Na terra que me viu nascer, na terra onde vivo para bem e para mal dos meus pecados, ainda há muito gente a cuspir no prato onde come. O que quero eu dizer com isto?
Quero dizer que estando estas terras inseridas na região saloia predominantemente agrícola, praticante de uma agricultura que não subscrevo nem defendo, uma agricultura principalmente intensiva, pouco sustentável e apoiada em muito adubo químico e herbicida e, sobretudo, a parte mais dolorosamente visível dessa agricultura: a quantidade de plásticos que se geram, desperdiçam e abandonam na via pública sem qualquer pudor.
O lixo comum
Os plásticos pretos usados como cobertura de solo e as mangueiras dos sistemas de rega são frequentemente substituídos e deixados em qualquer lado por vezes durante meses.
Não sei qual a legislação referente a este tipo de comportamento, mas está claramente a ser ignorada. Sim, pois não acredito que a lei defenda que os plásticos devam ser deixados na via pública do lado de fora dos contentores até que alguma entidade descubra que ali estão e os recolha, dando-lhes depois não sei que rumo.
Outro tipo de “lixo” que por aqui abunda – e em relação a esse usarei sempre aspas pois esse não é “lixo” e merecia ser tratado e legislado com rigor e seriedade – é o “lixo” verde.
O “lixo” verde
O chamado “lixo” verde é um verdadeiro tesouro desaproveitado. São aloés, videiras, ramas de batata-doce, alecrins e alfazemas, agapantos e bergénias, funchos e cascas de feijão, melaleucas e figueiras, relvas e hortícolas, roseiras e silvas e muitas “ervas daninhas” que até têm utilidade medicinal e alimentar.
Tudo isto a crescer, a secar e a amontoar-se na berma das estradas, do lado de fora dos contentores. Sem que ninguém se digne a olhar para aquilo como um recurso do qual se pode e deve tirar proveito, incluindo benefícios económicos.
A meu ver, seria algo muito simples de fazer se as juntas de freguesia e as câmaras, neste caso de Sintra, colocassem à disposição dos jardineiros um terreno onde esse “lixo” fosse entregue para depois ser triturado e regressasse à terra em forma de estilhas ou de composto. Um centro de compostagem, produção de biomassa, dada a enorme saída de mercado para este tipo de resíduos e nada é feito. Não sei se a falha está na falta de visão de quem produz e descarta incorretamente tanta matéria orgânica ou na falta de vontade e interesse político em resolver um problema que se agiganta. Se de facto essas infraestruturas existem, desconheço e provavelmente os jardineiros e as empresas de jardinagem ou desconhecem também ou fingem que desconhecem.
Uma reflexão que é de todos
Que fazer? Nunca achei que a aplicação de coimas fosse a melhor forma se modificarem comportamentos, tão pouco civilizados neste caso. Teríamos de pensar todos em conjunto qual seria a melhor forma de dar resposta a este flagelo que é o lixo.
Aqui não me refiro apenas ao “lixo” orgânico mas também e sobretudo a todo o lixo que não se recicla por preguiça e a todo o que é descartado por cima e em redor do “lixo” verde. O lixo resultante de obras, tais como latas de tintas, óleos e vernizes, sacas de cimento, madeiras podres, colchões, frigoríficos, mobílias inteiras, enfim tudo ao molho e fé em Deus num autêntico ato de e não digo selvajaria por respeito aos selvagens, que nesse aspeto são muito mais respeitadores da casa onde vivem do que as pessoas ditas civilizadas, mas que constantemente cospem no prato onde comem, conspurcando ruas e jardins e beira-mar (beatas de cigarro, oh, meu Deus!, uma beata polui 50 litros de água) e é vê-los, todos senhores de si sentadinhos a contemplar a maravilha do oceano e ao mesmo tempo atirando-lhe com beatas. Faz sentido?
Nada faz sentido neste tipo de comportamento medieval. Vamos lá pôr a mão na consciência e tornarmo-nos consumidores conscientes e atentos. Vamos começar a perguntarmo-nos sempre para onde vai o lixo que produzimos todos os dias. Conseguimos reduzi-lo? Claro que sim. Conseguimos reaproveitá-lo? Quase sempre.
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