Entrevistas

Dia Nacional dos Jardins

gulbenkian

Jardim da Fundação Calouste Gulbenkian, obra de Gonçalo Ribeiro Telles e António Viana Barreto que é um marco na Arquitetura Paisagista em Portugal.

 

Em memória de Gonçalo Ribeiro Telles, o jardineiro do Reino da Natureza.

 

A instituição do Dia Nacional dos Jardins a 25 de maio, dia do nascimento do arquiteto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles, foi aprovada pelo Parlamento a 16 de setembro de 2022 com o objetivo de celebrar a importância destes espaços e o legado de Ribeiro Telles na proteção do ambiente, na defesa da paisagem e na promoção da qualidade de vida dos cidadãos. Este foi o resultado da petição feita pela turma 10.º L (à data) do Agrupamento de Escolas Manuel Teixeira Gomes, em Portimão.

Nesta conversa, falamos com o professor responsável, Carlos Café, e com os alunos para saber como um projeto escolar consegue alcançar uma dimensão geográfica e simbólica tão grande.

 

Como surgiu a ideia e em que contexto?

Carlos Café: A ideia surgiu numa aula de Filosofia. Gonçalo Ribeiro Telles tinha falecido uns dias antes e apresentei-o como um exemplo de um “herói” do nosso tempo, enquanto ouvíamos o tema Heroes, de David Bowie. Escrevi no quadro a frase “We can be heroes just for one day” e lancei o desafio à turma: querem fazer um trabalho tradicional ou criar alguma coisa que faça de vocês “heróis” e ajude a mudar o mundo? 

 

Os alunos já conheciam a figura de Gonçalo Ribeiro Telles e o seu legado? Em que aspetos é que esta jovem geração se revê no seu discurso?

Alunos: Não, não conhecíamos, mas, após o professor Carlos Café nos dar a conhecer a figura de Gonçalo Ribeiro de Telles, fizemos várias pesquisas e ficámos interessados no seu trabalho, uma vez que tornou o mundo mais belo, com as suas obras e com mais espaços verdes.

 

Como foi o processo entre ter uma ideia dentro da sala de aula e levá-la ao Parlamento?

Carlos Café: Foi longo, imprevisível e fascinante. Longo, porque se iniciou em novembro de 2020 e terminou com a aprovação por unanimidade na Assembleia da República a 16 de setembro 2022. Imprevisível, porque foi ganhando dimensões com que nem sequer sonháramos. Fascinante, porque criámos uma “onda” em torno da figura de Gonçalo Ribeiro Telles que veio a traduzir-se na criação de um dia nacional em sua homenagem.

 

Alunos e professor durante a filmagem do vídeo de divulgação da petição, na Piscina Atlântica da Prainha, Alvor, uma obra de Ribeiro Telles.

 

Houve envolvimento da comunidade escolar?

Carlos Café: Sim, e não só. Poder-se-iam descrever as “vagas” do processo assim: começou na sala de aula, passou ao atrium (a escola), saltou para a ágora (a comunidade e a cidade) e “desaguou” no país. Nesta “viagem”, os alunos puderam descobrir-se a si próprios como estudantes, pessoas e cidadãos, deixando a sua marca no país. 

 

Na petição, os jardins são vistos como a síntese de vários valores. Quais?

Carlos Café: A espontaneidade das plantas, a geometria dos canteiros de flores, a ligação aos animais, o culto do convívio entre as pessoas e, principalmente, o respeito e o amor à “Casa Mãe” que é a Natureza.

 

Qual foi o envolvimento dos alunos durante o processo e como viveram esse desfecho feliz de verem o seu projeto aprovado?

Alunos: O nosso primeiro passo foi criar um nome para o projeto e pensar como poderíamos homenagear Gonçalo Ribeiro de Telles. Criámos páginas em redes sociais, que permitiram que a petição chegasse a mais pessoas e conseguíssemos mais assinaturas. Graças ao feliz desfecho, fomos recebidos e homenageados no salão nobre pela presidente da Câmara Municipal de Portimão, Isilda Gomes, que nos felicitou pelo nosso projeto e se mostrou orgulhosa por ter começado em Portimão e por ter sido criado por alunos. Além disso, a Câmara permitiu que batizássemos o novo jardim em construção junto à nossa escola com o nome do arquiteto.

 

Os alunos têm consciência da importância e do significado por trás da instauração deste dia?

Alunos: Sim, mesmo antes de decidirmos criar o projeto, tínhamos noção da grande importância de cuidar do ambiente e da existência de espaços verdes para o bem do planeta. Com este projeto e a instauração deste dia, queremos mostrar à comunidade que pequenas ações fazem uma grande diferença e, se cada um contribuir um bocadinho, o planeta e o mundo ficam melhores.

 

Como vão celebrar o primeiro Dia Nacional dos Jardins?

Carlos Café: Esse é outro desafio entusiasmante, em que estamos já a trabalhar. Gostaríamos que as celebrações oficiais do primeiro Dia Nacional dos Jardins se realizassem em Portimão e estamos certos de que a Câmara irá promover isso.

Quanto a nós, estamos a programar diversas atividades para esse dia, na escola e nos jardins da cidade. Como referíamos no texto da petição, “sonhamos com um dia especial, em que as crianças mais novas vão passar a manhã a brincar à apanhada, a andar de baloiço ou a jogar à bola, um dia especial, em que as aulas sejam dadas ao ar livre, nos jardins das escolas e nos jardins e parques das vilas e cidades”. Nesse sentido, vamos organizar vários eventos ao ar livre, como palestras e debates (formais ou informais), e momentos que cruzem harmoniosamente o amor à Natureza e aos jardins com a filosofia, a arte, a música e a poesia.

 

Releia a entrevista a Ribeiro Telles.

 

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