Revista Jardins

Edição Especial “Flower Power”: Francisco Castello Branco

Engenheiro agrónomo e sócio-gerente da Viplant desde o início, conta-nos como surgiu a ideia de produzirem plantas ornamentais em Portugal, numa época em que muito poucas empresas o faziam.

Como e quando nasceu a empresa?

A Viplant nasceu, há 32 anos, pela mão de dois grandes amigos, José Mexia e eu próprio, que sentiram necessidade de adquirirem plantas para uma firma de construção de jardins que possuíam em conjunto. Na época, a produção de plantas ornamentais em Portugal era quase nula. As poucas plantas que apareciam no mercado tinham preços absurdos pelo que depressa nos apercebemos que era negócio vender os excedentes, nascendo assim a Viplant.

Qual a localização geográfica e área de produção?

A produção iniciou-se numa propriedade localizada em Paderne, Algarve, que pertencia à família de José Mexia. Inicialmente, numa área muito reduzida, foi aumentando aos poucos, à medida do mercado. O verdadeiro salto deu-se com a Expo 98, que deu oportunidade ao sector de iniciar o contacto com o exterior e abriu novos horizontes. Foi um grande avanço tecnológico.

Mas esta oportunidade também foi aproveitada pelos espanhóis cujo sector estava num estágio semelhante ao nosso. Passámos a ter de lidar com a concorrência, o que até certo ponto foi benéfico, pois incentivou o aperfeiçoamento das técnicas de produção. A crise financeira de 2008 obrigou a uma restruturação profunda da empresa, voltando-a para a exportação.

Foi necessário alterar produções, melhorar técnicas e aumentar e melhorar estruturas. Atualmente, a área produtiva, que ocupa cerca de 30 hectares, está distribuída por três viveiros sendo sete hectares de estufas .

Quantas pessoas trabalham na empresa permanentemente e sazonalmente?

Colaboram connosco entre 90 e 130 pessoas, dependendo da época do ano, visto a atividade de produção ser uma atividade muito sazonal.

Esta é uma atividade sazonal ou conseguem ter produção ao longo de todo o ano?

A época por excelência de comércio de plantas é a primavera (março, abril e maio). Esta sazonalidade é particularmente agravada na componente de exportação, que se restringe praticamente a estes três meses e representa 75 por cento da produção.

Qual o tipo de plantas que produzem?

Estamos especializados em produzir plantas em vaso. Plantas tipicamente mediterrânicas. Produzimos cerca de um milhão de plantas muito variadas, em que destacamos aromáticas, como Lavandulas, Rosmarinus, sálvias; plantas para sebes, como eugénias, Metrosideros, Nerium; arbustos variados, como Calistemon, Pittosporum nana; suculentas; herbáceas e trepadeiras, caso do jasmim, buganvília e dipladénia. Esta última (dipladénia), embora seja uma planta pouco conhecida no mercado nacional, é a nossa planta best seller de exportação. É uma planta que vale a pena introduzir em Portugal. Substitui a buganvília com floração intensa e de cores variadas, mas não faz o “lixo” que normalmente a buganvília faz.

A produção de plantas destina-se ao mercado nacional, para exportação ou ambos? Quem são os maiores compradores das vossas plantas a nível nacional e internacional?

A grande maioria da nossa produção destina-se ao mercado de exportação, sendo os nossos clientes distribuidores e grandes grupos de garden centers, nomeadamente na Holanda, França, Alemanha, Inglaterra, Bélgica, Dinamarca, Áustria, Suíça e Espanha.

Os restantes 25 por cento são vendidos em todo o País de norte a sul em garden centers, hotelaria, empresas de construção de jardins, câmaras municipais, bem como nos nossos próprios garden centers.

Têm alguns pontos de venda direta ao público das vossas plantas?

A Viplant possui dois garden centers vocacionados para a venda ao público, sendo um localizado em Oeiras e outro no Algarve, junto a Vilamoura.

Nos nossos Gardens vendemos a nossa produção, bem como plantas de outros produtores nacionais e de toda a Europa. Também vendemos todo o tipo de artigos e acessórios ligados à decoração de interiores e exteriores.

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Qual o impacto económico e social que a pandemia de COVID-19 causou neste sector, uma vez que atingiu a época de maior produção e comercialização de plantas?

A pandemia de COVID-19 afetou o sector de plantas ornamentais “em cheio”, podemos dizer, visto março, abril e maio serem precisamente os meses de maior faturação, que chega a ser de 90 por cento no caso de exportação.

Esta situação tornou-se especialmente grave, pois, além da ausência de faturação, os viveiros tiveram de lançar a produção que vai ser vendida em 2021.

O trabalho não pode parar, não podemos recorrer ao lay-off ou a despedimentos, sob pena de não aprontarmos a produção de 2021, o que seria muito mais catastrófico.

Como é que vê o futuro deste sector tão importante para a sociedade portuguesa, quer em termos económicos quer em termos sociais, pela criação de emprego e pela ocupação de solos de forma produtiva em zonas muitas vezes deprimidas economicamente?

Embora tratando-se de um bem não essencial, as plantas ornamentais estão ligadas à qualidade de vida das populações.

Para quebrar a agressividade das cidades, há cada vez mais oferta de espaços de lazer ao ar livre, a tentar trazer alguma ruralidade ambiental. Também as pessoas cada vez mais usufruem de varandas, pátios e jardins, pelo que o consumo de plantas está com uma tendência crescente.

Detrás desta revolução ambiental está todo um sector que cria riqueza e é gerador de empregos. A mão de obra continua a ser um fator de produção muito importante na produção de plantas. Grande parte das tarefas não são mecanizadas pelo que os viveiros têm de ter níveis de empregabilidade muito elevados.

Também a preocupação com a não poluição está sempre presente nas novas tecnologias adotadas. O uso de luta biológica em substituição dos pesticidas químicos é uma técnica corrente em todos os viveiros.

Quer deixar alguma mensagem ou apelo aos leitores da Jardins em relação a este sector, uma vez que são consumidores de plantas?

Ao comprar uma planta, lembre-se que houve toda uma equipa que se esforçou para que este momento de prazer possa ter acontecido.

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