A vegetação é o principal elemento de um jardim, tendo diversas funções e impactos na vivência do espaço. Não pode, por isso, ser reduzida a uma função meramente estética.
Um dos grandes erros que cometemos no jardim é escolher o tipo de vegetação unicamente em função do nosso gosto e plantá-la num espaço mais ou menos aleatório. Estas ações combinadas conduzem a espaços desorganizados e até descaracterizados, além de impedirem o alcance do potencial de cada lugar.
Ao criar o seu jardim, além de ponderar quais as plantas que vai utilizar, deve pensar onde e como vai utilizá-las. Deixo aqui algumas noções base.
A escolha das plantas
Em função das características do local:
A seleção das espécies deve ter em consideração as características do local: solo, clima, exposição solar, exposição ao vento, a geadas ou a salsugem, entre outras. É muito importante para garantir o bom desenvolvimento das plantas e, em última instância, a qualidade estética e a sanidade do jardim. Além disso, por estarem adaptadas às condições existentes, requerem menos cuidados de manutenção.
Em função das suas características físicas e plásticas:
Ao fazer a seleção deve ainda considerar as características físicas e plásticas de cada planta, nomeadamente, o seu volume, forma, cor e textura. Estas escolhas vão ajudar a definir espacialidades (espaço aberto ou fechado, florido, etc) e estilos (tropical, mediterrânico, etc).
O volume, incluindo o porte da planta e densidade de folhagem, vão definir se o espaço é aberto ou fechado, amplo ou confinado, escuro ou luminoso.
Se tiver uma zona de refeições no exterior, por exemplo, deve colocar uma árvore a sul para garantir que almoça confortavelmente à sombra. Deve ainda perceber se quer sombra o ano todo e escolher uma espécie perene ou se prefere almoçar com o sol de inverno e escolher uma espécie caduca.
Se colocar um banco longe de uma parede, coloque arbustos nas costas para aumentar a sensação de segurança.
Quanto à forma, é tanto mais importante quanto mais isolado estiver o elemento. Quando está isolado, o elemento ganha destaque. Aqui, por exemplo, deve decidir se quer recorrer à topiária e à talhadia ou se prefere deixar que as plantas se desenvolvam naturalmente.
A cor pode ajudar a criar variações temporais, dinâmicas espaciais ou a fazer marcações no espaço, permitindo guiar a circulação, distinguir zonas ou marcar entradas. Não pense apenas na cor das flores e na combinação de épocas de floração. A própria cor das folhas cria este efeito e de forma mais permanente – existem espécies com folhas verdes claras, verde escuras, acinzentadas, avermelhadas, etc. Além disso, algumas espécies vão mudando a cor conforme se tornam adultas e as plantas caducas passam por toda uma panóplia de cores antes de cair.
A textura é uma componente visual (e tátil) que é tanto mais importante quanto menor for o espaço e o porte da vegetação. Em jardins sensoriais ou onde existam crianças, esta é uma vertente interessante a explorar.
Distribuição espacial
À semelhança de uma casa, a vegetação pode criar paredes, muros, tetos, corredores e janelas. Essa arquitetura irá ser criada não só pela escolha das espécies, mas também através da sua distribuição pelo espaço.
Pessoalmente, parece-me que o potencial da vegetação enquanto elemento estrutural do jardim é poucas vezes alcançado porque esta vertente é muitas vezes esquecida.
Elemento isolado
Ao colocar um elemento sozinho, este ganhará destaque e funcionará como foco visual e marcador espacial. Ou seja, somos atraídos por esse elemento e, sem nos apercebermos, o nosso olhar e o nosso trajeto são conduzidos até ele. Ao mesmo tempo, percebemos que aquele espaço é único porque tem um individuo que o distingue dos demais.
Alinhamento
Ao colocar vários exemplares em linha reta está a formar eixos visuais que direcionam o olhar para determinado elemento ou zona e orientam a circulação. A sebe trata-se de um alinhamento que, por não ter espaçamento entre os elementos, é percecionada como uma massa contínua, um volume que limita e fecha o espaço.
Mancha
Pode agrupar plantas, optando por uma massa mais homogénea ou fazendo uma composição de espécies diferentes. Por ser uma composição vegetal, é uma forma muito versátil de criar diferentes ambiências. Neste caso, o espaço propriamente dito será definido pelo contorno da mancha que pode ser mais ou menos formal.
Dentro das manchas, podemos destacar a “orla”. Na natureza é caracterizada por ser uma massa vegetal, composta por vários estratos, muito rica biologicamente e que faz a transição entre zonas de mata e clareira. Em termos ornamentais, podemos encará-la como massa vegetal que define limites, à semelhança da sebe, mas que tem uma composição mais rica e pode facilitar a integração da periferia com o interior do jardim.
Revestimento
Está associado à leitura que fazemos das superfícies. A vegetação rasteira irá cobrir homogeneamente determinadas áreas, dando-lhes cor e textura, mas permitindo que se continue a ler a morfologia do terreno. Geralmente são constituídas por herbáceas como relva ou prado, mas se os locais não forem para utilizar e pisar, é interessante revestir o solo com trepadeiras ou subarbustos.
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