Outono é o tempo de as folhas aconchegarem o chão até se tornarem elas próprias chão, a manta transformada em cama, em húmus rico e nutritivo, voltando a alimentar a árvore sua mãe.
Outono é o tempo de dióspiros suculentos e doces pesando nos ramos que se dobram até beijarem o solo e oferecerem à terra alguns dos seus
frutos maduros que vão sendo partilhados entre pássaros e pessoas.
Outono são os pomares a mudarem de cor, pereiras e macieiras a brincarem com o vento e com a luz oblíqua que atravessa os dias e faz voar as folhas a fingir de borboletas.
Outono são os pilriteiros nos campos a convidarem pássaros e pessoas a degustar os seus pequenos frutinhos vermelhos, têm pouca polpa, mas, em infusão, decocção ou tintura, constituem um excelente remédio para aliviar e tratar várias patologias cardíacas e também ataques de
pânico e ansiedade, um planta que acalma corações agitados.
Outono pertence às romãzeiras de folhas douradas carregadas de romãs que amadurecem nos ramos e se abrem para o céu e para o chão, expondo a abundância dos seus frutos saborosos e ricos em antioxidantes e vitaminas; podemos comê-los em saladas ou fazer sumo com um
espremedor da mesma forma que fazemos sumo de laranja.
Outono é tempo de as sementes nos revelarem as suas inteligentes estratégias de sobrevivência aproveitando a boleia do vento e de tudo o que mexe, pessoas, animais, insetos, pássaros, lá vão elas nos bicos das aves até serem largadas em alguma fresta ou algum recôndito buraquito escuro onde possam germinar e assim garantir a continuação da sua espécie. Também gostam de se agarrar no pelo dos animais que lhes fazem o favor de as levar dali para longe fazendo-as crescer noutras paisagens. São muitas as estratégias das plantas e os mecanismos de libertação de sementes.
Outono é tempo de os marmelos ficarem maduros e de os cogumelos começarem a emergir nos bosques e pinhais depois das primeiras chuvas.
Outono cheira a terra molhada, a palha, a água nas ribeiras.
Outono cheira a uvas e a vindimas, cheira a adegas e a mosto.
Outono são as abóboras nos telhados ou nos telheiros todas enfileiradas, garantindo sopas quentinhas para o inverno e alimento para os porcos.
Outono são as folhas das faias a pintarem as serras de cor de laranja, os gingkos dourados atapetando o chão das cidades, os liquidâmbares vermelhos como as parreiras já quase despidas.
Outono é a vinha-virgem em tons quentes a escorrer pelas paredes das casas e pelos muros velhos, escutando os segredos da pedra, arrastando-se pelos pátios e pelas árvores.
Outono são os plátanos e os áceres confundindo folhas e cores; a folhagem do ácer é mais avermelhada, a do plátano, mais dourado-castanhada. Ambos deixam o chão coberto de folhas estaladiças com que as crianças brincam a caminho da escola.
Outono é tempo de olharmos para dentro, olhando para fora, é tempo de embalar a terra e o jardim, é tempo de nos embalarmos, de fazer pouco, de sentar à lareira. Ler livros, fazer compotas e geleias, contemplar muito.
Outono é tempo de agradecer e de esperar até que a seiva acorde e volte a subir acordando as árvores e todas as plantas do seu sono regenerador, salpicando a paisagem de muitos verdes que aos poucos vão chamando aos campos as cores das flores até que a primavera cante a sua glória no regresso das andorinhas e no chilrear de todos os pássaros.
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