O imaginário, o fantasioso, irreal, fantástico e fictício, ou o fabuloso mundo dos jardins.
A vila de Ponte de Lima acolhe o 19.º Festival Internacional de Jardins no Parque dos Labirintos, junto ao rio Lima. Um longo caminho foi percorrido, mas o seu sucesso nacional e internacional é inegável. Anualmente, dezenas de milhares de visitantes percorrem estes jardins e inúmeros jovens artistas oriundos de vários continentes respondem a este desafio, o que demonstra o interesse por este evento, com uma forte marca ambiental. Este ano, a exposição subordinada ao tema O imaginário na arte dos jardins será uma experiência enriquecedora e inspiradora para os visitantes, segundo o presidente do júri, Francisco Caldeira Cabral. 31 maio 2024– Inauguração do Festival Internacional de Jardins de Ponte de Lima. Este ano contou coma presença do presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar Branco.
Constelação da Imaginação
Polónia
Os autores polacos Daniel Malinowski e Marta Kuklewska fazem uma associação entre as estrelas e a imaginação que despertam em nós. Sete chapas metálicas azuis, com orifícios circulares, quais estrelas, definem sete constelações: a Oríon, Capricórnio, Touro ou Cassiopeia. O jardim tem mais duas leituras interessantes – permite a observação das estrelas à noite, através dos orifícios circulares; fazendo a projeção das placas no solo, deparamos com a constelação Ursa Maior. A imaginação não tem limites.
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O Mar de Areia
França
Um jardim que desafia a nossa imaginação – elementos muitos marcantes definem desde logo a ideia das artistas e arquitetas francesas Britanie Bory e Viviane Le Deunff – um passadiço central em madeira sobre um mar de areia. Das viagens através dos jardins, e nos vários continentes, surgem memórias avivadas pelo poder da imaginação – jardins secos do Japão ou arquipélagos num mar tranquilo, rochas a simbolizar as falésias do Algarve ou grupos de plantas que simbolizam “ilhas verdes com bosques floridos, como São Miguel, nos Açores”. Viagens por mar e por terra, entre o Oriente e o Ocidente.
Jardim intenção paradoxal
Brasil
Neste jardim temos uma placa definidora da mensagem criativa dos autores brasileiros Fabiana Boff, Fernanda Yamasaki e Toni Backes. Imagine ser jardim e integre a realidade da vida! A seguir, Escolha sua realidade favorita e Compartilhe!
Cenário A ou Cenário B
Escolher um ou outro cenário é sempre uma decisão pessoal, embora influenciados pelo meio que nos rodeia, contudo, “O imaginário é como um espaço aberto, permite a invenção do possível, como prenúncio de uma outra realidade”. Brilhante!
O Portal dos Sentidos
Portugal, França
Joachim Luxo, professor e coordenador do projeto Totem, Atelier Français d’Arts Plastiques de Porto, tem a responsabilidade de prestar formação artística a jovens, e não só, que queiram beneficiar da experiência da sua escola de artes plásticas. Assim, liderou este ano uma equipa de sete elementos, concretizando ideias artísticas e inovadoras, sob o tema do festival. “Tudo gravita à voltado centro – o nada, em volta de um *Triskle, junção de três espirais no sentido anti-horário”. As espirais levam-nos a cápsulas, a abrigos de jardim ou a “palhotas” em cortiça que nos despertam os sentidos mais primitivos. Estas construções simbólicas, sete na totalidade, apresentam formas e materiais diversos, obrigando-nos a entrar em mundos paralelos no espaço de um pequeno jardim e da nossa grande imaginação.
* Símbolo conotado com o sagrado e com o simbolismo da origem da vida.
Jardim ao ar livre
Hungria
O Impressionismo, movimento artístico do século XIX, serve de mote a este jardim, segundo as suas criadoras Izabella Czel e Viktoria Lilla Varga. A Natureza apresenta-se exuberante, as molduras enquadram o cenário possível; por sua vez, a pérgula convida à meditação, e as plantas têm o papel principal neste e em todos os mundos.
O Jardim Dinamarquês
Dinamarca
Uma ode à Dinamarca, à sua organização social e económica e ao seu empenho na sustentabilidade ambiental. Um jardim de afetos, que enche de orgulho os seus criadores, Maria Trindade e Ib Ehrenreich Thomsen. A bandeira nacional dinamarquesa Dannebrog ocupa o centro, desenhada com flores vermelhas e brancas. Destaca-se igualmente uma instalação com dez contentores do lixo que aponta para o rigor do país na reciclagem de resíduos domésticos (fazem-no em 11 grupos distintos). O “totem da comunicação” e os vários expositores com cúpula semiesférica informam o visitante sobre factos relevantes do país, além dos seus usos e costumes. Segundo os seus autores, esta é uma experiência sensorial através de um jardim, com informação da história dinamarquesa. Uma experiência a não perder!
Jardín del Leteo
Espanha
Uma lenda, um rio, e um jardim da autoria de Sonia Dacko retratam as origens de Ponte de Lima. O jardim inspira-se na lenda do rio Lethes – a legião romana, ao avistar o rio Lima em Ponte de Lima, teme que seja o terrífico rio do esquecimento (Lethes), pois aquele que bebesse das suas águas ou apenas lhes tocasse esqueceria toda a sua vida anterior. Um bravo cavaleiro romano no ano 138 a.C., de seu nome Décimo Júnio Bruto, arrisca a sua travessia, porém nada acontece; Ponte de Lima surge aprazível na outra margem, com os seus terrenos férteis, e a memória dos soldados romanos mantém-se intacta para todo o sempre. A importância dos rios atravessa lendas e constrói territórios. Neste jardim destaca-se a invocação do rio Lima, a sua ponte, a caverna rochosa de Hypnos, numa alusão clara à lenda do rio Lethes.
Olho interior
Alemanha, Suíça
Uma viagem introspetiva é a mensagem desta equipa da Universidade de Recursos Naturais e Ciências da Vida – Viena de Áustria. Lena Holzwig, Henrietta Krüssenberg, Moa Rosin e os professores Roland Wück e Roland Tusch transportam-nos ao interior de nós próprios por caminhos sinuosos, entre plantas rasteiras, ou altas, espinhosas e agrestes, ou sedosas e floridas, até a um núcleo central de forma circular e espelhada. Aqui, seremos obrigados a olhar para dentro, a refletir sobre a nossa experiência de vida e a traçar novos caminhos ou apenas voltar à rotina dos dias.
O sonho imaginário de uma infância asiática
Áustria, China
A imaginação tem um jardim no seu interior. Esta fábula é-nos contada por Katharina Holik, Sophie Kerbl, Hui Liu e pelos seus professores Roland Wück e Roland Tusch, da Universidade de Recursos Naturais e Ciências da Vida – Viena de Áustria. No centro deste mágico jardim, repleto de memórias e imagens, existe uma majestosa cerejeira, cujas flores esvoaçantes “dão vida aos sonhos de infância, ressuscitando a alegria pura”. As plantações pretendem retratar o jardim oriental, paisagens pitorescas e a essência da cultura japonesa. Aqui quebram-se as barreiras entre a realidade e a imaginação, entre o caos e a harmonia. Convidam-se todas as pessoas a “regressarem ao encanto dos seus sonhos de infância neste jardim asiático imaginário”. Belo.
Image(s) in air
Portugal, Bélgica
“Levantar voo” e dar asas à imaginação para fugir ao ruído dos dias, eis o lema deste jardim, da autoria das paisagistas Luísa Correia, Joëlle Tintinger, Mariana Tomé e Arthur Tanier. Somos invadidos por um turbilhão de imagens, notícias que “ocupam o nosso espírito e o nosso tempo, toldando a nossa imaginação”. Mas os jardins permitem o efeito inverso, levando o nosso ser a dar primazia ao essencial, ao que realmente importa, enquanto seres habitantes do planeta Terra. Estamos num “jardim santuário, tranquilo e acolhedor, num planeta para cuidar (…) onde os homens e a Natureza encontrem um equilíbrio”, afirmam convictamente estes autores, ao falarem acerca da sua obra em Ponte de Lima.
Jardim da Moura
Inglaterra
Este jardim, cujos autores são Sara Leão, Georgiana Templeton, Mohamed Baiomy, Charlie Lowsley Williams, da Leeds Beckett University, retrata o imaginário das Mil e Uma Noites, mas em Ponte de Lima. Amor, ciúme, crime e traição, (suposta) infidelidade, injustiça, arrependimento, sentimentos cujo pano de fundo são, neste caso, a religião católica e a islâmica. O jardim sustenta estas emoções, muito próprias e próximas da cultura árabe e da ocidental; temos como suporte desta dramática história os ambientes de influência mourisca – a fonte, a treliça, os pavimentos, a vegetação que esconde o crime, a sombra e o sombrio. Esta é uma reflexão sobre contos antigos, neste caso A Mal Degolada, pouco consentâneos como papel atual da mulher na sociedade e na família. Realço o número alarmante de mulheres assassinadas pelos seus maridos e/ou companheiros. Ao revisitar estes contos, coma sua prosa inclemente sobre os comportamentos femininos, percebemos um paralelismo com a atual e continuada violência sobre as mulheres. Fica a reflexão.
A exposição de jardins estará patente ao público até 31 de outubro 2024. À entrada de cada jardim há uma placa com a descrição do mesmo, com os autores e patrocinadores, além de um QR code que remete para o link com toda a informação sobre os vários festivais.
CONCURSO 2025
Tema: Jardim da paz. Jardim para a paz.
Candidaturas: Até 10 novembro de 2024. Concorra. Participe nesta aventura pelos jardins, reivindicando a paz no mundo, pois esse é o tema do ano de 2025.
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