em ciclâmenes de flor grande. Todos os anos lançam entre dez e 20 novas variedades para o mercado, têm uma equipa de oito a dez pessoas encarregues desse desafio. Héloïse Morel, bisneta do fundador da empresa, é uma delas, sendo também a responsável pelo contacto com os jornalistas e, neste momento, a única pessoa da família Morel que ainda está na empresa. Foi quem me recebeu e acompanhou nos dias em que pude aprender como tudo acontece nos viveiros Morel.
A história e a genética da família Morel confunde-se com a história e a genética das sementes dos ciclâmenes. Enquanto a Héloïse me guiava e me explicava todo percurso das sementes, desde que são recolhidas, secas, limpas, separadas (hoje em dia, por uma máquina sofisticada), dizia-me que antigamente a sua avó contava cada semente à mão em casa e, depois, colocava-as em pacotes para enviar aos clientes.
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Como tudo começou
A casa Morel começou, em 1919, com Pierre Morel. Em 1925, foi lançada a marca comercial de ciclâmenes Race Morel. Em 1930, Charles Morel começa a trabalhar com o pai e apresentam-se nas exposições em Lyon em 1945; os ciclâmenes Ch. Morel começam a ter um reconhecimento internacional.
Em 1970, estabelecem-se as primeiras estufas em Fréjus, e Guy Morel começa a trabalhar com o pai, pondo em prática métodos de seleção modernos, nomeadamente a hibridação F1.
Em 1989, comercializam-se as primeiras variedades hibridas F1 Morel as três gamas HALIOSâ, LATINIAâ, CHEOPSâ. Em 1998, é feito o lançamento das gamas MINI e METISâ; em 2003, surge a primeira variedade fantasia HALIOSâ VICTORIA.
Em 2008, Héloïse Morel entra para equipa e fica responsável pela transmissão do património genético; é a quarta geração Morel!
Em 2011, para dar seguimento ao trabalho de Guy Morel como hibridizador de novas espécies, entram para a equipa Céline Pesteil e Violaine Vanpouille. No ano de 2015, foi oficializada pelo Conservatoire des Collections Vegetales Specialisées (CCVS) a coleção nacional de ciclâmenes Morel com 280 variedades.
Em 2018, nasce a gama INDIAKAâ, ciclâmen bicolor MIDI. Obtenção da certificação MPS para boas práticas de sustentabilidade de produção de horticultura. Em 2019, a Morel fez 100 anos de seleção de ciclâmenes e 30 anos de híbridos F1. Em 2021, Éric Beaude é o novo diretor-geral. Em 2022, é criado um ciclâmen muito especial, o primeiro com aroma notável e intenso, o ABSOLUâ de MOREL, um VICTORIA MINI perfumado que é o meu ciclâmen favorito e que trouxe comigo na mala.
O segredo das sementes
De fevereiro a setembro, é feita a sementeira e desenvolvimento de novas plantas. De outubro a março, dá-se a floração das plantas mães e a seleção das melhores plantas pela equipa de investigação e melhoramento de plantas. Processo de hibridação por polinização manual para recolha de sementes na estação seguinte.
Primeiro, faz-se a chamada “castração das flores”, retirando a parte masculina e deixando só a parte feminina para não haver autofecundação da planta, que não se quer neste caso, depois faz-se a polinização manual, seleciona-se pólen de uma flor masculina e coloca-se na flor feminina. Fazem-se os cruzamentos para obter as cores e as variedades pretendidas, usando as plantas mãe e pai necessárias para o efeito.
De março a junho, dá-se a maturação dos frutos e a colheita é feita antes de começar o calor. As sementes são secas, limpas, calibradas, embaladas e são-lhes feitos testes de germinação para garantir que todas elas têm capacidade para germinar (de pelo menos 80%), sendo armazenadas pelo menos dois meses antes de serem vendidas, pois este é o período mínimo de dormência para garantir que vão germinar.
Os ensaios e as variedades
Nos meses de outubro e novembro, são feitos os ensaios experimentais de todos os híbridos comerciais, que são avaliados e comparados. São também colocadas as plantas no exterior, quer em vasos, quer no terreno, para se perceber o seu comportamento. Estes testes fazem-se há 15 anos. As plantas que têm um melhor desempenho no exterior têm uma etiqueta com essa designação.
Visitar estes ensaios e poder ver todas estas variedades, não só as novidades mas muitas das outras, todas juntas numa estufa, é algo absolutamente extraordinário.
Também aqui se podem ver plantas que, por não serem “tão perfeitas”, nunca irão chegar ao mercado, mas que são igualmente bonitas.
As cores, as formas, os tamanhos, as texturas e os aromas das 280 diferentes variedades são um espetáculo difícil de descrever e que merece ser visitado ao vivo e a cores.
Poder ver as 12 novidades deste ano, mas também as novidades do próximo ano e ainda algumas experimentações que não sabemos se alguma vez vão chegar ao mercado ou não é algo que adorei.
Ver as estufas das plantas mãe, o laboratório, a secagem, a embalagem, todo o processo, minucioso, preciso, para que as sementes tenham a melhor qualidade e para que as plantas sejam as melhores do mercado (aqui não pude tirar fotografias pois está tudo no segredo dos deuses).
Cada nova variedade demora sete a oito anos a chegar ao mercado; é um trabalho longo, que requer muito saber, perícia e paciência!
A estes ensaios vêm produtores de todo o mundo – enquanto eu lá estava, estiveram presentes uns da Argentina, na semana seguinte estava previsto chegarem mais do Japão, da China, da Alemanha, dos Estados Unidos. Todos são recebidos de forma fantástica, tudo está preparado.
A coleção de ciclâmenes Morel
Há seis séries de ciclâmenes, SMARTIZâ, METISâ, TIANISâ, MIDI+â, LATINIAâ, HALIOSâ, no próximo ano, haverá mais uma a MACARONâ e três tamanhos diferentes de flor, mini, midi e maxi.
Há ainda os INDIAKAâ, únicos com as flores com dupla cor, e depois muitas variedades de enorme originalidade: FANTASIAâ com as suas cores maravilhosas e as pontas das flores brancas, VICTORIAâ, com as suas folhas recortadas e pintadas de outro tom, CRISPINO MINIâ, com as suas folhas completamente recortadas e cores extraordinárias, os ABANICOâ, com a flor em forma de leque, os METALISâ, com as folhas prateadas, CURLYâ, com as flores completamente encaracoladas.
Temos ainda os especiais como o ABSOLUâ de Morel, o único ciclâmen com aroma verdadeiramente espetacular. O ORIGAMIâ, que encanta os japoneses, a flor não abre e fica com uma forma estranha que parece mesmo um origami. O FRIOLAâ, cuja flor é toda recortada, o PIPOCAâ, cujas flores parecem pipocas, e o BISOUSâ, que tem umas cores absolutamente deliciosas. Entre 280 variedades, escolher não é fácil.
Ensaios exteriores
Além das plantas alinhadas por tamanhos, cores e variedades, há ensaios no exterior. Existem ainda as zonas inspiradoras, com as plantas aplicadas em vários ambientes para que não faltem ideias de como estas maravilhosas plantas podem e devem ser uma festa, podem e devem ser a “primavera no inverno!”.
Lá fora existem três zonas: Garden Party, French Café e um ambiente inspirado na Toscana.
As novidades 2023
Este ano, são 12 as novidades:
Três ciclâmenes brancos (Mini e Midi)
TIANISâ Pure white evolution,
Plantas com muita procura no mercado. Plantas com um melhor performance, mais folhas, plantas maiores. Crescimento maior e mais uniforme.
METISâ White Chantilly
Planta muito compacta e com forma muito redonda. Cresce rapidamente no outono. Floração muito abundante.
SMARTIZâ Pure White Evolution
Tem um excelente contraste entre a folhagem e a floração, que começa cedo. Folhagem verde-escura.
Uma nova gama de plantas com as pétalas recortadas
METIS CRISPINOâ Mini, uma nova gama com nove cores vivas e pétalas recortadas. Floração excecional e uniforme no outono.
Quatro novos tons de cor-de-rosa
TIANISâ Rose à oeil, Rose clair oeil violet, Fucshia flammé e Fuchsia néon flammé.
Plantas de crescimento rápido e uniforme e floração com cores muito originais.
Um novo encarnado intenso
HALIOSâ Rouge satisfaction, esta é uma das cores que mais se vende, todos os anos se tenta encontrar o melhor encarnado.
Um novo tom para a gama
INDIAKAâ Ligth rose tem um novo cor-de-rosa para completar a gama. Dois tons que vão fazer um bom contraste com a folhagem verde.
Um ciclâmen bordeaux
TUXEDOâ Deep magenta, Chic & stylish, muito especial, com um bonito contraste de folhas e flores. Muito original e decorativo com uma folhagem igualmente diferente prateada.
Uma nova cor lavanda
HALIOSâ HD Lavender, uma cor muito apreciada pelo mercado italiano. Flores perfeitas e planta muito elegante. Muito resistente ao calor e ao exterior.
MACARONâ
Uma nova gama de ciclâmenes mini.
Uma variedade com uma forma muito arredondada e compacta.
Fácil de cultivar com seis cores: encarnado, branco, rosa-claro, magenta, cor-de-rosa, roxo.
Esta é uma grande novidade só para o próximo ano, mas está em pré-introdução este ano.
Em Portugal, os ciclâmenes Morel são produzidos por alguns produtores, o que é uma ótima notícia; um deles é a Teciplante, que neste momento está a produzir as seguintes variedades:
O Absolu de Morel, algumas variedades de Latinia Success, Crispino, Indiaka, Victoria 50 Rose à oeil, um dos meus favoritos, Midi + Abanico e Midi + Metalis. Poderá adquirir todas estas plantas em Portugal, e espero que nos próximos anos existam ainda mais variedades disponíveis.
Utilização dos ciclâmenes
São, por excelência as plantas, para dar cor e um toque de alegria a qualquer jardim, varanda ou terraço no outono e inverno, pois é este o seu período de floração. Ficam lindos sozinhos ou combinados com outras plantas baixas com flor ou apenas com folhagem como as Heuchera. Como não passam dos 30-35 cm de altura, são ótimos para fazer bordaduras baixas e para floreiras. Há de todas as cores e formas possíveis e com aroma maravilhoso, como o Absolu de Morel. Dão-se bem em qualquer tipo de substrato desde que seja bem drenado. Preferem uma meia-sombra, mas agradecem umas horas de sol de manhã ou ao final da tarde. Deve regar quando o substrato está seco, não deixar desidratar totalmente, mas não encharcar. Pode adubar mensalmente com um adubo orgânico líquido durante o período de floração.
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[1] The International Association of Horticultural Producers
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