8.º Festival Internacional de Jardins – Ponte de Lima
Estão em exposição, desde 25 de maio até 31 de outubro de 2023, 11 jardins provenientes de Portugal, Polónia, Áustria, Alemanha, Espanha, Brasil, China (Macau), Argentina, França, república Checa e Suécia, e um 12.º vencedor do ano anterior, isto é, o mais votado pelos visitantes – Jardim da reflexão (Brasil). Todos representam a sustentabilidade ambiental sob várias formas artísticas e a relação que se quer profícua entre os seres humanos e a Natureza.
Os jardins das escolas básicas do concelho de Ponte de Lima também apresentaram 11 jardins, sob o mesmo tema, acrescido do jardim vencedor do ano anterior, Que pegada queres deixar no mundo?
A vila de Ponte de Lima é pioneira no incentivo e divulgação da arte dos jardins, conseguindo o feito de ter mais de cem mil visitantes a cada ano. Só este facto demonstra a bondade do certame – atingiu muitos indivíduos, oriundos de muitos países; teve e tem um importante alcance pedagógico em adultos, mas também nos alunos das escolinhas do ensino básico do concelho, “sensibilizando para a relação entre a arte e a Natureza a para a importância das questões ambientais”.
“O festival lança a cada ano um tema diferente; como é internacional, isso implica interpretações várias do tema por concorrentes provenientes de outros olhares e culturas, o que traz um enriquecimento a diferentes níveis. A visita ao festival terá impacto nas novas gerações, e espera-se que aguce a curiosidade e promova o aparecimento de novos jardineiros e arquitetos paisagistas”, segundo a opinião do presidente do festival, Francisco Manuel Caldeira Cabral.
Inauguração
No dia 25 maio 2023, foi a Inauguração do Festival Internacional de Jardins de Ponte de Lima, que este ano contou com a presença de D. Duarte de Bragança.
A par deste evento, Ponte de Lima acolheu a entrega do Prémio Gonçalo Ribeiro Telles no dia do seu nascimento. Este ano, a premiada foi a Professora Manuela Raposo Magalhães, figura destacada da arquitetura paisagista. Lecionou no Instituto Superior de Agronomia, dedicando a sua vida às causas ambientais.
VIVA LA VIDA
ARGENTINA
Victoria Magnano, arquiteta paisagista argentina, refere logo de início que um jardim é por si só, terapêutico: ”reequilibra, reorienta, harmoniza e dá força”! A composição inspirou-se nas mandalas, que simbolizam a “harmonia e a unidade”, com as suas cores, também elas cheias de significados.
Ao centro do jardim, a “árvore da vida” representa ”o ciclo da vida”; por sua vez, as quatro estações relembram os benefícios dos espaços verdes.
“Os materiais utilizados são naturais, de reutilização ou reciclados”, frisa a autora, que também adverte para a descoberta da ecoterapia (terapia verde) e os efeitos positivos dos jardins sobre a saúde humana.
OS NOSSOS JARDINS
POLÓNIA
A estudante Mykhailo Chumak, da Universidade de Vístula, em Varsóvia-Polónia, assenta a composição na ideia de “unidade na diversidade”. A mensagem que se quer transmitir é que “somos todos diferentes, mas (igualmente) belos”.
O jardim divide-se em três zonas: amarela, vermelha e azul; os visitantes percorrem o jardim e passam através de arcos que sinalizam os vários tipos de plantas, com as cores atrás referidas; as inscrições nos postes estrategicamente colocados, clamando pela beleza em cada um de nós, pela autoaceitação, com vista a uma boa saúde mental. Jardins saudáveis com pessoas que se sentem e são belas é o propósito desta composição.
PULMÕES VERDES
ALEMANHA – ÁUSTRIA
Laurenz Gebesmair, Julia Honisch e Louise Teuber, estudantes de Arquitetura da Universidade de Recursos Naturais e Ciências da Vida – Viena, com o acompanhamento do Professor Roland Wuck, projetaram um jardim baseado no desempenho dos pulmões. É uma dupla metáfora, pois um parque urbano é também designado por “pulmão da cidade”. Com base nesta dupla realidade, os elementos neste jardim representam formas anatómicas do trato respiratório; os pulmões são desenhados no solo e preenchidos por maciços de plantas. A terceira dimensão é-nos dada por uma estrutura metálica, suporte de plantas várias.
“Pulmões verdes”, sinónimo de saudáveis, mas também verdes, devido à presença vegetal, essencial à função de purificar o ar, de fixar as poeiras nocivas, amenizar as temperaturas, aumentando a humidade atmosférica, entre outras funções. Num futuro próximo, os pulmões verdes das cidades farão a diferença relativamente aos efeitos das alterações climáticas.
UM JARDIM SENSORIAL
PORTUGAL
Ana Rita Dias, Hugo Moreira e João Ferreirinha, estudantes de Arquitetura Paisagista na FCUP-Porto, criaram um Jardim Sensorial. Sensorial, porque estimula os sentidos da visão, olfato, paladar e tato, através de elementos vegetais, mas também de pavimentos, troncos, floreiras, inscritos em formas circulares.
Pavimentos permeáveis à base de gravilhas, são uma alusão a boas práticas ambientais em meio urbano, garantido a permeabilidade dos solos e a infiltração da água das chuvas; surgem hortas verticais, otimizando o espaço, tão escasso nalgumas cidades – estas veiculam a mensagem da necessidade de zonas verdes com um propósito ecológico, essenciais a uma relação saudável Homem-Natureza.
MENS SANA IN CORPORE SANO
PORTUGAL
Este é o jardim da equipa portuguesa, com Alexandra Campos Teixeira e Luís Pedro Sá e Melo, e a participação dos alunos do Instituto São João de Deus. A composição assenta na expressão “Mente sã em corpo são”, que põe em “evidência a intrínseca relação entre a saúde física e mental”.
Ao longo do percurso, os vários sentidos são despertados, traduzindo a intenção dos autores em recriar um “jardim terapêutico” ou um “jardim sensorial”. Através de um “circuito sensorial”, o visitante depara-se com um conjunto de troncos de árvores, que estimulam o tato; seguidamente os canteiros de plantas comestíveis apelam ao sentido do paladar. A “árvore dos sons” sinaliza a audição; o olfato é despertado junto das plantas aromáticas. O jardim é um convite à contemplação, proporcionando a desejada serenidade.
BOM SITE
ESPANHA
A arquiteta Luz Morgade assentou a composição do seu jardim nos princípios da Geobiologia, “ciência que estuda a relação entre os seres vivos e as radiações terrestres”. O planeta Terra está rodeado de redes magnéticas, sendo algumas absorvidas pelo globo terrestre e outras devolvidas à atmosfera. As zonas geopatogénicas ou geopatias são os locais de radiação mais intensa. Após o estudo da parcela implantou-se uma rede de “Linhas Harttmann”. As zonas de relva não apresentam alterações magnéticas, e as zonas alteradas são representadas por uma grelha metálica.
Segundo a autora e estudiosa destes temas, a ciência da geobiologia procura o “Bom site”, ou seja, o sítio mais adequado para implantar uma casa ou mesmo para colocar uma cama ou até uma janela. Enfim, todos procuramos as zonas saudáveis, para nos desenvolvermos em harmonia com a Natureza e connosco próprios.
EQUILÍBRIO SAUDÁVEL
ALEMANHA – ÁUSTRIA
Um jardim idealizado por estudantes de Arquitetura da Universidade de Recursos Naturais e Ciências da Vida – Viena, com o acompanhamento do Professor Roland Wuck. Um “Equilíbrio saudável” é o mote a partir do qual se desenvolve toda a composição. “Manter tudo em equilíbrio é uma arte difícil de atingir, uma ilusão, um objetivo a alcançar e uma tarefa que nunca termina.” Os círculos predominam na composição, preenchidos com pedras, água, gramíneas e plantas resistentes à seca.
Os tótemes com pedra empilhada simbolizam a arte do equilíbrio; todo o conjunto pretende ser um oásis de tranquilidade, com motivações para uma vida saudável.
SOLUÇÕES BASEADAS NA NATUREZA PARA UMA VIDA SAUDÁVEL
PORTUGAL – CHINA-MACAU
Cristina Calheiros, Andreia Ramos e Karen Tagulao apresentam “soluções inspiradas e sustentadas pela Natureza”, com vista à obtenção de benefícios ambientais, sociais e económicos. O ar limpo ou a água potável podem ser incrementados através de conhecimento científico e tecnológico, aumentando a capacidade da Natureza de fornecer “múltiplos bens e serviços”. Exemplificando, temos que o aumento da temperatura ambiente pode ser regulado através da utilização de pérgulas ou de jardins verticais, contribuindo também para a melhoria da qualidade do ar, segundo as autoras. O “bosque comestível” remete-nos para os produtos da floresta, essenciais ao mundo rural.
Os jardins pluviais, “filhos” da ecologia urbana, atenuam o efeito torrencial das chuvas, permitem uma infiltração lenta, além de promoverem a polinização e a biodiversidade. Também “o leito de plantas ou FitoETAR (Estação de Tratamento de Águas Residuais) “desempenham a função de purificador de águas contaminadas”. Soluções baseadas na Natureza com vista à promoção da qualidade de vida no planeta, essencial ao nosso bem-estar, é o lema deste jardim.
REGRESSO ÀS ORIGENS
PORTUGAL
Micael Fernandes, Maria de Fátima Viana e Rosa Nogueira, estudantes de Agronomia, trouxeram-nos o “Regresso às origens”, mas pensando num futuro, certamente mais saudável.
Pratos com plantas comestíveis estão dispostos ao longo de um percurso até ao “desporto à mesa.” Com o aumento da população mundial, que ultrapassou os oito mil milhões de habitantes, a pressão sobre o planeta é enorme, exaurindo os
recursos naturais se continuarmos com este modelo económico. Apostar nas produções sustentáveis, aliadas a uma alimentação saudável e a uma vida desportiva ativa, são os conselhos avisados dos autores deste jardim.
JARDIM TERAPÊUTICO
POLÓNIA
As estudantes da Universidade de Vístula, em Varsóvia-Polónia, Maja Piwowarczyk, Marlena Piwowarczyk e Veronika Euczuczyk apelidam o seu jardim de “terapêutico”. Elaboraram a “pirâmide das necessidades da saúde mental”, sendo que no topo colocam o descanso e a esperança, abaixo deste, o “humor e a empatia”, seguindo-se o propósito de “cuidar de si mesmo”. “As relações saudáveis”, a par dum “sono (reparador) e mecanismos de sobrevivência”, com todo o “apoio e tratamento”, conduzem a uma vida saudável.
Neste jardim existe uma belíssima escultura em forma de túnel em espiral, construído em ripado de madeira, no qual se entra, atravessando todas as fases necessárias a uma boa saúde física e mental.
O FUTURO DA PAISAGEM
BRASIL
Ana Barros, Adriana Machado e Francisco da Silva trouxeram para este jardim a paisagem brasileira. As bananeiras e a “orelha-de-elefante” pretendem representar a Amazónia, que é quase metade do território brasileiro, sendo a maior reserva de biodiversidade do mundo; o lago, com as espécies aquáticas e purificadoras de lírio-branco e cavalinhas, representam o Amazonas e o Pantanal; o relvado remete-nos para a Mata Atlântica, com o seu clima tropical-húmido; e a Caatinga, o sertão nordestino seco e árido também são aqui aludidos, através de espécies rústicas e espinhosas (catos, bromélias).
Os seis biomas do Brasil, esquematizados através de espécies vegetais e de inertes, retratam a Floresta Amazónica, a Mata Atlântica, o Cerrado, a Caatinga, o Pantanal e a Pampa.
JARDIM DA REFLEXÃO
BRASIL
Andrei Morais e Dani Vilana, arquitetos paisagistas brasileiros, refletiram sobre o papel destruidor do Homem relativamente à Natureza. A extinção de inúmeras espécies animais e vegetais, a poluição do ar e da água, a utilização excessiva de recursos naturais, o aumento das temperaturas devido ao efeito de estufa, entre outros aspetos, é o mote desta composição. “O projeto: o visitante entra no jardim e é rodeado por um memorial a todas as plantas desaparecidas ou ameaçadas de extinção.” A desolação instala-se, mas entretanto chega-se a um espaço ao ar livre, rodeado por vegetação.
Um espelho de água circular impõe-se no jardim, com o sentido de nos alertar para a subida do nível do mar, mas também para a importância da água, essencial à vida humana.
Recorde o Festival de Jardins de Ponte de Lima, edição de 2022
Jardins da 18.ª Edição do Festival de Jardins Escolinhas de Ponte de Lima
Onze jardins estão representados no parque, também sob o tema “Jardins Saudáveis” e representam outras tantas turmas e alunos do concelho de Ponte de Lima; o 12.º é o vencedor do ano de 2022. “O equilíbrio”, “O jardim dos sentidos”, “Jardim de todos”, “Infusões de afetos”, “O nosso corpo é o nosso jardim”, “Jardim encantado”, “Ler para as plantas fá-las crescer”, “Um jardim para todos”, “Só temos um jardim saudável se existir paz”, “Que pegada queres deixar no mundo?” (o jardim mais votado pelo público em 2022), “Físico e mente” e, por
último, “Natureza viva” são os títulos destas originais composições.
- A exposição de jardins estará patente ao público até 31 outubro 2023.
- Concurso 2024: “O Imaginário na Arte dos Jardins”.
- Candidaturas até 10 novembro de 2023.
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