Jardins & Viagens

Os parques do Príncipe Von Pückler-Muskau

Tendo herdado uma propriedade de 600 hectares no vale do rio Neisse, Hermann von Pückler-Muskau decidiu fazer uma obra de arte que “refletisse a imagem da sua família ou a aristocracia da mãe-pátria”.

O Palácio Novo (Neues Schloss) do Muskauer Park

O Palácio Novo (Neues Schloss) do Muskauer Park

 

Um amigo inglês, autor de um belo livro sobre jardins, On Landscape Design, ofereceu-me em 2019 a obra do príncipe Hermann von Pückler-Muskau Hints on Landscape Gardening, para ele uma bíblia que aplicou criteriosamente numa sua propriedade no Kent. Eu não escondi a minha ignorância sobre a existência de Pückler e dos seus parques e daí ficou a promessa que mos faria conhecer ao vivo.

A pandemia atrasou a concretização da promessa, mas este ano lá partimos com os respetivos cônjuges para Bad Muskau, na Alemanha, uma vilinha com uma população de 4000 habitantes, onde se situa a principal propriedade do príncipe.

Sem prejuízo da minha admiração pelos parques (já lá vamos), fiquei fascinada com a biografia do homem que não resisto a partilhar neste artigo.

Príncipe Hermann von Pückler-Muskau (1785-1871)

Herdou uma propriedade de 600 hectares no vale do rio Neisse e decidiu fazer do parque uma obra de arte que “refletisse a imagem da sua família ou a aristocracia da mãe-pátria”. A enormidade da tarefa, que só ficou pronta ao fim de 30 anos, esgotou-lhe as finanças. Com a total aceitação mulher, que colaborou sempre em todos os seus projetos, resolveu partir para Londres em busca de uma herdeira rica que com que
ele se casasse e assim pudesse dar continuidade ao megalómano projeto. Não foi bem-sucedido e apenas conseguiu angariar recursos através da publicação de livros de viagens (viajou vários anos pelo norte de África) que tiveram na época enorme sucesso, tal como o seu livro Hints on Landscape Gardening.

Mesmo assim, em 1845 foi obrigado a vender o Muskauer Park e a instalar-se em Branitz, uma outra propriedade pertencente à família, não muito longe de Muskau, onde prosseguiu o seu projeto paisagístico.

A “água é o olho do jardim”

A “água é o olho do jardim”

O Pückler Park

Um dia no Pückler Park não chega para explorar os 27 quilómetros de caminhos por ele desenhados, seguindo uma das suas regras básicas: os caminhos são os “guias mudos” de um parque, e a água é o “olho da paisagem”.

O parque foi completamente destruído nos bombardeamentos da II Guerra e apenas recentemente recuperado, numa incrível cooperação entre a Alemanha e a Polónia, uma vez que, na atualidade, é cortado pela fronteira entre os dois países.

Quer Branitz quer Muskau são jardins de paisagem, mas sem a pontuação de elementos românticos e de referência histórica (ruínas, esculturas, templos, pagodes, etc.) como vemos nos jardins ingleses do século XVIII. São jardins de caminhos, árvores e água, e Pückler teve
uma grande fonte de inspiração em Repton, que se reflete no enorme cuidado na colocação da vegetação (cerca de 300 mil árvores plantadas
ou transplantadas em Branitz).

A única crítica que aponto a ambos os parques é o demasiado crescimento das árvores (carvalhos, faias, tílias, castanheiros) que, nalguns casos, chegam a ocultar completamente importantes focos como, por exemplo, os próprios palácios.

No seu livro de regras paisagísticas Pückler alertava justamente contra este perigo e preconizava que “ De vez em quando até uma belíssima
árvore está por vezes posicionada de forma a contrariar o propósito de harmonia de toda a paisagem, e, por isso, deve ser sacrificada”.

O Pückler Park é o enorme entorno de dois palácios, o Altes Schloss, construído no século XVI, destruído pelo fogo e reconstruído no estilo Barroco em meados do século XVII, para ser novamente recuperado após a sua devastação na II Guerra, e o Neues Schloss, também do século XVI, mas ao qual o príncipe deu posteriormente uma aparência neorrenascentista, transformando o fosso tradicional num lago pitoresco. Tal como o velho palácio, também ficou totalmente destruído na guerra e foi recuperado após a reunificação da Alemanha, já no final do século XX. Nas palavras do diretor do Muskauer Park, Cord Panning, com quem tivemos o prazer de jantar, ele representa “uma fusão harmoniosa de um ideal filosófico com uma aparência de naturalidade, dando assim origem a uma monumental obra de arte”.

A “pirâmide do lago”, onde Pückler e a mulher estão enterrados

A “pirâmide do lago”, onde Pückler e a mulher estão enterrados

Branitz

Não tem um palácio com a magnificência de Muskau, mas tem um belíssimo palacete com um “jardim de prazer” em torno da casa, sendo todo o conjunto um paradigma do romantismo próprio da época, onde não faltam exemplos da extravagância típica do proprietário (conhecido por mad Pückler) como as duas pirâmides cobertas de erva. São elementos de total surpresa, que se nos deparam no percurso do parque. Uma das pirâmides, situada num lago, destinava-se a acolher os seus restos mortais e os da mulher.

Branitz tem em permanência 11 jardineiros e uma “universidade” para árvores todas plantadas segundo a sua idade e tamanho e que se destinam à replantação de ambos os parques quando é necessário.

Branitz é a obra-prima de Pückler que afirmava: “A minha tarefa agora é criar um oásis nas areias do deserto”.

 

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