Entrevistas

Conheça a Rita Kapa, criadora de cerâmica orgânica

Criadora de cerâmica orgânica que há mais de uma década desenvolve peças de autor.

Os seus projetos, inspirados em formas naturais e anatómicas que observamos nas plantas, na Natureza e na parafernália que simboliza a vida, são fruto de uma conceção esteticamente muito bucólica e familiar, mas que ao mesmo tempo é preenchida de tons e curvas com expressão artística mais contemporânea.

Houve alguma peça cujo significado e sensação sentidos que a tenha levado a ver na cerâmica a arte da sua vida quando a fez?

Sim. Durante uma caminhada na costa vicentina, encontrei uma vez uma raiz em forma de coração que me levou a fazer os meus “corações”, que são das peças que mais têm a ver comigo. No entanto a minha paixão pela cerâmica é algo que foi crescendo gradualmente através da prática e da tomada de consciência de que o barro, com as suas características plásticas e orgânicas, e materiais primordiais da Natureza me dão a oportunidade de me exprimir de uma forma única que antes não conhecia.

Sente uma atração especial pela estética natural e as formas orgânicas que tanto nos tocam por serem quase vivas ao nosso olhar. Como evoluiu o seu estilo desde que começou a criar?

Foi tudo evoluindo naturalmente. A prática foi-me sempre conduzindo a uma estética orgânica e (im)perfeita como aquela que existe na Natureza e sobretudo no mundo vegetal. Quando começo uma nova peça, parto sempre de uma ideia original, mas na realidade nunca sei como será o resultado final. Isto porque deixo que a minha intuição e as minhas emoções me levem a esse mesmo resultado. O meu trabalho, sendo manual, faz com que duas peças nunca sejam iguais. A cor que as peças ganham ao serem vidradas é também um elemento imprevisível e fundamental que dá vida ao que faço. Na verdade, quando tiro uma peça do forno, nunca sei exatamente se o resultado corresponde ao que tinha em mente. Já tive por isso muito boas e algumas más surpresas.

Os tempos de quarentena frustram qualquer um, mas, enquanto ceramista e criativa, considera que tem vivido esta fase de forma mais prolífica ou, pelo contrário, mais estagnada?

É uma pergunta difícil. No primeiro confinamento, criei muito trabalho com grande ímpeto devido ao facto de estar sempre fechada em casa, no meu estúdio. Publiquei muito desse trabalho e tive um número muito grande de pessoas interessadas e de encomendas. No segundo confinamento, senti um grande cansaço como toda a gente e o meu ímpeto diminuiu um pouco. Trabalhei mais para cumprir os meus compromissos do que propriamente pelo gosto de criar coisas novas. Mas tenho de admitir que este período foi de alguma forma uma oportunidade de crescer. As plantas, a sua beleza e as tonalidades do reino vegetal estão muito presentes no seu trabalho.

A jardinagem é para si um hobby importante?

Muito importante. Aprendi a gostar de plantas e a querer cuidar delas através da minha avó, que adorava jardinagem. Ao longo dos anos, tenho vindo a dedicar cada vez mais tempo a cuidar das minhas plantas. Refiz agora inteiramente o antigo jardim da casa dos meus avós em Sintra, depois de uma grande restruturação que fizemos na casa. Replantei e criei inúmeros canteiros com espécies autóctones, plantei árvores, fiz novas sebes, instalei um sistema de rega do qual estou muito orgulhosa e recriei o jardim de catos que existia antigamente no tempo dos meus avós. Foi um prazer imenso faze-lo e ainda há muito para fazer.

Porque a arte cresce quando é apreciada, mas mais ainda se for transmitida e ensinada aos demais, que palavras de inspiração diria a quem tenciona experimentar a cerâmica?

Diria que quem quiser experimentar não hesite. A cerâmica pode ser muito terapêutica e é uma excelente forma de nos abstrairmos das nossas preocupações e de vivermos a alegria de criar algo com as nossas próprias mãos. A cerâmica começou para mim por ser um hobby e com o tempo tornou-se uma minha grande paixão.

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