Ornamentais

André Dupont, o colecionador de rosas

 

… Que encantou a imperatriz Joséphine Beauharnais, Madame Bonaparte

 

Na Antiga China, nos jardins imperiais, existia já uma grande diversidade de rosas, cultivadas sobretudo para fins medicinais. Na cultura persa, as rosas eram utilizadas na produção de perfumes e óleos essenciais. No Ocidente, a história das primeiras coleções de roseiras está ligada ao Império Romano, que desenvolveu técnicas de hibridização e seleção de rosas, e foram pioneiros na criação de novas variedades.

Após a queda do Império Romano, a tradição de cultivar rosas foi perpetuada pelos monges em mosteiros medievais. Estes cultivavam as rosas como parte do trabalho agrícola e para uso medicinal. Durante o Renascimento, houve um ressurgimento do interesse pelas rosas, e os jardins renascentistas passaram a exibir uma vasta variedade de rosas.

 

O renovado roseiral do Parque Serralves, no Porto. Setembro 2022 ©Francisco Saraiva

 

No entanto a história das primeiras coleções de roseiras modernas está associada à Europa do século XVIII, sendo André Dupont (1742–1817) apontado como o primeiro colecionador de rosas. Apesar de não ser horticultor, por volta de 1785, desenvolveu uma paixão pelo género Rosa, motivo que o levou a criar um jardim próprio, próximo do Palais du Luxembourg. Dupont não se dedicou apenas à produção de rosas, dedicou-se à sua observação e estudo. No Museu Nacional de História Natural de Paris, um espaço privilegiado de conhecimento, além dos livros que gostava de estudar, teve a possibilidade de privar com botânicos, jardineiros e viveiristas. Além de um verdadeiro conhecedor das rosas do seu tempo, pode dizer-se que Dupont foi o grande precursor da moda das rosas no início do século XVIII. Quem lhe trouxe fama foi a imperatriz Joséphine de Beauharnais (1763-1814), primeira mulher de Napoleão Bonaparte, quando o convida para ser o seu principal fornecedor de rosas para embelezar as estufas e canteiros da propriedade que adquire, em 1799, no Château de Malmaison, perto de Paris. Com cerca de 250 espécies e variedades, trazidas de diferentes partes do mundo, o jardim tornou-se um dos mais importantes centros de estudo e cultivo de rosas na época, imortalizadas pelo pintor Pierre-Joseph Redouté (1759-1840). Em 1814, no fim da sua vida, Dupont entregou a sua coleção de rosas aos Jardins du Luxembourg, que foi durante a maior parte do século XIX, o maior jardim de rosas do mundo.

Foi também Dupont quem reuniu o primeiro herbário exclusivamente dedicado às rosas. Em França, são de destacar o roseiral de L’Haÿ-les-Roses, considerado o jardim de rosas mais antigo do mundo, criado, em 1894, por Jules Gravereaux (1844-1916); e o roseiral de Bagatelle, um dos mais antigos e famosos da Europa, criado, em 1905, pelo arquiteto e paisagista Jean-Claude Nicolas Forestier (1861-1930) e que, desde 1907, acolhe o concurso internacional de novas rosas.

 

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Roseirais

Além dos já referidos, existem na Europa outros roseirais que se destacam pela sua importância histórica, diversidade de variedades e beleza, como: o Jardim de Rosas de Sangerhausen (Alemanha), o maior roseiral do mundo, com mais de 8000 variedades de rosas; ou o Royal National Rose Society Gardens (Reino Unido), um dos principais jardins de rosas do Reino Unido.

Não poderíamos deixar de destacar em Espanha a Rosaleda de El Retiro, em Madrid, desenhada por Cecilio Rodríguez (1865-1953), em 1915, que conta hoje com mais de 4000 roseiras; e, em Portugal, o renovado roseiral do Parque Serralves, no Porto, que, após a intervenção do arquiteto paisagista inglês Gerald Luckhurst, em 2022, conta agora com cerca de 1800 roseiras de 29 variedades.

 

A Rosaleda de El Retiro, 
				
			
									em Madrid. Junho 2022

A Rosaleda de El Retiro, em Madrid. Junho 2022

 

Rosas e roseiras

As roseiras são arbustos ou trepadeiras, providas de acúleos e com flores de uma beleza extrema com uma grande diversidade de cores, perfumes e tamanhos. Pertencente à família Rosaceae, o género Rosa L., de acordo com a página World Flora Online (WFO), possui 303 espécies e 62 híbridos que se distribuem pelo hemisfério norte (regiões temperadas ou subtropicais).

As rosas podem ser divididas em dois grupos: as rosas silvestres e as rosas cultivadas, dividindo-se estas últimas em rosas antigas e rosas modernas.

As rosas silvestres ocorrem naturalmente na Natureza, tendem a ter flores simples, com cinco pétalas, embora algumas espécies possam ter flores dobradas. Apresentam uma grande variedade de formas, cores e tamanhos. Tendem a ser mais resistentes a doenças e pragas, motivos pelos quais são utilizadas como fonte de recursos genéticos para a criação de novas variedades (e.g., Rosa canina, R. rugosa e R. sempervirens).

As rosas antigas, também conhecidas como rosas de jardim, são variedades que foram cultivadas antes do final do século XIX e que, através de cruzamentos ou hibridações sucessivas, contribuíram para criar as atuais rosas modernas. Geralmente são mais perfumadas, têm uma aparência mais natural e menos simétrica do que as variedades modernas, costumam ter uma única floração por ano e são mais suscetíveis a doenças e condições climáticas adversas (e.g., Rosa alba, R. centifolia e R. gálica).

As rosas modernas surgem a partir de 1867, quando se criam os primeiros híbridos de chá. Além dos híbridos de chá, estão incluídas neste grupo as rosas floribundas (e.g. Rosa ‘Iceberg’), as rosas arbustivas (e.g. Rosa ‘Knock Out’) e outras variedades criadas por meio de cruzamentos seletivos. Estas são mais resistentes a doenças, podem florescer durante toda a temporada de crescimento e apresentam geralmente uma aparência mais simétrica, possuindo uma ampla variedade de cores e formas.

 

Leia também “Um jardim de rosas”

 

Referências bibliográficas:

Derkenne, V. (2020). André Dupont (1742-1817) – A Palace and Roses (1st edition). Paris: BoD – Books on Demand – Frankreich

 

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