Aproveitar a fruta feia, reduzir o desperdício e contribuir para um sector em crescimento.
Nuno Pereira (Engenheiro do Ambiente) e Liliana Nóbrega (arquiteta) criaram a Sidrada em 2016 para fazer face a um problema: o desperdício de fruta que nunca chega a sair dos pomares por não estar dentro dos padrões do mercado. A família do Nuno tem pomares no Bombarral e produz fruta há três gerações, criando as condições necessárias para o projeto ganhar asas. Agora produzem sidra artesanal, sem glúten, feita totalmente a partir de fruta. Uma marca 100 por cento portuguesa.
Como surgiu a Sidrada?
A Sidrada surgiu da necessidade de reduzir o desperdício de fruta e crescente desvalorização pelo mercado.
Todos os anos muita é a fruta que fica nos pomares por não cumprir os standards de perfeição do mercado. Como a apanha é manual e com cada vez menos mão de obra, a quantidade de fruta deixada para trás é elevada.
Queremos aproveitar a fruta feia, mas cheia de sabor e beleza nas suas imperfeições, e provar que toda a matéria-prima pode ser valorizada, criando subprodutos inovadores. E, além disso, provar que Portugal também pode ser um país de produção de sidra de qualidade premium, com fruta de verdade, sem concentrados.
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O que distingue a Sidrada das outras marcas?
A Sidrada diferencia-se porque é produzida de forma artesanal, feita com 100 por cento de sumo de maçãs portuguesas. Ao contrário da maior parte das sidras que encontramos no mercado, a Sidrada é produzida sem recorrer a concentrados ou a maçãs congeladas importadas, e não tem qualquer adição de açúcar ou água. É um produto natural, sem glúten, com menos gás e produzida com métodos ancestrais que garantem um sabor e aroma únicos.
Além das sidras, criámos dois espumantes de sidra (Brut e meio-seco), inovadores em Portugal, criados com apoio de um enólogo especialista na produção de espumantes.
Vocês produzem a vossa matéria-prima. De que forma é que ter controlo sobre a produção é importante?
A vantagem é permitir-nos acompanhar todo o processo e garantir a elevada qualidade da matéria-prima. Podemos dizer com orgulho que é um produto 100% nacional.
Como é feita a produção da sidra?
A sidra começa no pomar, em agosto, com a apanha manual da fruta (maçãs e pera-rocha).
A fase seguinte é a seleção da fruta e trituração da mesma. Após triturar, procede-se à sua prensagem, na qual se obtém o sumo de 100 por cento fruta. Segue-se a fermentação, que deve ser com clima mais frio; é a fase em que as leveduras vão transformar os açúcares existentes no sumo de fruta em gás e álcool. Passado pouco mais de um mês, temos a sidra pronta a engarrafar e a beber na primavera.
Quem tem uma macieira em casa consegue fazer sidra para consumo próprio?
Não é consensual. Há quem diga que a sidra apenas se produz com maçãs de variedades específicas para sidra, como no norte de Espanha, França e Inglaterra.
Mas a chamada Craft Cider Revolution trouxe consigo as Modern Ciders, que podem ser feitas com variedades mais comerciais. No entanto, além da macieira em casa, é preciso ter conhecimento para se conseguir controlar os processos.
Em agosto de 2022, aconteceu o primeiro festival de sidras em Portugal, o Sidrama. É um sinal de que o mercado está a crescer? Quais são as perspetivas?
Já há algum tempo que tentávamos junto da organização de vários festivais de cerveja artesanal para que se fizesse um dedicado à sidra. É um mercado em crescimento a nível internacional e nacional. Notámos que o interesse por parte de consumidores, espaços de restauração, chefs, sommeliers, enólogos e críticos gastronómicos está a florescer e já começaram a surgir mais marcas nacionais de sidra. Por isto tudo, fazia todo o sentido apostar neste conceito e convidar marcas internacionais para fomentar o consumo e troca de conhecimentos.
Precisamos de criar massa crítica para que o mercado da sidra possa crescer em qualidade e quantidade em Portugal.
Por que razão é que sidra é uma boa alternativa à cerveja?
As sidras artesanais como a nossa não têm glúten e, por isso, são ideais para pessoas com doença celíaca e/ou intolerantes, ao contrário das cervejas que contêm glúten, que é uma proteína comummente encontrada em cereais como trigo, aveia e centeio.
Além da produção e venda de sidra, também apostaram no turismo. Que tipo de experiências oferecem?
Em 2020, com a pandemia e o encerramento de fronteiras, decidimos apostar no turismo nacional ao ar livre. Percebíamos que havia um grande desconhecimento sobre o que era a sidra.
Tivemos também conhecimento de diversos projetos que estavam a incentivar, a nível global, rotas em territórios de produção de sidra, o projeto Cider Lands, promovendo o sidroturismo. À semelhança do enoturismo, que está tanto na moda em Portugal, temos recebido pessoas de todos os cantos do mundo e País.
Esta atividade também nos permite ter um contacto direto com o público, sem filtros, o que nos dá muito gozo e satisfação.
Onde podemos adquirir os vossos produtos?
Podem encomendar através da nossa loja online, em www.sidrada.pt (entregamos para todo o País até 72 horas) e podem encontrar os pontos de venda no nosso site.
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