Dedica-se não só ao cultivo de centenas de espécies e variedades de catos e outras suculentas, mas também se inspira na forma e beleza particulares destas plantas para as recriar em croché. São peças muito criativas e que enchem a vida de quem conhece o seu trabalho de arte e uma paixão renovada por estas plantas maravilhosas.
Qual a paixão que surgiu primeiro: o croché ou a jardinagem e o cultivo de catos e suculentas?
Primeiro, veio a jardinagem e com ela a necessidade de dar vida à maior divisão da casa: o terraço. Um quadrado enorme de cimento e betão, mas com muito potencial e com uma vista fabulosa sobre a cidade de Leiria. Andava às voltas sobre o que fazer e encontro numa revista sobre ecologia uma frase que me marcou para sempre: “Make your own jungle”. Fazer a minha selva, mas com o quê propriamente, depois de algumas tentativas falhadas. Reparei que as únicas plantas que se aguentavam eram os catos e suculentas. Aí virou paixão, quando descobri a enorme variedade existente em cada um dos géneros, os catos com as suas fabulosas formas e o mundo das suculentas com os seus novos híbridos. Depois e só depois, veio o croché e a necessidade de dar destino aos inúmeros caixotes e caixas que recebi de herança. Cheios de linhas e lãs de todas as cores e espessuras. Deitar fora estava fora de questão sem sombra de dúvida. Um dia, sem querer, encontrei uma imagem de um cato em lã e foi aí que percebi onde queria gastar as lãs.
Criar peças em croché tão diversas, inspiradas na estética das plantas, é desafiante e ao mesmo tempo uma inspiração sem fim. Quando fez o primeiro cato em croché?
Comecei por volta de 2015, fiz yarn bombing primeiro com três árvores espalhadas pela cidade. Foi uma forma de voltar a aprender o croché depois de tantos anos parada. Nunca pensei que o primeiro cato saísse tão bem e perfeitinho. Foi o ponto de partida, nunca mais parei, uns atrás dos outros, porque a vontade de fazer coisas diferentes cresce. O bom da lã é que o produto final pode ser sempre diferente.
Tem partilhado esta sua arte e gosto pela botânica nas muitas exposições e feiras que frequenta. Como adaptou o ritmo de trabalho e contacto com os clientes durante o confinamento?
Nem sempre é fácil quando se tem um trabalho a tempo inteiro, e o croché é o hobby. O confinamento revelou-se produtivo, pois consegui fazer coisas novas, acabar encomendas. Orientei as coisas de maneira a ter material suficiente para as feiras e exposições. Durante o confinamento, tive alguns pedidos mais personalizados, mais pessoas a fazerem perguntas, tais como tamanhos, alteração de cores. Desde que haja lã, pode-se sempre personalizar ao gosto de cliente.
A cerâmica é uma arte que também aprecia e são tantos os exemplos de criações impressionantes que podemos vislumbrar no seu Instagram. O que a inspira na argila e na texturização que esta oferece ao espaço em casa?
Sobre a argila e a terracota, descobri que as plantas gostam mais destes dois componentes devido ao calor que o terraço apanha de verão e a humidade no inverno. As plantas acabam por gostar mais, o vaso não aquece tanto no verão e não congela no inverno. Aqui por casa tentamos levar uma vida mais ecológica em prol do ambiente, tratar o melhor possível do planeta em que vivemos. Uma planta pode ser a mais simples do jardim, mas, se tiver um bom vaso, passa a ser a rainha do sítio. Tenho a sorte de ter amigos, amigos daqueles habilidosos e com projetos interessantes que produzem vasos ou pots, como são chamados hoje em dia, tanto em argila como em terracota; juntos fazem a combinação perfeita entre planta e vaso. Eu aproveito e mostro o que de bom se faz por cá e mesmo lá fora. As plantas ficam muito mais interessantes sem serem dentro de um simples vaso de plástico igual a tantos outros. Eu costumo brincar dizendo que há quem leve a coisa a brincar e há quem leve a coisa a sério. Eu sou daquelas que levo a coisa a sério; se é para ter, é para ter em condições. No croché utilizo vasos em terracota e 100% portugueses, feitos em Guimarães, da EMBoutique uma marca de uma amiga. Assim aproveito para mostrar ao mesmo tempo dois produtos 100% portugueses e a minha jornada ecológica de acabar com o plástico e de tentar conseguir ter um terraço capa de revista.
Sabemos que vive rodeada dos seus cães e gatos, do croché e da cerâmica, das plantas e da energia acolhedora que todos estes elementos agregam. Defina o que é para si viver um dia em pleno no conforto do seu lar.
Não existe melhor sensação depois de um dia de trabalho do que chegar a casa e poder desfrutar dos meus animais e das plantas. Conseguir este espaço no meio da cidade não tem preço. Os gatos adoram andar no meio das plantas a descobrir coisas novas, os cães se puderem estragar alguma coisa ficam todos contentes. No terraço também vivem umas osgas e outros pequenos animais, sinal de que também se sentem seguros. Costumo dizer que é o meu cantinho do Céu. Ter este terraço é a minha maneira de tentar reduzir a minha pegada ecológica, a minha pequena retribuição ao planeta Terra. Fazer a minha própria selva, a escolha dos catos e das suculentas também não foi ao calhas; foi a pensar no futuro, plantas que necessitam ou aguentam mais dias sem água, o mundo xerófito é apaixonante.
O croché é uma arte e hobby que a maioria das pessoas nunca experimentou. É fácil começar? O que pode alguém esperar concretizar depois de aprender a técnica?
O croché para mim é uma técnica apaixonante, é relativamente fácil se quisermos ou pode ser uma técnica muito trabalhosa, conforme os pontos que optarmos por fazer. Acho muito relaxante e frustrante ao mesmo tempo. Quantas vezes já desmanchei e voltei a fazer a mesma peça até sair como eu quero. Depois de se aprender, queremos sempre fazer mais, fazer coisas novas, experimentar novos pontos. O meu conselho é que experimentem, nunca se sabe o que pode sair, talvez até gostem, o céu é o limite.