É impossível ficar-se indiferente à floração exuberante destas maravilhosas árvores que transformam a cidade com o seu tom lilás.
Falar de Lisboa, dos seus encantos, da sua luz, das tradições com cheiro a sardinhas e a marchas populares, com arraiais e noivas de Santo António, com elétricos a subir e a descer colinas, com turistas embasbacados de tanto charme. Falar de Lisboa é falar também de árvores icónicas. De todos os encantos que a cidade oferece, aquele que mais me fascina, que me obriga ano após ano a dizer “ou fotografas agora ou vais ter de esperar mais um ano”. Aliás é assim com todas as árvores e respetivos ciclos, especialmente as de folha caduca. Paro o carro ou o passo, seja onde for, entre Belém e o Oriente, elas estão por todo o lado, e eu vejo-as, vejo-as sempre, fotografo-as sempre e deixo-me seduzir, absorvendo a tranquilidade que me trazem à alma e ao olhar. É verdade que as cores produzem em nós diferentes sensações, olhar para um campo de papoilas, um separador de autoestrada de giestas, onagras ou de loendros, um talude de flores de chicória ou um prado de margaridas e trevos pode causar sensação de bem-estar, relaxamento, euforia, vitalidade, etc. E, então, olhar para o céu e ver o horizonte rasgado de tons lilás mais ou menos intenso?
Inspirando o seu delicado perfume, pisamos o tapete macio que as flores de jacarandá deixam no chão. Com cuidado, porque podem fazer-nos escorregar, e com respeito, porque a sua beleza traz calma e inspiração aos nossos dias nem sempre bons. Bem sei que há muita gente que as detesta devido a uma seiva viscosa que as suas flores vão deixando em cima dos veículos.
Mas quem ama as árvores mais do que os carros não se importa, infelizmente não somos assim tantos, a julgar pelo bárbaro corte de árvores que vai por este país fora com a justificação de que a lei assim obriga. Oiço constantemente pessoas zangadas com árvores que cospem seiva, sementes e outras “porcarias” para cima dos seus automóveis.
Cortam-se as árvores e multiplicam-se os automóveis numa lógica irracional e irresponsável de combate às alterações climáticas.
Se calhar era preferível plantarmos mais sobreiros, lódãos, castanheiros, pilriteiros, murtas em vez de jacarandás, paineiras, tipuanas, grevíleas mas lá se ia a poesia de termos uma cidade e um Parque Eduardo VII em tons lilases na Feira do Livro, quando esta era em maio, ou Belém pintado de flores cor-de-rosa de paineiras, a Assembleia da República na rua de São Bento com a sua imponente Tipuana tipu de flores amarelas a servir de tapete para quem não gostar de passadeiras vermelhas. O amarelo-alaranjado, alegre e pegajoso das flores de grevílea salpicando a cidade de norte a sul, de este a oeste.
São todas exóticas, bem sei, e talvez seja esse também um dos charmes e segredos de Lisboa. Quanto ao jacarandá que aqui me trouxe, apesar de ter prometido que teria continuação a crónica de junho sobre as plantas mágicas na Confraria da Urtiga, não fica esquecido e em agosto voltaremos ao tema. Por agora, mais algumas curiosidades sobre a árvore mais icónica da capital.
Origem e propriedades do jacarandá
O jacarandá (Jacaranda mimosifolia) pertence à família das Bignoniaceae e é originário da Argentina e Bolívia onde consta na lista vermelha de espécies ameaçadas. As suas folhas caducas fazem lembrar as da mimosa.
A palavra jacarandá deriva jakara´na, na língua tupi, e significa perfumada, aromática, aludindo ao aroma delicado das suas flores. Nos seus países de origem, as folhas, flores e cascas (ritidoma) são usadas para fins medicinais.
Um infuso das folhas tem propriedades antibacterianas e antimicrobianas, sendo eficaz no tratamento de doenças venéreas, infeções urinárias, diarreia e problemas gastrointestinais. Em banhos quentes, alivia dores nevrálgicas. A sua madeira é também apreciada em trabalhos de carpintaria.
Vamos esperar que os magníficos exemplares de jacarandá do Parque Eduardo VII e arredores mantenham a tradição de florir na Feira do Livro e este ano, em setembro, nos presenteiem com uma segunda ou terceira floração, como algumas vezes acontece.
Texto e fotografia: Fernanda Botelho
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