Jardins & Viagens

Conheça em 30 minutos as Quintas da EN 377-1: Cacilhas à Costa da Caparica e à Trafaria

Trinta minutos a descobrir um continuum de quintas e paisagens de Almada, que se construíram ao longo de uma estrada real, que, na primeira metade do século XX, é batizada de Estrada Nacional 377-1, entre as panorâmicas de Lisboa, os planos de água do Mar da Palha, a silhueta da Arrábida e o horizonte infinito do oceano. Atualmente substituída por uma rede viária alternativa, a antiga estrada nacional ainda lá está e permanecem as quintas, com muito do investimento de gerações de famílias nobres e burguesas, que aqui desenvolveram uma paisagem de produções agropecuárias e horto-frutícolas num ambiente de recreio e lazer de arte e jardins, de inspiração para escritores pintores e poetas, para oportunos encontros amorosos, para pactos políticos ou para firmar lucrativos negócios.

Memórias da EN 377-1

As quintas, que foram o centro daquelas paisagens rurais, e desde séculos o destino de veraneio predileto da capital, atraem-nos até hoje. Conhecemos bem as intermináveis filas de trânsito a caminho do areal da Costa da Caparica, hoje sobrevoamos o Tejo quando circulamos no tabuleiro da ponte e lá vamos pela via rápida para a costa, mas nada disso era assim ainda há escassos 50 anos, antes da inauguração da ponte 25 de Abril, em 6 de agosto de 1966; todo o movimento de trânsito passava pela velhinha estrada nacional 377-1, tortuosa e medieval, entre muros altos, uma multidão de veraneantes em transporte próprio e nas carreiras das camionetas de transporte público, rumo à praia. A estrada era um palco onde todos eram protagonistas e espectadores de um interminável desfile de portões ladeados de colunas de pedra lavrada, brasões de nobres famílias, azulejos com toponímia e santos protetores, janelões gradeados e emoldurados por trepadeiras coloridas, as latadas de roseiras-de-santa-teresinha e de videiras de uva de mesa com grados cachos das variedades de “Dedo de Dama” ou de “D. Maria”, um extraordinário desfile de perfumes, cor, arte e mistério. Perguntamo-nos… e hoje? Será que tudo desapareceu?

… LUÍSA RECEBEU, NA MANHÃ SEGUINTE, DA PARTE DE SEBASTIÃO, UM RAMO DE ROSAS, MAGENTA-ESCURO, MAGNIFICAS. CULTIVAVA-AS ELE NA QUINTA DE ALMADA, E CHAMAVAM-SE ROSAS D. SEBASTIÃO

in Primo Basilio ,
Eça de Queiroz, 1878

Casquilho e rua das quintas

É agosto, mês de veraneio de campo de praia, de nos extasiarmos com a vida para lá da cidade e – porque não? – rumar à outra banda, partir à descoberta desta estrada e das suas quintas a pé, de bicicleta de carro, de elétrico rápido ou de autocarro e de barco. Em pouco mais de 15 quilómetros, entre Cacilhas e Trafaria, experimentamos uma variedade de ambientes urbanos e rurais vivos, habitados e desafiadores, onde constatamos a resiliência e a herança destas quintas, a riqueza paisagística e arquitetónica, mas também a extraordinária diversidade de situações de oferta de espaços de recreio e lazer, de formação profissional, de espiritualidade, voluntariado e evangelização, entre zonas suburbanas carentes, problemáticas, mas criativas. São soluções que se harmonizam com o património das quintas, pondo em contacto passado, presente e futuro, suporte de gerações e comunidades a percorrer os caminhos do século XXI.

… Nossa Senhora do Monte da Caparica, do largo da torre do conde à Trafaria

Na única colina deste percurso surge o altaneiro campanário e o núcleo histórico de Nossa Senhora do Monte da Caparica, um pequeno núcleo,em atual programa camarário de reabilitação urbana, com culto ancestral e igreja sagrada no século XV. A descida conduz ao troço rural por excelência desta antiga estrada das quintas, que no largo da Torre do Conde bifurca para a Trafaria e Porto Brandão. Apesar do núcleo universitário da Universidade Nova, a paisagem rural surge ainda hoje praticamente intacta, sentimos o campo e as panorâmicas que se dividem entre as monumentais vistas panorâmicas sobre lisboa e as vistas oceânicas; a diversidade de situações paisagísticas é a palavra de ordem.

Esse mundo de descoberta está lá, com hipótese de o percorrer de uma forma circular, ligando a travessia pela ponte até à estação Fertagus do Pragal ou por Cacilhas com a travessia de cacilheiro; de Metro de superficie e autocarro, é possivel um acesso pontual e circular até ao embarcadouro da Trafaria e regressar a Belém de barco nos Ferries da Transtejo.

CONTACTOS:

Câmara Municipal de Almada
Ar.Co – Centro de Arte e Comunicação Visual
Paróquia de S. Francisco Xavier de Caparica
Associação de Arqueologia de Almada
Junta de Freguesia Caparica Trafaria

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