Ornamentais

Não há rosas sem espinhos

Dotadas de beleza extrema, fragrâncias, diversidade de cores e tamanhos, as roseiras exigem cuidados dobrados. Conheça o desafio do mês.

A roseira é uma das plantas mais populares do mundo. Desde há mais de 2000 anos que é muito apreciada quer pela simbologia quer pela be leza que irradia nos jardins. E é por isso que tem sido um desafio para os botânicos, jardineiros e especialistas a criação de roseiras com novas cores, novas fragrâncias e de diferentes dimensões e portes.

Pertencente à família Rosaceae e ao género Rosa L., esta planta ornamental tem origem na Ásia, entre o oeste da China e as zonas montanhosas dos Himalaias, estendendo-se pela Europa, América do Norte e África do Norte e, também pelo Alasca, Sibéria, Etiópia e México. Existem cerca de 150 espécies de roseiras bravas ou espontâneas. Em 1789, o botânico inglês Sir Joseph Banks (1743-1820) introduziu na Europa uma rosa revolucionária vinda da China, a R. chinensis Jacq. (também conhecida por R. indica Lour.).

Esta tinha muitas cultivares que variavam na cor, forma e hábitos de crescimento. Em 1830, uma das cultivares da R. chinensis Jacq. foi cruzada com a R. odorata (Andrews) Sweet, dando origem à primeira de um novo grupo que veio a ser chamado de Rosas de Chá.

Rosa ‘Bela Portuguesa’

Após 1850, já se tinham produzido mais de três mil cultivares e, a partir daí, os criadores de roseiras têm feito avanços excecionais no desenvolvimento de uma melhor flor e de uma planta com um excelente crescimento. Apesar desta evolução, apenas nas últimas seis décadas se tem investido mais na procura de plantas resistentes a pragas e a doenças, que sejam saudáveis e possam suportar as suas bonitas flores. Em Portugal, no fim do século XIX, através do Jornal de Horticultura Prática, Duarte de Oliveira

Júnior dava a conhecer as novidades e as conquistas no mundo da horticultura. Entre 1892 e 1909, é de destacar o contributo do francês Henri Cayeux, como jardineiro chefe do Jardim Botânico de Lisboa, que, apaixonado pela botânica, se dedicou à introdução, cultivo e hibridação de plantas de grande valor ornamental, criando cinco novas cultivares: ‘Étoile de Portugal’, ‘Bela Portuguesa, ‘Amateur Lopes’, ‘Dona Palmira Feijão’ e ‘Lusitânia’, mas apenas as duas primeiras foram bem-sucedidas, e apenas a ‘Bela Portuguesa’ se encontra atualmente no mercado. Nos anos 60 do século XX, o inglês David Austin (nascido em 1926), com a criação da sua primeira cultivar ‘Constance Spry’, em 1969, fundou os David Austin Roses, uns viveiros no Reino Unido reconhecidos pela sua excelente coleção de roseiras.

Foi aí que nasceu um novo grupo, as roseiras inglesas, que combinam numa mesma planta algumas características das roseiras modernas (como a forte resistência a doenças e a floração contínua) com o charme das roseiras antigas (e.g., a forma, a fragrância e a variedade de cores das flores).

A família das Rosáceas, à qual pertence a roseira, é provavelmente a que inclui uma maior diversidade de formas, tamanhos e cores. A esta família pertencem arbustos de forma esférica ou irregular que vão desde apenas 15 cm de altura, até trepadeiras com 12 metros. A folhagem vai de densa a semidensa, com folhas que podem ir de 2,5 cm até 18 cm ou maiores.

As roseiras têm um enorme período de floração, que pode ir desde o final da primavera até ao início do inverno, florindo apenas uma vez ou durante toda esta época. As flores podem ser simples, com cinco pétalas, suntuosas, flores de múltiplas pétalas, como as roseiras antigas de jardim, flores dobradas, podendo ainda crescer em grupos de número variado.

Rosa ‘Constance Spry’

As roseiras são arbustos ou trepadeiras, providas de acúleos e com flores de uma beleza extrema com uma grande diversidade de cores, perfumes e tamanhos.

Podem agrupar-se em diferentes grupos: roseiras de espécies puras (agrupam as roseiras-silvestres), geralmente apresentam flores solitárias e com cinco pétalas, como é o caso da Rosa canica, R. rugosa, R. sempervirens, R. villosa; roseiras antigas de jardim, com flores dobradas e com mais pétalas dos que as roseiras de espécie pura; híbridos de rosa-chá, arbustos de flores grandes, abundantes e excelentes para corte que florescem entre maio e outubro; roseiras floribundas com grandes grupos de flores, mais pequenas do que as dos híbridos de rosas-chá, em que as flores podem ser singelas, semidobradas ou dobradas e florescem de maio a outubro; roseiras arbustivas, geralmente híbridos entre as roseiras de espécie pura e as roseiras antigas; roseiras trepadeiras, que atingem alguns metros e apresentam flores singelas e perfumadas nos meses de maio a julho, como é o caso das de flor salmão da Rosa ‘Bela Portuguesa’ e as de flor cor-de-rosa R. ‘Santa Teresinha’ e as amarelas da R. ‘Banksia’; e roseiras sarmentosas, que têm o caule mais flexível dos que as anteriores, com grandes grupos de flores singelas, semidobradas ou dobradas.

Em 2019, o Jardim botânico da Ajuda enriqueceu a coleção de roseiras no tabuleiro inferior, acrescentando um importante atrativo para os visitantes.

Cuidados a ter na manutenção das roseiras:

1. Podar: anualmente que dever ser realizada uma poda no fim do inverno (fevereiro)

2. Remover de flores murchas: no verão, devem remover-se as flores murchas, pois estas reduzem o crescimento de novas hastes;

3. Regar com frequência principalmente nos meses quentes;

4. Fertilizar com regularidade;

5. Proteger e tratar das doenças e pragas: especial cuidado com os ácaros, os afídeos, as cochonilhas e as tripes; com a ferrugem, as manchas negras da roseira, o míldio, o oídio e a podridão cinzenta. Todas estas pragas e doenças geralmente só atacam entre a primavera e o fim do verão.

Referência bibliográfica:

Reis, M. P. A. C. N. (2010). A Aplicação das Roseiras na Arquitectura Paisagista, Exemplo Práctico no Jardim da Parada na Tapada da Ajuda. Dissertação de Mestrado em Arquitetura Paisagista, Instituto Superior de Agronomia, Lisboa

Com a colaboração de Teresa Vasconcelos

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