Pragas e Doenças

Pragas e doenças: como fazer o diagnóstico correto

Com uma observação cuidada conseguem-se detetar os primeiros sinais de pragas e doenças e atuar atempadamente.

O estado fitossanitário é o resultado de um complexo sistema de fatores que interagem e condicionam o desenvolvimento fisiológico das plantas.

Estes fatores podem ser abióticos, isto é, fatores ambientais, ou então, podem ser bióticos, ou seja, as pragas e algumas doenças.

Importa perceber quais os fatores que originam os problemas observados. Devido à biologia das pragas, que, na sua grande maioria, são impossíveis de identificar através de observação visual direta e à ocorrência de doenças bióticas, que são originadas por microrganismos não
visíveis a olho nu, e de doenças abióticas, importa interpretar os vestígios destes agentes nocivos, ou seja, analisar o seu quadro sintomatológico como o conjunto dos sintomas, isto é, as reações da planta ao ataque do agente nocivo e vestígios da sua atividade (ex.: descolorações, exsudados, perfurações e/ou roeduras no hospedeiro, enrolamento de folhas, etc.), e dos sinais, ou seja, estruturas e vestígios do agente nocivo (ex.: abrigos, “algodão”, estados imaturos e/ou estados adultos, restos de tecidos de insetos, frutificações de fungos, etc.). Merece ainda destaque o conceito de dano, prejuízo ou estrago como sendo o efeito nefasto causado pelo agente nocivo no hospedeiro (ex.:
desfolhas, destruição da floração, destruição de frutos, etc.).

Neste sentido, a interpretação do quadro sintomatológico consiste no reconhecimento da praga ou da doença através da interpretação dos sintomas e sinais da(s) mesma(s).

Regras para um diagnóstico preciso

Exemplo de padrão de ataque de doença biótica

Exemplo de padrão de ataque de doença biótica

O primeiro aspeto a observar no quadro sintomatológico consiste na identificação da espécie de planta em apreço, na qual se inclui não só o conhecimento das dimensões normais da planta, da nova rebentação e das folhas, da sua coloração, da época de floração e de frutificação, etc., mas também o pleno conhecimento das suas exigência culturais, isto é, as necessidades hídricas, de temperatura, de luminosidade, de
textura e de pH do solo, entre outras.

O segundo aspeto consiste em analisar com elevada precisão as características edafoclimáticas (solo e clima) às quais a planta está sujeita.

Com esta informação proceder-se-á então à sua comparação com as exigências culturais da planta. Deste exercício dois cenários poderão surgir, ou as condições edafoclimáticas estão de acordo com as exigências da planta e, neste caso, é provável que a sintomatologia verificada seja originada por agentes bióticos, ou então as condições edafoclimáticas são desfavoráveis ao hospedeiro e, neste caso, os agentes causais poderão ser o solo ou o clima, aliados aos quais poderão muitas vezes surgir ataques de agentes bióticos.

O ultimo passo a ser realizado é a observação pormenorizada do quadro sintomatológico (sintomas, sinais e danos), em que se detetarão os desvios fisiológicos face à normalidade da planta.

Agente biótico ou abiótico?

Exemplo de padrão de ataque de doença abiótica

Exemplo de padrão de ataque de doença abiótica

Na execução deste último passo, a análise do quadro sintomatológio, há que observar com a máxima precisão todos e quaisquer desvios fisiológicos ainda que pouco evidenciados. Desta forma, e após analisadas as compatibilidades entre as exigências culturais e as características edafoclimáticas locais, verifica-se a distribuição dos sintomas, dos sinais e dos danos.

No caso de a sintomatologia se distribuir de forma homogénea sobre a totalidade da planta ou dos órgãos visados da mesma e em todas as plantas sujeitas às mesmas condições edafoclimáticas, então dever-se-á suspeitar de distúrbios causados por um ou mais fatores edáficos ou climáticos. Tal consideração prende-se com o facto de que toda a planta e todas as plantas se encontrarem sujeitas às mesmas condições, sendo como tal homogénea a distribuição da sintomatologia verificada.

Se, pelo contrário, a sintomatologia expressa for irregular, sem indícios de padronização na sua distribuição, isto é, apenas uma parte da planta exibe a sintomatologia, ou num dado espaço sujeito às mesmas condições edafoclimáticas apenas uma ou duas plantas se encontram
afetadas, então dever-se-á considerar como agente causal uma ou mais pragas ou doenças. Tal consideração está relacionada com a irregularidade de ataque das pragas às plantas no que concerne à fitofagia (alimentação), às posturas (ovos), etc., sendo que, no caso das doenças bióticas, os esporos do fungo ou o vírus contaminam as plantas de forma casual sem um sentido padronizado.

Na hipótese de o agente causal ser abiótico, através da comparação entre as exigências culturais e as características edafoclimáticas locais, determinar-se-á qual ou quais estarão na origem dos desvios fisiológicos observados.

Contudo, se se depreender que o agente causal é biótico, é necessário ter presente quais as pragas e/ou doenças possíveis de contaminarem
o hospedeiro em causa. Destas pragas e/ou doenças, é necessário ter pleno conhecimento do seu ciclo de vida, da forma que com este interferem e quais os distúrbios que provocam. Note-se que os diagnósticos podem ser realizados com base na observação do quadro sintomatológico, contudo diversos agentes bióticos provocam sintomas e/ou sinais muito semelhantes, sendo que a sua determinação através de comparação entre sintomatologias com as presentes em sítios na Internet não é viável, pois muitos agentes bióticos presentes noutros países não se encontram em Portugal. Noutros casos, os diagnósticos podem ser etiológicos, isto é, através da análise em laboratório do material recolhido, requerendo, contudo, rigorosos critérios na recolha de material para análise.

A capacidade de diagnosticar não é fácil, mas assume especial relevo nas diversas intervenções fitossanitárias no jardim, pois na dependência desta estará a tipologia de prescrições das intervenções a realizar, assim como o seu sucesso.

 

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