Segundo registos históricos, João Francisco de Oliveira foi pioneiro em estudos de investigação para a implementação deste jardim na ilha da Madeira. Os dados destes estudos são enviados a Domingos Vandelli, diretor do Real Jardim Botânico (Lisboa), em maio de 1798, através de um relatório intitulado Apontamentos para se estabelecer na ilha da Madeira hum viveiro de plantas e huma Inspecção sobre a Agricultura da mesma ilha.
História e origem
No século XIX, diversos botânicos e naturalistas defendem a criação do jardim. Entre eles destacam-se Theodor Vogel (1841), que refere as potencialidades da ilha como ideais para a instalação de um jardim botânico; o botânico austríaco Frederico Welwitsch (1852), que no mesmo sentido reforça a criação de um jardim de aclimatação na ilha da Madeira, uma vez mais sustentando-se no clima específico da ilha; o naturalista barão de Castello de Paiva (1855), por meio de um relatório entregue ao ministro Fontes Pereira de Mello, que menciona a importância de se criar na ilha um “horto de naturalização de plantas exóticas”.
Nas décadas de 1940-50, foram elaborados diversos documentos referindo a necessidade de criar um jardim botânico na Madeira. Documentos que, associados às considerações finais da I Conferência da Liga para a Proteção da Natureza, realizada no Funchal em 1950, constituem as bases de justificação para a criação do Jardim Botânico da Madeira (JBM).
Fundação do Jardim Botânico da Madeira
Em 1952, a Quinta (atual Jardim Botânico), adquirida a Manuel Gomes da Silva, localizada entre a Levada do Bom Sucesso e o Caminho do Meio e das Voltas, à cota dos 200 e 350 m de altitude, é utilizada pelos Serviços da Estação Agrária “(…) com o objetivo de ali ser instalada a sede do Jardim Botânico”.
Nos dois anos que se seguiram, foram adquiridos terrenos anexos, pela Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal, posteriormente incorporados no parque botânico.
A partir da integração na Direção Regional de Florestas, em 1993, a posição do Jardim Botânico foi consolidada a nível nacional e internacional. Foram reconhecidas as suas competências na investigação científica e conservação da diversidade genética de plantas indígenas e endémicas.
Em setembro de 2009, ao Jardim Botânico atribui-se o nome do eng.º Rui Manuel da Silva Vieira, na sequência da sua morte em agosto do mesmo ano; dada a importância desta personalidade para o jardim, “(…) que se deve ao eng.º Rui Manuel da Silva Vieira, nas suas funções públicas de então, a organização e estruturação do que é hoje o Jardim Botânico da Madeira, uma das imagens de Qualidade da Região Autónoma, muito procurado e visitado, quer pelos cá residentes, quer pelos que nos visitam”~.
Enquadramento botânico
No Jardim Botânico, observam-se coleções de plantas, como as indígenas da Madeira; as suculentas; o arboreto; as agroindustriais; as aromáticas e medicinais; os jardins coreografados; a topiária; as palmeiras; as cicadales; e as cultivadas em estufa.
Plantas indígenas da Madeira
A coleção de plantas indígenas da Madeira divide-se em duas áreas distintas: uma na envolvente ao edifício principal; e outra, de maior dimensão, num patamar inferior, junto ao anfiteatro. Nesta última, as plantas estão organizadas segundo a tipologia vegetativa: vegetação do Litoral; Laurissilva; vegetação de altitude; vegetação do Porto Santo; Desertas; e Selvagens. Trata-se de uma coleção que compreende mais de 100 espécies.
Plantas suculentas
Distribuídas por três patamares, a sul do edifício principal, encontram-se as plantas suculentas. Podem ser observadas diversas espécies das famílias aizoáceas, portulacáceas, asclepiadáceas e asteráceas suculentas, coleções das cactáceas, das euforbiáceas suculentas arborescentes, das liliáceas do género Aloe e das crassuláceas.
O arboreto
O arboreto, situado na zona Norte do jardim, constituído por árvores de grande porte, contendo espécies indígenas da Madeira e espécies exóticas que, apesar de originárias de zonas do globo ecologicamente opostas, prosperam em harmonia.
Jardins coreografados
Nos jardins coreografados, localizados na zona central do espaço, o material vegetal é organizado de modo a possibilitar a criação de padrões geométricos, cromatograficamente contrastantes, alcançando desta forma um desenho único.
Plantas agroindustriais
Existe uma área destinada ao seu cultivo, onde podem observar-se espécies utilizadas na agricultura madeirense, como noutras regiões, por exemplo, alcachofras, espargos, gengibre, o cardamomo, ou árvores de fruto, sobretudo de caráter tropical e subtropical (embondeiro, macadâmia, sapota, tamarindo).
Plantas aromáticas e medicinais
Plantas como hortelã, rosmaninho, alfazema, losna, arruda e alecrins, entre outras, estão agrupadas na coleção de aromáticas e medicinais, representando assim a etnobotânica madeirense.
Palmeiras
As palmeiras, plantas nativas de regiões quentes tropicais e subtropicais, podem ser observadas no decorrer da visita ao JBM, assim como cicadales – plantas que normalmente são associadas a palmeiras.
Desenvolvimentos atuais
Neste sentido, deve ser destacado o potencial de resiliência paisagístico da região, dado que, após os recentes incidentes que incidiram não só mas também no JBM (incêndios na ilha na Madeira no ano passado), atualmente, ao visitar-se o jardim, não se nota o desastre ambiental ocorrido. Neste sentido, é também de louvar o esforço humano que foi conduzido para mitigar os possíveis impactos negativos.
Organização espacial do jardim
Devido à morfologia do terreno, o jardim está construído em patamares. Tem duas tipologias distintas, mas complementares: as construídas (edifício principal, estufa, entre outros); e as ajardinadas (jardins geométricos, espaços verdes envolventes, arboreto, topiária, etc.).
Após cruzar a entrada principal, o visitante depara-se com o edifício principal. Nessa zona encontram-se os gabinetes (piso superior), o Museu de História Natural (MHN) e o Herbário (piso inferior). Se optar pela entrada no MHN, poderá ver o espólio do antigo Seminário Diocesano do Funchal. Neste museu estão expostas coleções de minerais e rochas do arquipélago da Madeira; fósseis das ilhas da Madeira e Porto Santo; corais e animais embalsamados das ilhas da Madeira e Selvagens.
Edifício principal do Jardim Botânico
Desde o exterior e, posicionado num dos patamares superiores do jardim, podem ser apreciados, num primeiro plano, os jardins coreografados, seguidos de uma paisagem vegetal nativa que delimita a área construída da cidade do Funchal, com o Atlântico como pano de fundo; uma paisagem arrebatadora que torna este jardim singular, um jardim dentro de um jardim que é a própria ilha da Madeira.
A área ajardinada tem sofrido alterações, caso da introdução de espécies de elevado valor botânico, científico e paisagístico, onde se destacam as palmeiras, cicadales ou ainda núcleos de espécies da flora indígena e endémica da ilhas da Madeira, Porto Santo, Desertas e Selvagens.
Construiu-se também um anfiteatro para atividades pedagógicas, divulgação e educação ambiental. Num dos eixos encontra-se o miradouro com vista para as áreas do jardim mais recentes e ainda para a vertente Norte. Nessa zona foram introduzidas espécies adequadas à topiária – arte de moldar as plantas – criando uma área específica destinada a esta arte.
Numa cota inferior estão áreas extensas de relvados, pontuados com espécies vegetais de estrato arbustivo e arbóreo e enriquecidas por elementos inertes, destinadas à realização de eventos culturais, criando um espaço visualmente apelativo e sensorial.
Localização: como visitar
Numa zona estratégica do Funchal, na margem esquerda da Ribeira de João Gomes, aproximadamente a três quilómetros do centro da cidade, entre os 200 e os 300 metros de altitude. Jardim Botânico da Madeira – Eng.o Rui Vieira Caminho do Meio, Bom Sucesso 9064-512, Funchal – Madeira.
Para mais informações aqui.
Fotos: Luísa Gouveia e Rui Alexandre Castanho
Com Luísa Gouveia
Gostou deste artigo?
Então leia a nossa Revista, subscreva o canal da Jardins no Youtube, e siga-nos no Facebook, Instagram e Pinterest.