
Uma viagem sensorial entre Natureza, arquitetura e autenticidade, num paraíso ainda por descobrir.
Dois dias bastaram para me apaixonar por este lugar. A Sociedade Rural, projeto de Cláudia e do Miguel Villax em pleno Parque Natural da Serra de São Mamede, é mais do que um destino; é uma filosofia de vida. Um refúgio exclusivo onde a paisagem dita o tempo, a arquitetura respeita o território e cada detalhe é pensado com um cuidado raro e precioso.
Um território que fala à memória
Voltar a esta região foi, para mim, regressar a casa. Os meus pais conheceram-se em Castelo de Vide, a minha mãe foi notária em Marvão, a minha família paterna é da região de Portalegre. Esta terra corre-me nas veias. E, talvez por isso, o convite para conhecer este projeto — ainda fechado ao público — me tenha sido tão irresistível.
Cláudia e Miguel começaram por dois hectares em 2003. Hoje, a propriedade estende-se por 30 hectares preservados com rigor: carvalhos, castanheiros, sobreiros, oliveiras centenárias, hortas, pomares e um tapete de flores silvestres que tivemos oportunidade de descobrir e de “saborear” com a mentoria da “Maga” das plantas, a maravilhosa Fernanda Botelho. Neste sítio, o respeito pela biodiversidade é total. Há lagos para atrair fauna, apiários, agricultura regenerativa e gestão sustentável da água. É uma ode à Natureza.


Jardinagem com alma
Como arquiteta paisagista, senti-me imediatamente tocada por esta nova forma de jardinar: natural, quase selvagem, onde a estética está ao serviço do ecossistema. É o rewilding em prática — permitir que a Natureza seja a jardineira, o que exige humildade e escuta atenta. E o resultado é comovente: um jardim onde tudo tem propósito, beleza e equilíbrio.
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Casas com vista e alma
Em outubro, três casas de charme abrem para estadias: Rosmaninho, Oliveira e Esteva. Fiquei hospedada na Rosmaninho, com três quartos, sala ampla, cozinha equipada e um terraço de cortar a respiração. A decoração é depurada e sofisticada, os materiais nobres, e os têxteis — lençóis, almofadas, toalhas — são de um conforto que faz suspirar. O pequeno-almoço, com produtos da quinta e pão caseiro, é tomado no terraço ou na cozinha comum. Tudo convida a ficar, a ler, a conversar, a simplesmente estar e respirar.


O luxo da simplicidade
Nos espaços exteriores há sempre algo para descobrir: hortas biológicas, um rooftop para ver o pôr do sol, uma piscina aquecida, sauna, zonas de leitura à sombra. Tudo está integrado na paisagem, sem lhe roubar protagonismo. O que se sente é uma rara harmonia entre o humano e o natural.
Mesa posta com criatividade
Tivemos o privilégio de jantar no Fago,em Marvão. José Diogo Branco e Daniel Boto reinventam o receituário alentejano com sofisticação nórdica e criatividade desconcertante. A surpresa final? Uma sobremesa de beringela confitada, de antologia. É cozinha intuitiva, delicada, local, com alma e propósito. A lembrança do nigiri de pato ainda me faz salivar.
Na própria quinta, o azeite Azeitona Verde é outro tesouro: biológico, artesanal, sem aditivos — apenas o puro sumo da azeitona, premiado e absolutamente delicioso.


Corpo, mente e vinho
A nossa manhã começou com ioga no celeiro, orientado por Lisa Hood, que transforma cada aula numa experiência sensorial e regeneradora. Visitámos também as vinhas Terrenus, guiados pelo enólogo Rui Reguinga. Castas ancestrais, cultivadas de forma manual e vinificadas em ânforas, talhas ou ovos de cimento, num processo artesanal que origina vinhos complexos, elegantes e profundamente ligados ao solo.
Uma experiência que fica
Nestes dois dias, partilhei o tempo com sete mulheres incríveis, entre caminhadas, conversas e gargalhadas. Saí mais leve, mais inteira, mais inspirada. A Sociedade Rural é um segredo bonito e merece ser descoberto por quem valoriza a autenticidade, o silêncio, a beleza e o sentido. Um destino para se deixar ficar — e voltar, sempre.
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