Frutícolas

Conheça a palmeira-leque ou Chamaerops humilis

Uma planta nativa da Europa, especialmente de Portugal e Espanha.

Nesta edição, vamos analisar uma palmeira que, ao contrário da maioria das que conhecemos, não tem origem exótica. Nativa da Europa Continental, e com especial ênfase em Portugal e Espanha. É a única espécie nativa de palmeira que ocorre espontaneamente na flora portuguesa. Cá, a sua distribuição é predominante nas zonas da Arrábida, da nossa costa sudoeste, bem como em todas as zonas da costa algarvia.

A Chamaerops humilis, também conhecida como palmeira-leque-europeia/ mediterrânea ou palmeira-anã-do-mediterrâneo é, conforme dissemos, uma das duas únicas espécies de palmeiras nativas da Europa continental, sendo a outra a Phoenix theophrasti (tamareira-de-creta) e tem como especial preferência zonas marítimas, onde pode formar densas zonas subflorestais quase impenetráveis devido ao seu porte arbustivo muito cerrado, propagando-se por germinação natural e por expansão dos toutiços.

Origem

Chamaerops deriva da junção de duas palavras gregas que têm como significado “arbusto” e “anão”, sendo humilis sinónimo, em latim, de “pequeno” ou “humilde”. A nossa palmeira deste mês é, conforme as suas congéneres, da família das Aráceas. No entanto é a única representante do gênero botânico Chamaerops, daí a sua especial relevância. Tem acrescido valor em projetos de carácter de recuperação ecológica na nossa flora nativa por ser uma espécie resistente à salinidade e às más condições do solo, cumprindo com mérito a função de fixação de terrenos para exercer proteção contra a erosão natural, formando densos aglomerados vegetais impenetráveis.

É resistente aos fogos florestais, sendo capaz de sobreviver em zonas repetidamente queimadas e desprovidas de outras arvores. Sobrevive, pois consegue renascer através de rizomas subterrâneos e de troncos danificados pelo fogo. Estas supercapacidades bem como a sua tolerância para solos fracos e condições atmosféricas extremas tornam a espécie ecologicamente importante na prevenção da erosão e desertificação, bem como no fornecimento de abrigo e alimento para muitas espécies de animais. Enquanto espécie ornamental, tem elevado valor paisagístico e, além da sua ocorrência natural em território continental, pode-se encontrar em muitíssimos jardins mediterrâneos e em plantações com interesse para horticultura ou para outros usos comerciais.

Interessa ainda salientar que a sua beleza e importância para o ajardinamento e paisagismo foi laureada com o Prémio de Mérito de Jardim da Royal Horticultural Society. O género Chamaerops está intimamente relacionado ao género Trachycarpus. No entanto, possuem algumas diferenças notáveis para os mais atentos. A maior diferença que as distingue deve-se ao facto de as palmeiras do género Trachycarpus tendencialmente não ramificarem ou aperfilharem, produzindo plantas arborescentes de troncos únicos, ao contrário da Chamaerops humilis, que produz densos toutiços altamente aglomerados quase impenetráveis, tendo um comportamento arbustivo, com vários caules a crescer a partir de uma única base. Isto é-lhe possível, ao contrário da maioria das palmeiras, por possuir um rizoma subterrâneo que produz brotos com folhas palmadas e esclerófilas.

Folhas adaptadas a longos períodos de seca e calor, muito resistentes e duras, couraçadas dir-se-ia mesmo, com a particularidade de a folhagem ser bipartida e de direção oblíqua em relação ao Sol, tornando-a uma espécie de palmeira de grande interesse ornamental para o jardim mediterrâneo. É uma palmeira de crescimento lento, sendo que as novas folhas crescem vagarosamente e muitas densas. Atinge alturas medianas de dois a cinco metros de altura com um diâmetro de tronco de 20 a 25 cm, conhecendo-se ainda assim exemplares incomuns em Marrocos com cerca de dez metros de altura!

A Chamaerops humilis é um exemplar de palmeira com folhagem disposta em forma de leque e, como tal, possui folhagem com pecíolos que terminam em leques arredondados de dez a 20 folíolos. Cada folha pode atingir até 1,5 m de comprimento, com folhetos de 50 a 80 cm de comprimento. Os pecíolos ou caules das folhas estão armados com numerosos espinhos afiados, semelhantes a agulhas, que servem de proteção ao centro de crescimento contra predadores e curiosidade de animais ruminantes.

Utilizações da palmeira

As folhas detêm múltiplas aplicações e são empregues para a produção de variados produtos artesanais tais como cestas, chapéus, vassouras e leques. A dureza das suas fibras faz com que ainda hoje seja utilizada para muitas aplicações especializadas e que necessitem de fibras altamente resistentes. Para trabalhos de artesanato mais finos, as folhas mais jovens e fechadas são previamente tratadas com enxofre para amolecerem e fornecerem fibras mais suaves, o que lhes dá uma maior flexibilidade de utilização. No centro da copa das palmeiras, podemos encontrar a sua zona meristemática.

Nesta palmeira em apreço, o seu palmito ou meristema é muito tenro e uma iguaria apreciada, pois são famosos os seus palmitos comestíveis. Essa sua vocação pantagruélica fez com que as suas populações naturais acabassem por ser extremamente pressionadas e ameaçadas devido à sua sobre-exploração. Para a obtenção do tão apreciado palmito, é necessário colher a gema apical da planta, que invariavelmente conduz à sua morte, pois as palmeiras apenas conseguem produzir novo crescimento pelo seu centro.

Polinização

No caso específico da Chamaerops humilis, a polinização pode ocorrer por duas vias. A primeira e a mais vulgar é feita por intervenção de insetos polinizadores, neste caso em concreto por ação de um gorgulho específico, ocorrente em todo o território mediterrâneo, que tem uma relação simbiótica com a palmeira; e, em segundo lugar, pode ainda ser polinizada pela ação do vento.

Crescimento e frutificação

Ao contrário dos troncos das árvores, o tronco das palmeiras, por norma, apenas com exceção em algumas espécies, não costuma engrossar a cada novo ano e mantém uma espessura uniforme após o mesmo estar formado e estabilizado em todo o seu comprimento. Tal deve-se ao que foi mencionado acima, pois as palmeiras apenas geram novo crescimento no topo do seu tronco, sendo o mesmo por norma aumentado pela base das folhas novas.

No caso da nossa palmeira, o tronco é cilíndrico, simples e pouco fibroso. A casca e a madeira não são diferenciados, é altamente dotada de um emaranhado de fibras e espinhos como medidas de proteção contra o clima e os predadores das suas folhas ou frutos.

Os frutos inicialmente são verdes e brilhantes, passando de amarelo-escuro a castanho-tabaco à medida que amadurecem durante os meses de outono. A polpa do fruto aí começa a emanar fortemente uma fragrância similar a manteiga rançosa altamente atrativa para os animais, que os ambicionam, e valorizam. Servem de alimento para a fauna onde cresce com enfase especial nos mamíferos carnívoros, da fauna mediterrânea nomeadamente o texugo europeu e a raposa.

Condições de cultivo

Em termos de preferências climáticas ideais, como não poderia deixar de ser, tem especial apetência para o clima mediterrâneo de onde é originária. Por norma, prefere regiões secas, com verões quentes e boa exposição solar. É extremamente resistente a geada, e a frio intenso, até 10ºC abaixo de zero. É uma das palmeiras mais resistentes ao frio, com utilização em paisagismo em climas temperados. Possui ainda elevada resistência à salinidade, sendo perfeita para incluir em jardins expostos a ambientes costeiros e ventos salinos.

Não é apreciadora de humidade, resultando daí uma dificuldade na sua manutenção em climas tropicais/subtropicais ou insulares como é o caso da Madeira e dos Açores. No que concerne às suas necessidades de solo, não é exigente, sendo efetivamente bem-sucedida em terrenos muito pobres, secos e pedregosos; idealmente prefere solos com um pH básico, com maior pendência para a alcalinidade, ou seja, um solo calcário, amplamente encontrado em território nacional.

É também altamente adaptada e resistente à escassez de água, estando perfeitamente adaptada a receber muito pouca água, podendo passar por vezes semanas ou meses inteiros sem qualquer chuva. É também vulnerável a ataques de uma espécie exótica invasiva de traça sul-americana, a Paysandisia archon, que tem um comportamento similar ao do conhecido escaravelho, dado que as suas larvas se alimentam do meristema da palmeira.

Curiosidades

São conhecidos e reconhecidos pelo menos três cultivares:
Chamaerops humilis var. humilis ‘Nana’
Chamaerops humilis ‘Vulcano’
Chamaerops. humilis ‘Stella

C. humilis ‘Vulcano’ é nativa de altas elevações das montanhas do Atlas, possui folhas azuladas/prateadas. As folhas tendem a ser mais grossas, e a aparência da planta é mais espessa e foi recentemente introduzida no comércio – os primeiros relatórios indicam que pode ser 12 ou mais graus Celsius mais resistente do que o cultivar original.

Poderá Também Gostar