Saiba mais sobre sistemas de cablagem e de escoramento.
O desenvolvimento dos exemplares arbóreos de idade avançada comporta muitas vezes ataques por partes de agentes abióticos, nomeadamente fungos que provocam podridões, bem como outras alterações estruturais provenientes de crescimentos mais ou menos anómalos. Estas anomalias resultam em deficiências da resistência biomecânica dos exemplares em causa, ameaçando assim a integridade quer de pessoas quer de bens patrimoniais existentes sob a projeção da sua eventual queda em caso de rutura do exemplar arbóreo ou de parte deste.
Escoramento da árvore
A presente intervenção de estruturação visa o aumento da resistência biomecânica do tronco dos indivíduos arbóreos em questão. Trata-se de uma operação de prevenção de ruturas de fendas e/ou de cavidades nos troncos.
Podemos contemplar duas técnicas principais: o uso de varões roscados que atravessam as zonas debilitadas substituindo-se assim ao lenho em temos estruturais; e o uso de abraçadeiras metálicas que, envolvendo o tronco acima da lesão, suprimem a carga sobre o lenho danificado.
Os varões a aplicar deverão possuir um diâmetro entre 12 e 22 mm, dependendo a sua dimensão e consequente carga da secção ou secções a tratar. Após a abertura de um orifício que atravessará de forma transversal toda a secção do tronco, é instalado um ou mais varões roscados, sendo aplicadas nas extremidades dos varões anilhas e porcas que garantirão a solidez estrutural do tronco. Estas anilhas metálicas, com diâmetro cinco vezes superior ao do varão, deverão ser revestidas a montante por materiais que não lesem o ritidoma do exemplar, por exemplo, borracha. As extremidades do varão não deverão ser demasiado curtas, pois deverão permitir a deslocação do conjunto de anilha e porca de forma a ser reajustado ao longo dos anos ao engrossamento do tronco, não devendo em caso algum ficar embutido no lenho.
Muitos exemplares arbóreos poderão possuir extensas cavidades, pelo que poderão ser aplicados varões cruzados a diferentes níveis. Nos casos em que as cavidades sejam de menores dimensões, poderá ser aplicado um varão roscado simples.
Em situações mais particulares em que a debilidade induzida pela cavidade é demasiado elevada para que a técnica anterior possa surtir efeito, é possível recorrer a uma técnica alternativa: a instalação de abraçadeiras metálicas. As abraçadeiras metálicas são compostas por dois semicírculos metálicos cujo diâmetro combinado deve ser ligeiramente inferior ao do tronco na zona de instalação. Estas duas metades serão unidas através de parafusos ou de varão roscado com porcas nas extremidades. Entre o ritidoma, ou seja, a casca, e o aro metálico dever-se-á instalar uma faixa de borracha de forma a evitar lesões no tronco. Esta abraçadeira será fixada a uma estrutura vertical, também metálica e paralela ao tronco, preferencialmente através de parafusos pois, futuramente, permitirá reajustes de acordo com o engrossamento do tronco, embora na verdade estes aumentos de diâmetros não devam ser significativos pois a idade da árvore não é compatível com grandes incrementos de madeira. Este conjunto composto pelo poste e pela abraçadeira transferirá para si uma parte muito significativa da carga exercida sobre o lenho comprometido estruturalmente, prevenindo desta forma eventuais ruturas.
Cablagem e escoramento de ramos
A intervenção em causa tem como objetivo o aumento da resistência biomecânica dos grandes ramos dos indivíduos arbóreos em questão. É, pois, uma forma de prevenção de ruturas de fendas e/ou de cavidades nos ramos.
Podemos igualmente contemplar duas principais técnicas: o uso de cabos dinâmicos que unem as zonas debilitadas dos ramos a uma zona estruturalmente saudável, havendo desta forma uma distribuição de cargas; e o uso de escoras instaladas sob a zona debilitada, ligeiramente a jusante, havendo neste caso transferência de cargas para o sistema aplicado.
A aplicação de cabos dinâmicos nos ramos tem como objetivo o aumento da resistência biomecânica das zonas da árvore onde se aplicam, permitindo, contudo, os seus movimentos naturais. Assim deve-se recorrer a estas operações de união entre ramos e tronco ou entre ramos e outro ramo sempre que se pretenda prevenir eventuais ruturas ao nível de órgãos da árvore. Os cabos a instalar deverão possuir um diâmetro entre 16 e 24 mm, dependendo do volume e consequente carga que os ramos evidenciem.
É possível distinguir duas formas de atuação. Uma das situações tratar-se-á de anomalias em ramos relativamente horizontais, sendo nestes ramos instalado o cabo, de forma a uni-lo ao tronco numa zona mais elevada ou, em alternativa, a um ramo superior. Assim a carga do ramo debilitado será maioritariamente suportada pelo órgão vegetal na outra extremidade do cabo dinâmico. A outra situação possível contempla ramos codominantes, mais verticais e que são estruturalmente débeis na sua união, sendo nestas situações instalados cabos que unam estes dois ou mais ramos para que as suas cargas se compensem mutuamente. A altura de instalação deverá ser sempre no último terço dos ramos, pois será onde o aproveitamento deste sistema de cablagem será maximizado.
Em ambos os casos, a instalação destes cabos dinâmicos baseia-se na passagem das duas extremidades do cabo em zonas distintas da árvore, ou seja, uma extremidade a jusante da secção anómala e a outra extremidade numa zona saudável da árvore. O cabo passará em redor do ramo, devendo a sua ponta passar pelo interior do próprio cabo de forma entrelaçada, pois, em situações de carga, o esticamento do cabo promoverá um estreitamento do seu diâmetro, apertando assim a ponta entrelaçada no seu interior, não permitindo o deslize desta parte do cabo. No local de contacto entre o cabo e o ritidoma são aplicadas uma faixa mais larga que o cabo e uma manga têxtil não abrasiva. Com os mesmos propósitos da cablagem, a aplicação de escoras nos ramos assume relevância sempre que a primeira não é viável, por exemplo, grandes ramos horizontais em que não existem pontos de sustentação mais elevados. As escoras metálicas a aplicar terão um diâmetro mínimo de 100 mm e uma parede não inferior a 4 mm, sendo que a sua dimensão dependerá da distância do ponto de sustentação (a jusante da secção debilitada) ao solo. A esta dimensão dever-se-á adicionar entre 60 e 100 cm, os quais deverão criar a base enterrada deste sistema. Os locais de contacto das escoras com o ritidoma deverão ser revestidos com material não abrasivo. Em exemplares a intervir com múltiplas e extensas podridões, poder-se-ão instalar escoras de apoio multiponto de forma a diminuir a carga sob um único ponto do ramo debilitado.
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