A planta mais usada para o tingimento natural pela indústria têxtil antes das cores sintéticas foi a do género Indigofera spp, o qual compreende mais de 200 espécies, entre variedades nativas e cultivadas, distribuídas pelo continente africano, sul da Ásia, América tropical, Europa e, principalmente, Índia. Em Portugal, nunca a encontrei nativa, apenas de cultivo.
No passado, muitos uniformes de soldados eram tingidos de azul com essa planta, por possuírem propriedades antibacterianas e auxiliarem
na cicatrização de feridas. Também já vestiu samurais e, de acordo, com registos recentes, foi usado em múmias.
Com o desenvolvimento do mercado sustentável têxtil, o índigo volta a ser empregado em muitas técnicas artesanais de tingimento como batik, tie-dye, shibori, entre outras.
Cada vez mais os consumidores podem escolher uma alternativa biodegradável, natural e que reduz o uso dos químicos, o que não acontece no caso da produção sintética. A origem dessa cor também é fonte de cultura e está presente na tradição de muitos povos através de lindos tecidos realizados como verdadeiras obras-primas. Quando a mão toca o banho de tintura azul, está em contacto com toda a linhagem de sabedoria ancestral orquestrada pela Natureza.
Aplicação no tingimento natural
O componente essencial encontrado em plantas tintureiras do género Indigofera é a indigotina. Através da fermentação das folhas e quando
se atinge um pH alcalino, a cor azul aparece após a oxidação.
Em todas as formações que já ministrei, a última parte da oxidação é onde se ouvem os “uau” dos participantes. Isso porque se vê o tom de azul assim que a peça recém-tingida de índigo entra em contacto com o ar por completo. Esse processo “mágico” acontece aos poucos, assim que a cor se revela à medida que respiramos. Respirar representa um traço do tempo, necessário para obter uma cor mais intensa a partir de mergulhos sequenciais.
A fermentação exige paciência, principalmente porque eu uso uma receita ancestral que envolve a redução com frutose. Esse processo lento e afetuoso faz nascer do encontro da terra (planta), água (essencial na receita), ar e fogo (temperatura da fermentação).
A planta usada nas minhas receitas é de cultivo familiar e orgânico.
Relação psicoexistencial
As plantas do género Indigofera representam um poder de transformação e grande capacidade de dar vida após a morte, esta última devido ao facto de a cor ser extraída por fermentação, ar.
A cor azul é representada por muitos deuses da religião hindu, também corresponde ao sexto chacra, que é situado entre as sobrancelhas. Está ligado às capacidades intuitivas e à perceção subtil.
O impulso curador e transformador refletido na peça de tecido natural tingido por essa planta auxilia a harmonização e a regularização entre omcorpo etéreo e o corpo astral.
A quem se dirige
Aconselho o uso dessa planta através do tingimento natural a todas as pessoas em que o espiritual e o material estão bloqueados e fermentam no desconhecido do ser. As pessoas que possuem dificuldade de desapegos tornam-se aquilo a que estão apegadas. Encarcerando
no físico a matéria.
O processo de transformação da cor dessa planta ajuda a abertura de dilemas relacionados com o tempo, onde o mental e o coração se unem
em simbiose, e o passado e futuro aconselham-se no presente.
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