Na passagem do ano estive uns dias de férias em Bordéus e um dos sítios que mais gostei de visitar foi a Cité du Vin, um museu interativo absolutamente surpreendente para quem se interessa pelo tema, e para quem não se interessa também!
Se estiverem em Bordéus ou nas proximidades, não deixem de reservar umas boas horas para aqui passarem. Eu estive lá mais de duas horas e meia e pareceu-me pouco, mas fui a seguir ao almoço, no ultimo dia do ano e fiquei até à hora de fechar.
Tem 400.000 visitantes por ano e apresenta a cultura vitivinícola de uma perspetiva global, a sua vertente cultural, histórica, sociológica, patrimonial, paisagística, agrícola, civilizacional, universal, cobre todas as suas dimensões e é impressionante a diversidade e a amplitude de funções e dimensão da uva, do vinho, da vinha e de tudo o que representa na história da humanidade.
Neste local podemos “visitar virtualmente” produtores de vinhos de quase todas as partes do mundo, perceber as suas diferenças e ouvi-los na primeira pessoa. Desde Itália, Austrália, França, Espanha, Chile, China, Alemanha, Estados Unidos, Turquia, etc…
É um local que agrada a todos, profissionais, amadores, conhecedores, turistas e curiosos do tema. É impossível ficarmos indiferentes a tanta informação tratada de forma tão interessante, interativa, original, apelativa e divertida.
Ficamos a saber onde se bebe mais vinho em cada local do mundo (os franceses a liderar… e os portugueses bastante bem posicionados).
Visita virtual
Todo o acompanhamento da visita é feito com um audioguia que existe em inglês e francês e teria lá ficado sem sacrifício nenhum um dia inteiro!
São cerca de 3.000 m2 de exposição, uma loja com tudo o que podemos sonhar no mundo dos vinhos (para um apreciador de vinhos tem todos os gadgets que se podem imaginar). Há mais de 120 produções audiovisuais fantásticas, que nos levam por viagens no espaço e no tempo, por vinhas e caves em todo o mundo, pelos vários séculos e pela história do vinho nos vários pontos do planeta.
Num único espaço, organizado de forma eximia conseguimos ter acesso a múltiplas experiencias digitais, interativas e até participar em experiências sensoriais e imersivas surpreendentes.
Cada sala nos deixa mais maravilhados do que a anterior. Podemos assistir a peças encenadas com personagens da época, representadas por atores reais que nos falam da história do vinho com humor. No mesmo palco temos a contracenar Maria Callas, Voltaire, Churchill, e um apresentador de TV francês da atualidade.
Dinner is server
Numa das salas de que mais gostei e onde fiquei bastante tempo, sentamo-nos virtualmente à mesa com um chef premiado com estrelas Michelin que está a ser entrevistado por um(a) jornalista. É uma mesa de 4 pessoas e estamos ali, dois visitantes, o jornalista e o chef… é extraordinário… e vamos mudando de mesa e assistindo às conversas com vários chefs, mas sempre neste registo intimista.. como se estivéssemos à mesa com eles. Ele fala de comida, de vinho, da relação entre os pratos e os vinhos… uma delícia!
Ao longo da exposição podemos perceber as diferenças de paisagens vitivinícolas ao longo do mundo, quais as diferentes formas de produção, quais as que são património da Unesco com destaque para o nosso Douro e a Ilha do Pico nos Açores.
O buffet dos sentidos
Podemos ainda perceber como as diferenças de produção do vinho ao longo dos tempos, como evoluiu ou como começou o seu comércio internacional. Desde as primeiras tabernas em Londres, às primeiras viagens transcontinentais.
É muito interessante perceber a importância dos cinco sentidos, o aroma, o paladar, a visão, a audição, o tato, o chamado “buffet dos sentidos” onde podemos experienciar aromas de todos os tipos e apurar todos os sentidos.
Podemos ainda perceber os avanços tecnológicos e ver as adegas mais extraordinárias projetadas pelos arquitetos mais famosos do mundo.
Temos ainda a oportunidade de ouvir produtores e especialistas de todas as áreas de produção e de todas as partes do mundo, aprender como se processa desde a semente até ao engarrafar, passando pelo marketing, escolha da garrafa, fabrico do vidro, rótulo. Todo o processo que rodeia o negócio do vinho.
Nada foi esquecido, também há espaço para: a celebração do vinho no amor, no erotismo, na paixão, em como o vinho funciona nas relações, de tudo isto podemos aprender e absorver ao longo desta magnifica exposição, experimentação, que nos toca em todos os sentidos e não nos deixa indiferentes.
Loja, concept store
A loja e concept store também merecem bem uma visita, pois para quem gosta do tema, tem aqui tudo aquilo que pode desejar para usufruir em pleno dos seus vinhos.
Existe ainda um excelente restaurante panorâmico no 7º Piso que serve refeições desde o pequeno almoço até ao jantar. Com pratos de culinária regional e produtos locais, com uma carta de vinhos com uma seleção mais de 500 produtores nacionais e estrangeiros (com representantes de 50 países).
A Citê du Vin para além da Exposição permanente tem muitas vezes exposições temporárias, bem como espetáculos musicais, teatros, ciclos de cinema, masterclasses, etc. Tem ainda todas as quintas-feiras, às 18.30h, provas de vinhos que para quem gosta do tema é um programa a não perder .
Este é também um espaço inclusivo, uma vez que todo ele está preparado para que as pessoas com mobilidade reduzida o consigam visitar de forma autónoma. Também as crianças são bem vindas, embora a temática seja o vinho, há tours preparadas para elas e bebidas não alcoólicas para elas experimentarem.
Belveder – rooftop
No final da visita somos convidados a subir ao rooftop e a provar um dos vinhos da semana (fiquei muito surpreendida pois há cerca de 15 os que estão para provar diariamente e vão sempre mudando, e dos quais podemos escolher um…).
Acabar a visita a 35 metros do chão, com Bordéus aos pés, uma vista deslumbrante, poder escolher um vinho dos quatro cantos do mundo, ouvir a sua explicação e poder saboreá-lo depois daquela viagem pelo mundo dos vinhos, das uvas, da vinhas, dos produtores, é de facto a cereja no topo do bolo!
Acabei o dia 31 de dezembro de 2022, no rooftop da Cité du Vin em Bordeus a degustar um excelente vinho tinto de Saint Emilion, não me arrependi da escolha, pois há uns anos atrás estive também numa altura de passagem de ano na região de Saint Emilion e adorei.
Esta foi uma ótima forma de fechar com chave de ouro o ano 2022 e este é sem dúvida um espaço a voltar sempre que vier a Bordéus!
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