Revista Jardins

Jardins e plantas da Madeira (parte II)

 

Fui à Madeira a convite do Professor Raimundo Quintal para fazer a apresentação do livro dele e tive como bónus andar a passear e a ver jardins.

 

Jardins do Lago

Este foi um dos jardins mais bonitos que tive ocasião de visitar nos últimos tempos. Tive o privilégio de, além da companhia do Professor Raimundo Quintal, ter também a da Elda Sousa, guia de profissão especializada em jardins e voluntária neste maravilhoso jardim.

O jardim tem uma área de cerca de 2,5 hectares e mais de 500 espécies botânicas. Tem uma coleção de árvores centenárias, como o dragoeiro (Dracanea draco), a Syncarpia glomelifera, a Cinnamon campitora, etc.

Neste jardim habita há algumas dezenas de anos uma tartaruga gigante que é a mascote do hotel e da casa Colombo, dá as boas-vindas aos visitantes e deixa que lhe façam festas.

 

 

História

Esta propriedade foi estabelecida, no século XVIII, por uma família madeirense. Entre 1750 e 1770, pertenceu à empresa Lamar, Hill, Bisset & Co., que comercializava vinho da Madeira. O general Beresford, que comandou as tropas inglesas que ocuparam pela segunda vez a ilha da Madeira a 24 de dezembro de 1807, viveu nesta quinta até deixar a ilha, a 17 de agosto de 1808.

A casa passou depois por várias gerações da família Lindon-Vinard, que tinha comprado a propriedade em 1881. Desta família, descendem os atuais proprietários.

 

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Hotel

A Quinta Jardins do Lago é hoje em dia um pequeno hotel de luxo com um jardim botânico maravilhoso, situado numa das colinas mais verdes que rodeiam a cidade do Funchal, muito perto do seu centro histórico e com uma magnífica vista sobre a cidade.

Hoje, a Quinta Jardins do Lago, com 31 quartos duplos, quatro suítes júnior e cinco suítes premier, todos virados a sul para os jardins luxuriantes e para o mar azul do Atlântico, é, sem dúvida alguma, um dos mais belos exemplares de interligação perfeita entre a riqueza histórica e patrimonial e as exigências de bem-estar e conforto de pessoas que procuram férias excelentes num ambiente genuíno das quintas da Madeira. Tem ainda um excelente restaurante onde tive oportunidade de almoçar com uma magnífica vista para o jardim.

 

Lago

 

Jardins

Segundo me contou a Elda Sousa, o grande objetivo no Jardins do Lago, devido à altitude em que se encontra, é ter um jardim com um carácter tropical. Estão sempre à procura de espécies novas raras que ainda não existam nos outros jardins madeirenses para que os visitantes possam sempre ver algo diferente. Pretendem ter florações abundantes em todas as estações do ano que possam ser apreciadas pelos hóspedes do hotel e, para isso, produzem em viveiro próprio a maioria das plantas anuais que usam.

O jardineiro chefe, Michael Benedicto, é biólogo e estudou horticultura, botânica e arquitetura paisagista em Kew Gardens, sendo alguém muito conhecedor e conceituado no meio.

As diferentes associações de plantas são escolhidas pelo Michael consoante as zonas onde serão plantadas. Por exemplo, junto das varandas dos quartos do hotel privilegia-se o uso de cores relaxantes, que convidam ao descanso; já as plantas com floração mais vibrante são usadas nas zonas de passagem.

Vários canteiros apresentam uma grande variedade de plantas endémicas e nativas da Madeira, assim como dos arquipélagos que rodeiam a Madeira, caso das Canárias, Açores e Cabo Verde. A maioria destas plantas, apesar do seu grande potencial ornamental, são pouco vistas nos jardins da Madeira. Ao plantarem espécies nativas, algumas delas raras ou até extremamente raras, estão também a atrair uma série de polinizadores nativos como é o caso de algumas abelhas.

Uma das razões apontadas pelos hóspedes repetentes do hotel para voltarem ano após ano é a beleza do seu jardim.

As misturas de plantas usadas nas várias bordaduras conseguem efeitos sublimes e os contrastes que conseguem são magníficos.

 

 

Pérgula de trepadeira-de-jade e sapatinho-de-judia

Fiquei absolutamente deslumbrada com a coleção de bromélias e de fetos. Mas o ex-líbris que me deixou quase com falta de ar foi ver a zona de pérgula com a mistura entre a trepadeira-de-jade (Strongylodon macrobotrys), uma planta magnifica com os seus cachos de flores com um tom entre o verde e o azul. Estes cachos podem atingir mais de um metro de comprimento e são de uma beleza irreal, nunca tinha visto nada assim, senti-me uma criança na Disneyland quando estive por baixo desta pérgula. De um dos lados, tem a trepadeira-jade e, do outro, o sapatinho-de-judia (Thunbergia mysorensis), esta é uma trepadeira que eu só tinha visto uma vez ao vivo, o ano passado no Jardim Botânico de Leiden, e tinha ficado maravilhada, mas aqui, combinada com a trepadeira-jade, o efeito ainda é muito mais espetacular.

Estas inflorescências podem atingir um metro e meio de comprimento e têm centenas de flores com uma combinação perfeita de amarelo com um castanho-avermelhado. Estas flores têm ainda a vantagem de servirem de bebedouro a uma série de pássaros e insetos que habitam o jardim.

 

Piscina e buganvília

Também a zona da piscina é muito bem desenhada e enquadrada com as suas plantações e, principalmente, com a magnífica pérgula coberta de buganvília de floração exuberante a que não se consegue ficar indiferente nesta época do ano.

 

Asclépias e monarca

Uma das histórias que me encantou neste jardim foi a presença especial das asclépias (Asclepias curassavica), aqui apenas para servirem de alimento às lagartas da borboleta-monarca (Danaus plexippus), uma espécie em vias de extinção nalgumas regiões do planeta e que tem na Madeira uma população residente.

As asclépias são plantas que crescem muito rapidamente, atingem um metro de altura com alguma facilidade. A planta é muito venenosa e uma excelente armadilha para pulgões. As lagartas da monarca não são sensíveis ao seu veneno e alimentam-se em exclusivo desta planta, deixando-a quase totalmente depenada. As suas flores são muito atrativas e aromáticas, as borboletas põem lá os seus ovos e as lagartas alimentam-se delas.

 

 

Jardim do Tojal

Terminei este meu pequeno périplo madeirense com um final de tarde no pequeno paraíso que a Céu e o Professor Raimundo têm no Faial, o jardim do Tojal. A partir do momento que atravessei o portão e entrei no jardim, percebi que estava num local muito especial.

Além de a vista ser de cortar a respiração, aquela encosta coberta de verde acaba numa escarpa pendurada sobre o intenso mar azul.

A localização da casa é perfeita, sente-se toda uma harmonia e paz, e tudo naquele espaço envolvente convida à contemplação. Percebe-se que é um jardim onde tudo foi feito com muita dedicação e amor, onde se trabalha com e para a Natureza e onde esta é respeitada em todas as suas vertentes.

 

 

Como pude perceber dos momentos que passei lá, cada planta, cada caminho e cada pedra foram colocados e plantados com um propósito.

Um jardim que começou há 23 anos pela não da Céu, mas que teve um maior desenvolvimento nesta última década pela mão dos dois. Neste momento, há mais de 450 plantas diferentes, uma riqueza florística imensa para um pequeno espaço, que além disso, se encontra numa zona fortemente inclinada.

Foram criados socalcos para atenuar o declive e plantado todo o tipo de plantas para que o terreno fique mais estável e para que possa usufruir da grande variedade de cor, textura e aroma proporcionado pelas diferentes plantas ao longo de todo o ano. Todos estes socalcos são acompanhados por caminhos que permitem usufruir de cada uma das zonas e de cada uma das plantas. Aqui, tal como diz Raimundo Quintal, há plantas a florir 12 meses por ano e existem desde várias plantas da Laurissilva até muitas plantas exóticas bem adaptadas às condições da Madeira, porque há espaço para todas, tal como diz no seu mais recente livro, As flores de cá e as de lá. Plantas como a Fuchsia boliviana (mimos-da-bolívia), o Echium portosanctensis (massaroco-de-porto-santo), a Dalechampia aristolochiifolia (borboleta-roxa), entre muitas outras, compõem um conjunto único que muito enriquece esta paisagem e esta encosta.

 

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