Serão as nossas mãos assim tão verdes?
Nos últimos anos, a tendência verde cresceu e todos nós virámos um #plantowner, seja com uma simples suculenta ou com uma imensa “selva urbana”. E quem nunca viu uma imagem de uma sala repleta de plantas fantásticas com o hashtag #plantsofinstagram? Estas imagens enchem-nos a alma sobretudo porque já percebemos que as plantas nos acalmam, aproximam-nos da Natureza, ensinam-nos a saber esperar e a cuidar do que nos rodeia. Contudo esta tendência que nos deliciou tem, claro, uma indústria por detrás e é muito fácil reagir ao impulso de comprar mais uma planta para a nossa coleção, independentemente das suas necessidades e características. Cabe-nos garantir que a nossa mão verde não é influenciada pelo consumismo, mas que contribui para a sustentabilidade do planeta. Mas como podemos nós garantir que ter plantas em casa é tão bom para o planeta como para nós? Eis algumas sugestões:
Paixão não é obsessão
Podia ser uma frase de um livro de autoajuda, mas nunca viu uma imagem de uma aplica-se perfeitamente ao mundo das plantas. Com a globalização, a obtenção de espécies de todo o mundo tornou-se mais simples, e a comunicação entre colecionadores tornou-se mais acessível. Contudo, gostar de plantas é apreciar o processo de crescimento, compreender os seus timings, ter tempo para cuidar e compreender as necessidades individuais de cada planta. A troca de plantas e a coleção de centenas de espécies não é sustentável e promove práticas pouco saudáveis para o ambiente. Ter uma coleção de plantas tropicais vai necessitar de mais tempo e mais recursos como, por exemplo, luzes de cultivo para compensar a ausência de luz natural. Ter uma Monstera variegata (um híbrido que chegou a atingir centenas de euros por pé) não precisa de ser um objetivo. Gostar de plantas é, acima de tudo, respeitar a Natureza, pelo que devemos sempre ter isso em consideração quando o impulso de comprar mais uma nos atinge.
Organizar vasos de plástico e optar por vasos biodegradáveis
Ter plantas vai sempre implicar ter vasos e, apesar de grande parte das soluções que se encontram já serem feitas de plástico reciclável, acaba por ser considerado um artigo descartável. Embora assim seja, podemos sempre reutilizar estes vasinhos que vêm nas plantas dos centros de jardinagem. Para quê comprar novos se podemos aproveitar anteriores? Uma boa dica é ter uma pequena coleção, organizada por tamanhos para que não seja preciso comprar um novo na próxima transplantação. Além disto, pode sempre optar por vasos biodegradáveis ou reutilizar recipientes: louças, panelas, latas, xícaras ou mesmo frascos podem servir como vasinhos temporários ou definitivos, mas atenção à drenagem!
Aproveitamento dos substratos anteriores
Muitas vezes, quando fazemos transplantações para outros vasos ou mesmo quando tivemos multiplicações que não foram bem-sucedidas, questionamo-nos sobre o que fazer ao substrato que restou. Quem tiver compostagem tem a vida mais facilitada, contudo, para quem não tem esta solução, o lixo comum não é o destino. Se não encontrar pragas no substrato, aproveite parte para misturar com o novo. A planta não sofre e o ambiente agradece.
Garantir a saúde das nossas plantas
Chegar a um centro de jardinagem e substituir uma planta que temos por outra novinha supersaudável não faz de nós bons jardineiros nem verdadeiros amantes de plantas/Natureza. Antes de desistir da sua Calathea moribunda ou da sua Phalaenopsis que teima em não florir, tente perceber o que está a correr mal com elas. Renovar a mistura de envasamento, verificar e investigar se existem pragas ou doenças ou garantir que as fertilizações estão a ser feitas na fase apropriada são algumas dicas que poderão evitar que compre mais uma planta ao invés de salvar a sua.
Fertilização
Para quem adora ter plantas no interior, é muito fácil cair na tentação de as fertilizar para garantir que estão mais verdinhas, que crescem mais um bocadinho, que geram mais um rolinho… mas para que isto aconteça temos de garantir que o solo está nutrido, não a planta! A tendência é sempre fertilizar em excesso para obter resultados mais rápidos, mas a verdade é que, fertilização em excesso também pode ser prejudicial. Se pretende que a sua urban jungle seja mais sustentável, compreenda que, apesar de ter sempre de garantir nutrição às suas plantas, pode fazê-lo sem recorrer a adubos sintéticos e não, não precisa necessariamente de utilizar receitas caseiras! No mercado encontra fertilizantes com ingredientes naturais ou mesmo orgânicos de boa qualidade. Claro que, se lhe for possível fazer o seu próprio composto ou fertilizantes caseiros, perfeito!
Comprar local
Sabemos que a globalização faz com que seja demasiado fácil e atrativo encomendar plantas de qualquer lado do mundo, contudo é crucial comprar de forma responsável. Embora o mercado nacional não seja gigante e também os centros de jardinagem comprem internacionalmente, temos muitos e bons produtores de plantas no nosso País! Optar por comprar em proximidade estimula o nosso mercado e reduz as emissões de carbono.
Conhecimento
Saber mais sobre as plantas (mesmo que não sejam as suas) vai consciencializar para a importância das mesmas no planeta e ajudar a perceber que há pequenos gestos que fazemos que mesmo que tenhamos uma grande coleção de plantas, não nos tornam assim tão amantes da Natureza. Procure saber mais e trocar experiências com outros colecionadores ou experts. Além de conhecer novas pessoas, encontrará atividades saudáveis para toda a família!
Em suma, cuidar com sucesso de qualquer planta é estimulante e pode facilmente tornar-se um vicio! Contudo, há que lembrar que, embora as plantas nos façam bem à mente e à alma, temos que encontrar um equilíbrio entre esta paixão e a sustentabilidade, tentando encontrar soluções para reduzir a pegada de carbono.
