Desmistificação da nossa relação com as plantas.
Se hoje em dia é impensável vivermos sem plantas em nosso redor, também é verdade que em torno delas existem alguns pressupostos que insistem em condicionar a forma como nos relacionamos com as mesmas. Um ponto comum a todos eles: têm sempre um fundamento verdadeiro.
Falemos então sobre alguns mitos que, com o tempo, se aceitaram e que influenciam a forma como plantamos, cuidamos e interagimos com as plantas.
Mito 1
Para cuidar de plantas é preciso ter “mão verde” A expressão “mão verde” há muito que usa quando se quer comentar que alguém tem muita afinidade com as plantas e uma forte capacidade para as disseminar e cultivar.
Contudo, entre várias outras teorias, pensa-se que a origem desta expressão ancestral seja menos romântica e que se relacione simplesmente com a consequência de cuidar de plantas sem luvas – mãos e dedos esverdeados devido ao pigmento verde presente – a clorofila.
Há que esclarecer que todos nós temos um dedo (da expressão inglesa green thumb) ou uma mão verde desde que nos interessemos pelo tema e nos dediquemos a aprender e a praticar jardinagem.
Mais do que um dom, é a capacidade de ser paciente para ver nascer, crescer e desenvolver uma planta, seja num grande jardim ou num pequeno vaso.
Mito 2
É perigoso ter plantas no quarto Um dos comentários mais comuns que se fazem sobre plantas em casa é a perigosidade que estas representam quando as colocamos no quarto.
Esta ideia relaciona-se com o processo de fotossíntese em que a emissão de dióxido de carbono, que ocorre maioritariamente à noite, induz à associação de que a existência de plantas próximas enquanto dormimos faz aumentar demasiado os níveis de dióxido de carbono no quarto.
Este mito cai por terra quando percebemos que as quantidades de CO2 produzidas pelas plantas são muito inferiores às produzidas por outra pessoa ou por um animal de estimação.
Na verdade, os benefícios de ter plantas no quarto são positivos para o nosso bem-estar se consideramos sua capacidade de filtrar o ar e reduzir o stresse.
Mito 3
A planta não parece saudável – é preciso fertilizar! É um dado adquirido que manutenção dos nutrientes na terra é muito importante para manter uma planta viçosa e bonita, no entanto a ausência de fertilização não é, na maioria dos casos, a razão pela qual esta começa a definhar.
Para as plantas, a permanência em solos compactados, as temperaturas elevadas, fungos e/ou pragas, a salsugem ou a presença de sais dissolvidos na água de rega ou mesmo a sua exposição desadequada a agentes climáticos são os aspetos que mais influenciam o desenvolvimento e os principais causadores de stresse.
Por sua vez, a fertilização deve ser encarada como um suplemento, adicionado a solos pobres em plantas com sintomas evidentes de carência de determinado nutriente, caso contrário a fertilização excessiva poderá induzir mais stresse à planta.
Mito 4
Se queremos que a planta cresça, temos de a passar logo para um vaso maior. É verdade que, quando visitamos um garden centre como a Viplant, somos informados que as plantas se encontram em vasos de transição e aconselhados a transplantar para um vaso maior ou a colocar na terra, mas atenção: cada caso é um caso e cada planta tem as suas necessidades específicas!
Se pensarmos em plantas de interior, por exemplo, o vaso para o qual se deverá transplantar tem de ter uma dimensão adequada ao tamanho da planta e das suas raízes ou haverá demasiado solo em seu redor e consequentemente, muita humidade acumulada após a rega.
O ideal é escolher um vaso um tamanho acima do anterior para que
a planta se desenvolva, mas também que as suas raízes não apodreçam por excesso de humidade.
Mito 5
É sempre necessário acrescentar um drenante aos vasos ou a planta irá apodrecer. Uma das recomendações mais frequentemente feitas a quem adquire floreiras e vasos é o preenchimento da base por um material drenante antes da colocação do substrato e da planta.
Embora este procedimento faça todo o sentido e seja recomendado, é crucial que a floreira seja furada para que a água não se acumule junto ao material drenante.
É de considerar que a aplicação de argila expandida, gravilha ou outro material de maior granulometria nem sempre é necessária e que a necessidade de aplicação depende da planta, do vaso e, sobretudo, das características do substrato!
Um substrato adequado à planta em questão, com boa capacidade de drenagem e/ ou retenção de água é por vezes suficiente aquando a plantação.
Mito 6
Calendarizar a rega é essencial! Uma das questões mais frequentes feitas quando se adquire uma planta é a frequência com que esta deve ser regada. A resposta não é padrão e, por isso, qualquer agendamento é meramente indicativo.
É possível que seja uma vez por semana, ou duas ou apenas quinzenalmente, mas não devemos regar com determinada cadência apenas porque foi o aconselhado. As plantas têm necessidades específicas e a localização e exposição a que estão sujeitas determinam as condições que lhes devemos dar.
Mas como sabemos quando regar? Pelo estado da planta e da sua terra: quando chega a altura de regar é necessário sentir o solo, perceber se está húmido ou seco.
Com o hábito e a experiência torna-se mais simples controlar a rega e perceber quando a planta carece de água, mas para os mais inexperientes é preciso ter atenção: o solo deverá secar antes da rega seguinte para que não haja apodrecimento das raízes por excesso de humidade.
Mito 7
Plantas de interior precisam sempre de ser colocadas em janelas voltadas a sul Ao contrário do que muito frequentemente é afirmado, a maior parte das plantas utilizadas em interior apenas necessitam de luz e não de sol direto.
A luz direta é benéfica para plantas como catos e suculentas, que têm maior tolerância ao calor e secura, mas para plantas como Kentias ou Ficus poderá provocar queimaduras nas folhas.
A melhor forma de compreendermos quais as condições que devemos dar a uma nova planta é perceber qual o clima de onde ela é originária: da mesma maneira que os catos resistem a temperaturas mais elevadas e solos drenados porque são originários de climas desérticos, espécies tropicais como a Strelitzia nicolae preferem solos húmidos e alta humidade relativa do ar.
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