Um complexo mandado construir por Filipe V em 1721 inspirado nos jardins de Versalhes.
Apesar de já ter ido umas boas dezenas de vezes a Madrid, nunca se proporcionou visitar a famosa Granja de San Ildefonso que conhecia apenas de fotografias e por a ter estudado no contexto dos grandes jardins europeus. A visita que fiz foi privilegiada, guiada pela diretora do jardim e fora do horário dos turistas.
Todo o complexo de La Granja foi mandado construir por Filipe V (1683-1746), rei de Espanha, Nápoles e Sicília e neto de Luís XIV. O rei era pouco amigo dos calores de Madrid e dos frios do Escorial, e tinha saudades dos espaços amplos do jardim de Versalhes onde passara a sua infância.
No decorrer de uma caçada, descobriu, na encosta da serra de Guadarrama, o terreno ideal para implantar um futuro palácio. A vegetação frondosa, a abundância de água e a frescura da serra proporcionavam o ambiente de repouso e tranquilidade que ambicionava para quando se retirasse. Todo o complexo começou a ser construído em 1721, mas apenas ficou pronto cerca de 25 anos depois, dada a extensão da propriedade (146 hectares) e o facto de ser muito acidentado.
O terreno do jardim, por ser muito inclinado, impediu um traçado “à Le Nôtre”, embora a ideia inicial fosse a de fazer uma composição formal muito inspirada em Versalhes. É assim que La Granja não tem um grande parterre seguido por um eixo axial a perder de vista como encontramos em França, mas antes um labirinto de caminhos pontuados por 26 fontes, 148 estátuas e 67 bancos de mármore enquadrados por vegetação que apenas serve de fundo aos verdadeiros protagonistas do parque: as esculturas.
Le Nôtre valorizava as vistas, mas, no caso de La Granja, estas são curtas devido aos acidentes do terreno, e os percursos labirínticos amenizados pelos salons de verdure constituem um passeio para admirar as inúmeras e fontes que pontuam o jardim cujo principal encanto deve ser, justamente, os atos de água a jorrar de forma espetacular.
Infelizmente, estas só funcionam agora três dias por ano, devido à escassez de água, e são dias de evitar dadas as multidões que enchem o parque. Apenas encontrei água no enorme tanque que marca o limite dos jardins, pomposamente designado por El Mar, cujo acesso está apenas reservado a pernas musculadas e corações saudáveis dado o cariz íngreme do caminho. Fui lá apenas por medo de falhar “algo importante” e a minha mania de “ver tudo” para “ não escapar nada”, mas confesso que não me impressionou grandemente.
Assim, atualmente, o passeio por La Granja é um percurso para admirar fontes sem água e a elaboradíssima estatuária (de Frémin e Thierry) ao mais puro estilo rococó que farão a admiração de alguns, mas que não são muito a meu gosto. No entanto, esta composição da autoria de René Carlier e continuada por Boutelou e Marchand não deixa de ser admirável por ser única no espaço europeu e, por isso mesmo, merece uma visita.
Toda a estatuária é feita em chumbo e pintada a branco e cor de bronze, remetendo para referências mitológicas em que o protagonista é Diana Caçadora.
Há cinco composições notáveis que merecem admiração : a Carrera de Caballos, a muito kitsch praça De Las Ocho Calles, a Fuente da La Fama, uma evocação do Parnaso, e, é claro, os Baños de Diana.
La Granja inspirou Carlos IV, filho de Filipe V e rei de Nápoles, a mandar erigir Caserta num desafio ao pai, esse sim, um dos meus jardins
formais favoritos.
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