Jardins & Viagens

Palácio e Parque Biester

 

Descubra o magnífico Palácio Biester e o seu parque, em Sintra, cenários do filme “A Nona Porta” de Roman Polanski.

 

Palácio Biester, Sintra

 

Dia 21 de dezembro tive a grande alegria de visitar o Palácio Biester e o seu parque, que abriu ao público este ano, em abril.  

Esta é uma casa muito presente no imaginário de quem conhece e visita Sintra, pois localiza-se mesmo ao lado da Quinta da Regaleira. É também muito conhecida por ter sido a casa do filme “A Nona Porta” de Roman Polanski, protagonizado por Johnny Depp, baseado no livro Clube Dumas de Arturo Pérez Reverte, um dos meus livros favoritos do autor. Neste filme, o protagonista é um negociante de livros antigos que tem como missão encontrar todas as cópias de um livro que se crê tenha sido escrito pelo próprio Lúcifer.

Esta casa, está envolta em mistério, drama e toda a simbologia dos templários, por isso, visitar este palácio é muito mais do que uma visita a um espaço físico, tem toda uma envolvência e mistério que se nos deixarmos levar, conseguimos sentir quando passeamos pela casa e pelo jardim.

 

História

Esta é uma propriedade privada que foi comprada pelos proprietários atuais há duas décadas e que tem sido usada como casa de férias desde então.

Anteriormente pertencia a uma família americana que a tinha usado como primeira residência durante muitos anos.

Esta propriedade foi adquirida em 1886 por Frederico Biester e a sua mulher Amélia de Freitas Chamiço Biester. Alguns anos mais tarde viria nascer o palácio que na época era chamado de Chalet Biester.

 

O parque e os jardins Biester

Localizado numa encosta com declive acentuado, que se vai abatendo desde a Estrada da Pena até à Avenida Almeida Garrett, este é um parque com vegetação frondosa e com muita água que aparece em numerosos lagos e fontes e que provém da serra.

Foi desenhado por François Nogré , um paisagista francês de quem pouco sabemos. Para além do projeto do Palácio Biester, François Nogré fou também o autor do projeto do sanatório da Parede.

O paisagista, inspira-se na magnifica obra que o Rei Consorte D. Fernando tinha feito no Parque da Pena, e que inicia todo o processo do romantismo sintrense. Escolhe criteriosamente as espécies arbóreas, cedros, ciprestes, camélias, fetos, etc. Desenha o parque, tirando partido de forma inteligente da sua topografia, criando caminhos, taludes, lagos, cascatas, pontes e grutas onde estes elementos fazem todo o sentido.

Hoje em dia o parque teve obras de remodelação. Os pavimentos foram alterados, tendo sido colocado um pavimento estabilizado que permite diminuir a manutenção.

As duas estufas têm, uma delas plantas tropicais (Monstera, fetos, etc) e a outra algumas orquídeas, principalmente cymbidium e phalaenopsis  e bromélias e estão a ser melhoradas, quer a nível de coleção, quer a nível de manutenção.

Existe também um pequeno miradouro com bancos, com um conjunto de fantásticos azulejos em relevo da autoria de Bordallo.

Existe neste momento uma simpática Casa de Chá, que está concessionada á Famosa Casa do Preto, onde os visitantes podem saborear as famosas queijadas, travesseiros e outras deliciosas especialidades de Sintra.

Passear nestes caminhos, em que a vegetação típica de Sintra, com as suas camélias, fetos, aucubas, acantos, agapantos, vincas, forram ao taludes e nos dão uma sensação de frescura é uma ótima forma de conhecer este espaço.

No inverno somos surpreendidos pela floração das kniphofias e das camélias e pela intensa frutificação encarnada dos tamarilhos, que nos surpreende pela sua beleza ornamental, mas que são igualmente deliciosos.

 

O palácio

Dando resposta à encomenda dos seus proprietários, os interiores do palácio foram concebidos pelo arquiteto José Luís Monteiro para dar resposta por num lado à  sua vida do dia a dia e por outro a uma vida social bastante intensa que levavam.

Desde a magnifica entrada, às salas, de estar, jantar, salão de festas, sala da música e biblioteca, todas as áreas sociais são dotadas de grandes janelas e portadas muitas delas com passagem direta para os terraços.

Há sempre uma grande preocupação com luz e  com todos os trabalhos de madeira.  O mestre entalhador era magistral Leandro de Sousa Braga, que foi selecionado para conjuntamente com  Manini, fazerem toda a decoração dos interiores.

As pinturas de Paul Baudry são de uma beleza e qualidade extraordinária e valorizam e embelezam cada uma das divisões onde se encontram.

Os elementos decorativos do palácio eram muito ricos, e o seu estilo fazia uma ponte entre o neogótico e o Art nouveau, que na época era o estilo mais recente.

Uma das inovações do palácio é o seu ascensor, uma inovação para a época da empresa de Raul Mesnier de Ponsard A Nova Companhia dos Ascensores  Mechanicos de Lisboa. Este ascensor tinha capacidade para quatro pessoas em pé e era operado manualmente por um homem, a partir de uma câmara situada no piso térreo.

A câmara iniciática é talvez dos locais, mais enigmáticos e intimidadores do palácio, a sua austeridade contrasta com a sofisticação da capela e de todo o resto do espaço e faz lembrar as modestas capelas templárias originais no caminho de Jerusalém, onde os candidatos são preparados para uma viagem ascética.

 

Decorações de Rafael Bordallo Pinheiro

Sendo Amélia e Federico um casal que cultivava o gosto por artistas contemporâneos, procuravam um toque mudéjar ao ambiente do palácio, uma vez que estamos em Sintra e este é um estilo bastante usual em alguns palácios e casas. Destaco as maravilhosas lareiras das salas, com os azulejos com motivos vegetais e os bancos do jardim com os seus azulejos com padrão original marcam a diferença neste espaço.

 

A capela de inspiração templária

Esta é talvez das peças mais bonitas e mais enigmáticas do Palácio. Com uma luz fabulosa que provem de grandes janelas e vários símbolos templários na sua decoração e na forma como foi projetada.

Destacam-se quatro vitrais impressionantes , da autoria de Hubert, um famoso vitrinista francês,  onde estão representados: são Francisco de Assis, Santa Teresa de Ávila, a Rainha Santa Isabel e São José.

A presença templária em Sintra é tão antiga como a reconquista aos Mouros, e a sua organização central localizava-se perto do Castelo dos Mouros ( que se vê muito bem do Palácio Biester).

A família Biester, abraçava este religiosidade que cuidava dos doentes, dos mais pobres e dos desprotegidos, ao mesmo tempo que em termos espirituais procurava criar no Palácio uma proteção mística contra o inimigo que que esteve mais próximo de Sintra: a religião Islâmica.

 

Amélia e Frederico e a sua história dramática e o Sanatório de Santana

As famílias de ambos foram muito fustigadas por mortes pelas epidemias, principalmente a família de Amélia que foi quase totalmente dizimada pela tuberculose, incluindo ela própria e Frederico, no final restou apenas Claudina Chamiço (tia de Amélia) que conseguiu mais tarde concretizar o sonho da sobrinha, mandando construir o sanatório por ela sonhado. O Sanatório de Santana na Parede, onde hoje é o Hospital de Santana.

 

Numa próxima edição da revista Jardins poderá ver uma reportagem pormenorizada sobre o Palácio Biester.

 

Como visitar

Horário de verão: 10.00 – 20.00

Horário inverno: 10.00 – 18.00

Preço: adultos – 10 euros; crianças e séniores – 5 euros

https://www.biester.pt

 

Referências bibliográficas

“Palácio Biester – A Arte e o Espirito “, Eduardo Laia, Abril 2022

 

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