Revista Jardins

Faruk Ismael e a Quinta Beija Flor

 

Em território de antigos mangais, nada nos indica nem nos prepara para o impacto de descobrir um oásis paradisíaco.

 

Em Maputo, Moçambique, durante umas férias de Páscoa e uma visita à família, fomos surpreendidos pelos jardins desta cidade, alguns remontando ao século XIX, mas foi o acaso, ao tomarmos conhecimento de uma quinta notável, algures na Costa do Sol, que nos moveu para partirmos à descoberta do que nos prometiam ser uma experiência única para um paisagista envolvido no património dos jardins com histórias.

 

A Quinta Beija Flor

 

 

Num território da periferia urbana de Maputo, a cerca de 20 quilómetros a nascente do centro da cidade, no bairro periférico de Mahontas, encontramos uma faixa de terrenos férteis e com água abundante, ainda hoje com funções agrícolas, que acompanham a linha de antigos mangais, onde os planos diretores e de ordenamento urbano da cidade desenharam a chamada Costa do Sol, uma marginal de praias ao longo da orla estuarina e costeira de Maputo.

Neste território de antigos mangais reclamados para quintas de produção agrícola e horto frutícola, nada nos indica nem nos prepara para o impacto de descobrir um oásis paradisíaco neste território plano com vedações de sebes que delimitam as propriedades em parcelas retangulares.

É num desses retângulos de sete hectares, e no que foi uma antiga produção de bananas que inusitadamente surge em todo o seu arrojado projeto a Quinta Beija flor.

 

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Faruk Ismael e um sonho tornado realidade

 

 

O autor deste projeto e proprietário, Faruk Ismael, desde a sua juventude que é um apaixonado por arte, integrou a equipa técnica da HCB, empresa de desenvolvimento do empreendimento hidroelétrico da barragem de Cahora Bassa, no Togo, onde foi desenhador de projeto de construção. Concebeu jardins, pesquisou e cultivou a flora tropical. Mais tarde, em Maputo, trabalhou em design gráfico e viveu na cidade onde cultivava plantas num pequeno espaço ajardinado da sua casa.

O falecimento dos pais conduziu-o para uma outra dimensão na conceção de jardins e proporcionou-lhe tornar realidade o sonho de construir um grande parque paisagista tropical, na antiga quinta agrícola, com o objetivo de construção de uma paisagem erudita, única onde pudesse expressar a sua visão do paraíso.

Iniciou-se assim, há cerca de 40 anos, essa obra hercúlea, construir do nada, desenhar, escavar, rasgar, modelar e plantar centenas de espécies da flora tropical, mas tudo segundo a linha diretora de um plano, de construir um grande parque que denota várias influências, mas onde se destaca uma influência do estilo naturalista tropical, onde vislumbramos algo que nos recorda as obras de Burle Marx.

O parque organiza-se através de alamedas com longos pontos de fuga emoldurados por árvores notáveis de dimensões monumentais, Ficus de raízes escultóricas, acácias rubras de folhagem delicada e floração escarlate, majestosos renques de palmeiras reais, a verticalidade das Araucaria columnaris e um sem-número de arbustos e de herbáceas de onde se destacam as gigantes Strelitzia nicolai, as palmeiras-arecas e
arruamentos atapetados com relva, que criam uma estrutura de circulação para recreio mas também para apoio e manutenção.

Foram escavadas valas de rega e drenagem que alimentam os vários lagos que culminam num gigantesco lago central. E tudo subordinado aos planos de plantação onde Faruk Ismael exercitou todo o seu conhecimento da flora tropical. O projeto esculpiu com as formas, as cores e as texturas das plantas todo um percurso de cenários que nos surpreendem, escalonados para proporcionar momentos de contemplação de meditação mas também de descoberta, surpresa e espanto, só possíveis de experienciar durante uma visita à Quinta Beija Flor.

Tudo culmina na horta ajardinada, onde convivem com florações de época as produções de mandioca, papaia ou os talhões de cebola e batata, que nos transportam para o usufruto da ruralidade do espaço e dos seus ciclos.

 

O Projeto

 

 

A quinta divide-se em três zonas que se interligam de uma forma fluida e natural:

 

Viveiro, eventos e produção

 

 

Atualmente, ao prazer que proporciona aos seus proprietários, familiares e amigos, a Quinta Beija Flor está disponível para eventos, uma fonte de rendimento que contribui para a sua manutenção, em conjunto com a produção hortofrutícola, a produção de plantas ornamentais, nas estufas e viveiros. A quinta, como empresa de construção e manutenção de jardins, contribui para a jardinagem dos espaços verdes da cidade, privados e públicos, caso do Jardim dos Cronistas, no bairro Sommershield, construído nos anos 1960 e recentemente reabilitado e mantido, um exemplo da função dos jardins no quotidiano e na qualificação do ambiente urbano.

 

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