É uma ilha/parque artificial de um hectare, inaugurado há apenas seis meses, da autoria da arquiteta paisagista Signe Nielsen.
Regresso às viagens é regresso à revista Jardins. Finalmente! Aterrei em Nova Iorque numa tarde fria de novembro para encontrar uma cidade em ebulição, na ressaca de uma pandemia ainda não resolvida. Máscaras obrigatórias em todos os recintos fechados, do MET à Broadway, apresentação de certificados de vacinação bem como de documento de identificação com fotografia, enfim, um controlo bem mais severo do que em Portugal. “Estado democrático”, diz o meu amigo Jack, republicano de gema e residente na Carolina do Sul, com um ar trocista.
A cidade está a acordar de um estado comatoso, e os nova-iorquinos querem recuperar o tempo perdido. Os habituais turistas asiáticos ou europeus, nem vê-los; nas ruas cheias de gente, só se cruzam americanos aproveitando a pausa do Thanksgiving.
Como a cidade é plana, um dos grandes prazeres que tenho em Nova Iorque é andar a pé e facilmente se percorrem 9-10 km por dia, desde que estejamos bem protegidos das temperaturas baixas desta época do ano com um casaco quente, barrete de lã e luvas. Foi assim, a andar pela zona do Meatpacking District, numa ida ao Whitney Museum, que descobri a nova coqueluche da cidade: Little Island. Trata-se de um jardim de passeio sobre o rio Hudson, todo construído sobre uma espécie de cálices em cimento de gosto duvidoso. Tirando o grande pulmão que é o Central Park, Manhattan tem pouco espaço disponível para outras zonas verdes e a verticalidade dos edifícios, embora espetacular para quem visita, é opressiva para quem lá vive. Daí esta nova moda de erguer espaços de passeio onde é possível, nem que seja acima do chão, como é o caso do pioneiro Highliner, um percurso ajardinado de 2,33 km construído numa antiga linha comboio sobre o qual já aqui escrevi há uns anos.
O projeto
O Little Island, no Pier 55, é uma ilha/parque artificial de 1 ha, inaugurado há apenas seis meses, apenas possível pela persistência do casal Barry Dillon e Ira de Furstenberg, que, com o apoio do anterior governador Andrew Cuomo, conseguiram ultrapassar os vários processos em tribunal que queriam impedir a obra.
A autoria do projeto recaiu sobre a arquiteta paisagista Signe Nielsen, que imaginou as tais tulipas em cimento cuja altura varia entre os 4,6 e os 18,9 metros para manter a área ajardinada acima das cheias do Hudson, que chegam a subir cerca de 3,4 metros o nível das águas. Caminhos confortáveis, uma plantação pensada para reduzir a erosão (e muito semelhante à do Highline), um auditório ao ar livre e diversos jogos interativos tornaram rapidamente o espaço um destino popular, onde aos fins de semana se circula com dificuldade chegando a ter em simultâneo mil visitantes.
Apesar do frio quando lá fui – a temperatura era de 3 ºC – e do vento cortante que corre na zona do Hudson, Little Island é um belo percurso não só pela diversidade da plantação organizada em grupos de coloridos diferentes (66 mil bolbos), com 114 árvores, mas também relvados e até um jardim “secreto”, como também pela vista soberba que nos dá do imponente skyline daquela zona da cidade.
Nove Iorque nunca me cansa e espanta-me sempre. Foram quase duas semanas refrescantes, de carregamento das baterias culturais e de um vislumbre de esperança de voltar a uma vida “normal”.