Decoração

Histórias sobre jardins: a Estufa Fria

Quando eu era criança uma ida à estufa Fria era a cereja em cima do bolo dos programas lisboetas. Já que a densidade da vegetação, a luz coada e o isolamento da cidade, conferiam a ilusão de, quais sandokan, experimentarmos o exotismo das florestas tropicais.

Desde então, a estufa, coitada, sofreu várias vicissitudes e foi votada a tal abandono, que acabou por ser fechada devido à possível insegurança que representava para quem a visitava.

Só em 2009, a Câmara de Lisboa se decidiu à sua recuperação, provavelmente porque descobriu que podia ser rentabilizada através do aluguer do espaço para “eventos”.

Já em 2015, num dia frio de janeiro, resolvi visitar a estufa Fria, onde não ia há uns bons 30 anos.  À entrada, um adulto paga uns surpreendentes 3,10€ (imagine-se o drama dos trocos), sendo que as crianças, essas, pagam a aberrante quantia de 2,33€ (mas quem decide estas coisas deus do Céu?).

No dia em lá fui tive o luxo de ser a única visitante, pelo que me foi possível passear e fotografar à vontade, tendo como único ruído de fundo o correr da água que brota das várias pequenas cascatas.  A cobertura, agora de ripado de madeira, deixa passar o ar mantendo a estufa à sombra, o que, aliado à quantidade de água em movimento, faz com que a temperatura seja uns bons graus abaixo da temperatura exterior. Para que a visita se torne confortável no inverno aconselho, além de casacos quentes, barretes na cabeça e luvas nas mãos.

Ultrapassada a questão do frio, a estufa é um agradabilíssimo espaço de um hectare e meio, bem mantido e surpreendentemente bem conservado. Mesmo apesar dos tratos de polé que deve ter sofrido.  As plantas, essas, parecem ter resistido a tudo, e apesar da renovação, a vegetação apresenta-se crescida, madura e bem estabelecida. O frio e a humidade fazem com que este espaço seja o paraíso dos Fetos (há um lindo Feto-arbóreo-da-tasmânia) e das Cameleiras, que nesta altura do ano já se encontram em flor.

Embora algumas plantas não tenham identificação, de maneira geral, o espaço está muito bem cuidado, sem aqueles toques de desmazelo tão frequentes nos nossos espaços ajardinados.

A estufa Quente apenas se chama assim, porque tendo uma cobertura de vidro que deixa passar a luz mas não o ar, atinge uma temperatura superior e permite uma vegetação tropical onde predominam o Cafeeiro, a Mangueira e a Bananeira.

Ao contrário do que acontece com alguns espaços frequentados na infância, a estufa Fria não me pareceu mais pequena. Pelo contrário, fiquei surpreendida pela variedade dos percursos, que, sobretudo na estufa Quente, se desenvolvem ao longo de quatro patamares permitindo admirar o local de vários ângulos.

Ao longo dos caminhos há magníficas paredes de pedras, muito bem aproveitadas com a plantação de Paphiopedilum insigne entremeados de fetos.

A Estufa Quente ainda se encontra em obras pelo que o seu percurso é menos tranquilo que o da Fria, mas lá para a Primavera esperemos que já esteja tudo terminado e que a visita se torne ainda mais aprazível.

Há ainda uma área mais pequena que é a estufa doce, onde moram as Cactáceas, entre as quais se podem observar alguns echinocactus grusonii , Cleistocactus straussii ou os meus homónimos aloés.

O piso é bom, não se escorrega, e há por todo o lado bancos que permitem uma pausa para melhor admirar o entorno.

Estufa fria

Não fui à nave, agora um espaço dedicado aos tais “eventos”, mas passeei-me pelo exterior. Li algures que também irá surgir um Centro de interpretação (designação agora muito na moda).

Enfim, a estufa Fria está bem e recomenda-se. É mais um bonito local para onde fugir do bulício da cidade, onde o correr da água, o viço das plantas e os pássaros que por lá esvoaçam nos transmitem uma agradável sensação de paz e tranquilidade.

Fotos: Vera Nobre da Costa

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