Jardins & Viagens

Jardins privados em Castela

O prazer especial de conhecer espaços que, além da beleza, contêm um elemento de conforto e intimidade.

Jaral de La Mira

Jaral de La Mira


Foi uma viagem a jardins de Espanha, vários privados e um histórico. Durante uma semana percorri Castela de carro, depois de aterrar em Madrid. Visitar jardins privados é para mim um prazer redobrado porque contêm um elemento de conforto e intimidade que os jardins ou parques públicos não oferecem e, sobretudo, contei com o privilégio de todas as visitas terem sido acompanhadas pelos arquitetos paisagistas que deram forma aos jardins e pelos próprios proprietários. Generosos, respondiam às perguntas que se lhes punha e tudo explicavam com um gosto e um orgulho mal disfarçado.

Jaral de La Mira

 

Jaral de La Mira - Vista para o Vale dos Caídos no Escorial

Vista para o Vale dos Caídos no Escorial

 

É uma quinta que fez em tempos parte dos Parques Reais de Filipe II (Filipe I de Portugal), e que atualmente é propriedade dos irmãos Sandoval, restaurateurs famosos que já venceram em três categorias o Prémio Nacional de Gastronomia. Segundo os donos, a quinta é “uma jóia de biodiversidade para levar a cabo um projeto de agricultura biodinâmica”. Para rentabilizar o projeto, a propriedade, além de ser uma ganadaria, arrenda o espaço dos jardins projetados pelo famoso arquiteto paisagista Álvaro Sampedro, para festas, casamentos, eventos e concertos.

Com soberbas vistas para a serra de Guadarrama e a cruz do Vale dos Caídos, todo o jardim se desenvolve num respeito absoluto pelo genius loci, com uma plantação de flora autóctone, árvores de fruto e aromáticas. O conjunto resulta simultaneamente natural e sofisticado. Não há florinhas nem canteiros coloridos, mas maciços de herbáceas que rodeiam uma discreta mas gigantesca pérgula onde ocorrem os eventos no verão.

Do que gostei mais foi da estupenda ideia de fazer canteiros de aromáticas elevados, dentro de cestas gigantes mandadas fazer por Álvaro ao artesanato local. Só tive pena de não ter havido tempo para apreciar a gastronomia dos Sandoval, imagem de marca do Jaral, mas na próxima ida a Madrid não falharei o restaurante Coque.

 

Dehesa de Yonte

 

Dehesa de Yonte

Dehesa de Yonte

 

É em Ávila a “segunda casa” de Gonzalo Lopez Garcia e é um sonho de lugar. Desenhado por Miguel Urquijo, é um jardim de inspiração mediterrânica e um tributo à maestria do seu autor e do gosto e persistência do proprietário, que não dispensa pôr as mãos um ou dois dias por semana em trabalhos no jardim. O solo, pouco fundo e muito rochoso, teve de ser enriquecido com dezenas de camionetas de substrato e criaram-se muros da pedra local, o granito, para suster as plantações em canteiros de espécies arbustivas e vivazes. O elemento mineral parece assim ser tão importante como o vegetal, como o comprovam os muros exteriores da casa. Percorrendo os caminhos deste jardim repleto de lavandas, rosmaninhos, buxos, ciprestes e oliveiras, recriou-se o charme da Provence francesa mas com um indisfarçável carácter castelhano.

Da casa avista-se um lago dentro da propriedade, o que suaviza a dureza da presença do granito. Um dos recantos mais originais deste jardim é uma plantação de oliveiras em chão de gravilha creme pontuado com arbustos podados em bolas perfeitas e umas gramíneas espontâneas que parecem cabeleiras a ondular ao vento. O extremo bom gosto do proprietário também está patente na decoração do interior da casa, onde só apetece ficar umas horas mais a explorar os detalhes e as obras de arte contemporânea.

No final, descobri que partilhava com o anfitrião a mesma fascinação pelas obras do artista catalão Jordi Alcaraz. A diferença é que ele tinha uns vinte e tal quadros e eu tenho um…

 

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