
Uma feira que fala a linguagem do mercado e do futuro
De 8 a 11 de outubro, a Landscape Istanbul Fair afirmou-se como montra estratégica do sector das plantas ornamentais e soluções para espaços verdes, juntando produção, comércio e pensamento urbano. Em paralelo, o World Urban Parks Symposium trouxe a bússola: cidades mais frescas, inclusivas e biodiversas.
Na sua quarta edição, a Landscape Istanbul Fair ocupou os pavilhões 9-11 com quatro dias de negócios, demonstrações técnicas e encontros decisivos entre produtores, fornecedores e projetistas. Ao mesmo tempo, o World Urban Parks Symposium acrescentou conteúdo e urgência: inclusão, conforto térmico e gestão da água passaram do discurso às estratégias de projeto.
A força produtiva turca: bolbos, viveiros e “retalho inteligente”. A Turquia apresentou-se com músculo, diversidade e profissionalização. Nos bolbos, Asya Lale e Atlas Lale evidenciaram um conhecimento finamente lapidado.
Atlas Lale
A história de Merve Yaşar Can (fundador da Atlas Lale) resume a ambição do sector: o pai parte para os Países Baixos para aprender o negócio, regressa e instala a empresa em Karaman, perto de Konya, zona de solos arenosos, avermelhados e muito drenantes, ideais para bolbos. A operação decorre a céu aberto, com cerca de 60.000 m² de produção, e um modelo de vendas focado no mercado interno (80%), via garden centers, construtores e superfícies comerciais, e 20% para Azerbaijão e Irão. A equipa soma dez trabalhadores permanentes, reforçada com mais 20 sazonais na colheita. Um detalhe revelador: cada bolbo é vendido em caixinhas individuais, com expositor modular muito apelativo — merchandising que valoriza o produto e educa o consumidor.


Asya Lale
Por outro lado, a Asya Lale ajustou a estratégia à realidade climática e económica: suspendeu a produção própria de túlipas há três anos (as que comercializam são hoje importadas dos Países Baixos), concentrando-se em espécies com maior viabilidade local, como gladíolos e dálias vendidas maioritariamente no retalho alimentar (Aldi, Lidl e outros).
O preço de referência muito baixo de cada bolbo torna impossível competir com a escala neerlandesa. Acresce a pressão de políticas municipais: menos investimento em maciços de bolbos, por exigirem mais rega e manutenção, precisamente quando primaveras e outonos encurtam e as chuvas se tornam irregulares. O mercado ressentiu-se ainda do pós-pandemia— cidadãos mais reservados no uso do espaço público — e do impacto do terramoto, que redirecionou orçamentos municipais para a reconstrução. Apesar do contexto, há visão circular: a exploração integra produção de biogás a partir de mais de uma tonelada diária de resíduos verdes das estufas e campos, cujos desperdícios retornam ao solo como adubo verde. A meta é reduzir fertilizantes sintéticos e pesticidas para <60% do total aplicado e poupar água pela melhoria do teor de matéria orgânica no solo.
Samast Yalova
Neste viveiro, uma empresa familiar com o pai e duas filhas na gestão, confirmou-se a vitalidade da faixa produtiva do mar de Mármara: 20 hectares, sete dos quais de estufa e mais de 200 variedades de plantas, principalmente de cobertura, flores de época (Euryops, cana-indica, etc.) e aromáticas (sálvias e alfazemas, entre outras) e também plantas de folhagens estruturais como o Phormium.
A produção é essencialmente em vasos pequenos (até 25 L), a empresa conta com11 trabalhadores permanentes e reforços sazonais. Os clientes-âncora são paisagistas, municípios e outros produtores do mercado turco, com exportações pontuais para países vizinhos.


Vasos Alya Plastic
Aqui pudemos ver vasos e floreiras para interior e exterior, com uma linha ECO fabricada com 100% de material reciclado (com cores como cinza, capuccino, antracite, verde) e uma gama 3D — relevos decorativos, como borboletas, e vaso interior, que se pode retirar. O negócio, iniciado em 2014 (herdeiro de uma experiência familiar com 50 anos), assenta em exportação (Polónia, Itália, Alemanha, Países Baixos, Rússia, Geórgia, Venezuela, México) e preços competitivos, num país onde a inflação torna a gestão de custos um exercício de acrobacia.
Plataforma digital Toptan Bitki
No plano digital, esta empresa mostrou como a tecnologia pode abrir o mercado: uma plataforma/aplicação que agrega disponibilidades de 42 produtores (não funciona como Marketplace, mas sim como plant finder) onde os clientes podem comparar preços, fotografias e calibres das várias plantas por produtor. As grandes vantagens são transparência para o comprador e escala e melhor preço médio para o produtor. Este é um projeto familiar com ADN tecnológico e ambição de competir com as grandes distribuidoras.


Novidades que chamam a atenção
Entre a enorme variedade de plantas há sempre alguns elementos que chamam à atenção. Por exemplo a curiosa pistácia em espaldeira — sinal de que o mercado procura formas vivas “prontas a usar” para fachadas e pátios, aliando sombra, perfume e textura num único gesto de projeto.
Também há um cuidado cada vez maior com a forma de apresentação dos stands e das plantas, sendo a embalagem hoje ferramenta de conservação, educação e venda.
Itália presente: escala, curadoria e exemplares de exceção
Entre os estrangeiros, três gigantes italianos elevaram a fasquia: Caporal Plant, Piante Faro e Vannucci Piante — este último pela primeira vez nesta feira.
Faro e Vannucci trouxeram a escala (centenas de hectares) e a curadoria botânica para grandes projetos, com a apresentação de exemplares botânicos de elevada qualidade. Ambos têm projetos extraordinários e inovadores. Como o Pistoia Nursery Park (Vannucci), coleção-modelo com exemplares médios e grandes que inspira arquitetos paisagistas, e o Radicepura, jardim botânico e festival de jardins mediterrânicos organizado pela família Faro, na região da Catânia na Sicília.
A Caporal sublinhou a resiliência em contexto inflacionário e a leitura fina do mercado turco, um verdadeiro hub para o Médio Oriente.


Parques para todas as idades: inclusão, conforto e água
O World Urban Parks Symposium foi claro: com populações a envelhecer, os parques têm de ser acessíveis e confortáveis — percursos sem barreiras, sombras generosas, bancos ergonómicos e zonas de encontro.
No capítulo da cidade-esponja, casos como Basileia mostram que telhados e fachadas verdes, pavimentos permeáveis, árvores com solo estruturado e retenção de pluviais refrescam o microclima, recarregam aquíferos e ampliam a biodiversidade.
Biodiversidade como método: a lição de Great Dixter
O histórico Great Dixter lembrou que jardins intensamente cultivados podem ser reservas de Natureza: sucessão de florações, zero pesticidas sintéticos desde 2007, fertilização orgânica e habitats (muros cobertos, madeira morta, prados) sustentam fauna abundante — de borboletas a aranhas raras. Prova viva de que estética e ecologia podem caminhar de mãos dadas.