Sebastião José de Carvalho e Melo encomendou a Carlos Mardel, em meados do séc. XVIII, a construção de um Palácio nas suas propriedades de Oeiras, com o intuito de ter uma quinta de recreio suficientemente impressiva para ofuscar uma aristocracia por ele considerada medíocre, e assim o ajudasse a esconder as suas origens menos nobres.
A morte da sua primeira mulher D. Teresa de Noronha e Bourbon tinha-o deixado num desafogo financeiro que lhe permitiu a construção de um Palácio com jardins quase tão imponentes como os de Queluz. No Palácio de Oeiras funciona atualmente o Instituto Nacional de Administração, embora o edifício seja propriedade do município e a própria Câmara esteja instalada na antiga Casa dos Coches, frente ao edifício principal. O Marquês de Pombal passou 10 anos pela Europa, entre Londres, onde foi Embaixador, e Viena, e absorveu toda a cultura europeia do séc. XVIII, tornando-se num homem cosmopolita, ao contrário da aristocracia portuguesa, muito provinciana e fechada sobre si própria. Quer no edificado, quer nos jardins do Palácio, está patente a erudição do antigo proprietário.
Seguindo a regra caracteristicamente portuguesa, o Palácio de Oeiras era, simultaneamente, uma quinta de recreio destinada ao lazer, e uma propriedade agrícola que tinha como objetivo o lucro, dispondo de pomares e de uma importante produção de azeite. E, embora de dimensões mais modestas que os seus congéneres europeus, o Palácio do Marquês de Pombal ainda hoje impressiona pela riqueza dos elementos constantes nas várias zonas dos jardins.
Cascata dos poetas
No prolongamento dos salões do Palácio, o terraço das Araucárias é ricamente decorado com azulejos e estatuária mitológica, como era próprio da ornamentação dos jardins da época, e dele se desce por uma escadaria, também revestida a azulejo, para o plano inferior do jardim. Aí, a propriedade é atravessada pela Ribeira da Lage, cujo canal navegável constituía uma das zonas de divertimento. Influenciado pelos traçados de Le Nôtre, o jardim apresenta um eixo que vai da escadaria do terraço acima descrito, atravessa o canal, e termina na Cascata dos Poetas. Nesta, destacam-se os bustos de Homero, Virgílio, Camões e Tasso, saídos das mãos de Machado de Castro. O centro da cascata é ornamentado com um esplêndido Deus-rio que preside, majestoso, a todo o entorno de área recreativa e de passeio, com o seu terreiro do jogo da bola, canal navegável e alamedas.
Além da azulejaria, o jardim apresenta outra característica muito portuguesa que é a sua compartimentação murada em diferentes zonas. Assim, da Cascata dos Poetas passa-se para o Terraço das Merendas, de onde se avista uma bela escultura fontenária designada por Fonte das Quatro Estações. Em volta desta, existe um parterre de água de linhas modernistas, uma intervenção de Gonçalo Ribeiro Teles dos anos 60 do séc. XX.
Pela propriedade fora encontravam-se cascatas, um pombal e grutas rusticadas, que constituíam pontos focais do percurso. Infelizmente, hoje, a maior parte destes elementos encontram-se muito degradados ou mesmo soterradas. É uma pena que um jardim tão rico não seja encarado como o jardim histórico que é.
Casa da Pesca
Percorri os jardins durante duas horas sem avistar vivalma. Com um esforço de imaginação, vi-o povoado de figuras da época, passeando, jogando, namorando ou degustando uma merenda, sempre com o som de água presente, já que todo o jardim é pontuado por pontes, cascatas e canais, agora todos completamente secos e inativos.
Um importante elemento do jardim é a famosa Casa da Pesca, aonde o Marquês se dirigia a cavalo ou de carruagem, para ir pescar num tanque para o efeito. Atualmente, a Casa da Pesca situa-se nos terrenos da Estação Agronómica de Oeiras que, muito amavelmente, me deixou visitar e fotografar, com o compromisso de não publicar as fotografias. Compromisso esse, que,
com pena, respeito neste artigo. É que a Casa da Pesca é um teatro marítimo absolutamente magnífico, com esplêndidos painéis de Azulejo e um enorme tanque, esse sim, (uuufff!) com água.
Fotos: Vera Nobre da Costa
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