As ervas espontâneas, infestantes, daninhas, invasoras, selvagens ou adventícias são termos que utilizamos para a flora que cresce junto das culturas sem serem planeada ou semeada pelo agricultor.
Quando crescem em excesso, estas plantas podem comprometer as nossas culturas hortícolas, porque competem com elas para usufruir da água, nutrientes e luz. Muitas destas plantas podem até ser úteis a vários níveis:
- São plantas hospedeiras para os insetos auxiliares e servem de isco para pragas, como, por exemplo, trevo e urtiga.
- Têm utilização medicinal, por exemplo, tanchagem, dente-de-leão, cavalinha.
- Uso na nossa alimentação, por exemplo, urtiga, beldroega.
- Servem de fertilizante biológico, por exemplo, urtiga, cavalinha. (veja como fazer extrato de urtigas)
- Indicam o tipo de solo e riqueza em nutrientes, por exemplo, solos siliciosos e compactos com pH baixo (grama), solos bem estruturados, férteis com humidade e bom teor em matéria orgânica (beldroega).
- Ajudam a controlar a erosão e lixiviação de nutrientes e aumentar a quantidade de matéria orgânica do solo.
Dez métodos para restringir as ervas espontâneas em agricultura biológica
1. Monda mecânica, com ferramentas
Provavelmente o método mais utilizado, podemos utilizar ferramentas como enxada, sacho, enxada, mondadora com lâmina oscilante, sega ou foice, para a remoção de ervas. Com o terreno húmido e mole, esta tarefa fica mais eficaz
2. Empalhamento ou acolchoamento
Cobrir o solo limpo de ervas com uma camada de cerca de 10-15 cm de altura, com cobertura morta orgânica, impedindo as ervas espontâneas de germinarem e crescerem por falta de luz. Podemos utilizar materiais como relva cortada, palha, ramos triturados, aparas de madeira, caruma, (torna o terreno mais ácido), bagaço de uva, etc.
3. Desidratação (fogo) chama direta/radiação infravermelha
Utilizando uns “lança-chamas” (maçarico térmico a gás propano líquido ou butano) de bico largo adaptado para queimar (atinge temperaturas de 70 oC) as ervas ou simplesmente queimar as ervas secas. Basta um segundo em cada erva. Também podemos utilizar queimadores com placa cerâmica em que a temperatura do solo atinge 800 oC (aplicação reduzida).
4. Tela antierva
Material plástico (polipropileno) de cor negra, que permite a entrada de água e ar, cobre o solo e é muito resistente, dura cerca de 5-8 anos, fazendo-se buracos apenas para plantar ou semear as plantas desejadas.
5. Solarização (esterilização)
Cobrir a zona com plástico (polietileno) de matérias claros, opaco ou transparente durante o verão, para que as ervas morram por falta de luz e temperaturas muito altas. Tem como inconveniente matar alguns seres vivos benéficos do solo.
6. Práticas de cultivo
Melhoram a competitividade. Aumentar a densidade de cultivo (reduzindo os espaços abertos), fazer transplantação de plântulas com raiz bem desenvolvida e utilizar cultivos de cobertura competitivos (utilizam-se mais os cereais) que abafam as ervas espontâneas. Aplicar a técnica da “falsa sementeira”: prepara-se o terreno e deixa-se germinar as plantas espontâneas, para efetuar a sua limpeza, e só depois se planta ou semeiam as culturas. Por último, efetuar sempre a rotação de culturas para “limpar” algumas ervas espontâneas que aparecem ligadas a determinadas culturas hortícolas.
7. Pasto seletivo
Colocar as cabras, ovelhas, gansos e galinhas a “pastar” no terreno antes de efetuar as sementeiras e/ou plantações.
8. Telas de materiais orgânicos
Materiais orgânicos que formam uma tela de fibras vegetais de amido de milho, fibra de coco e serapilheira que são biodegradáveis e duram 3-5 meses, podendo enterrar-se no fim da campanha.
9. Evitar a entrada de sementes de plantas espontâneas
Utilizando corta-ventos, filtros nos canais de rega. Evitar colocar material orgânico não compostado, limpar todas as máquinas agrícolas.
10. Herbicidas biológicos/mico-herbicidas
Produtos que contêm óleos minerais e ácidos de fermentação natural de frutos e extratos naturais de alho, cavalinha e outras plantas. Também já foi testada a utilização de fungos (mico-herbicidas) como “Colletotrihum gloesporoides”, “Alternaria cassiae”, “Phytophtora Citrophtora”, etc., que causam doenças nas plantas espontâneas. Já foram testados “herbicidas naturais”, utilizando óleo de eucalipto e trigo-sarraceno (extratos aquosos e alcoólicos), funcionando por alelopatia.
Estas ervas, invasoras ou espontâneas, podem ser muito incómodas para as suas culturas, tem propagação rápida, pelas sementes ou por rizomas e têm a capacidade de ocupar os espaços e “abafar” ou comprometer o crescimento das plantas que queremos.
Plantas espontâneas (daninhas)
Para mim, as 10 ervas mais incómodas que tenho constantemente de controlar ou retirar são:
1. Junça ou juncia pírpura ou amarela (Cyperus rotundus e C. esculentus)
Considerada por muitos a pior erva espontânea do mundo e a mais difícil de erradicar. Planta vivaz de rizomas e tubérculos delgados que podem permanecer no estado de latência quando as condições ambientais são desfavoráveis. Propaga-se basicamente por meios vegetativos, pois as sementes têm um ritmo de germinação muito baixo. Tem desenvolvimento das folhas na primavera e floração no verão-outono. A técnica mais eficaz consiste em cavar o solo em profundidade (monda mecânica) durante o verão, extraindo os tubérculos do solo; mesmo assim será muito difícil erradicar completamente esta planta espontânea. Também pode melhorar a drenagem do solo, pois a junça procura solos húmidos.
2. Bredo, amaranto ou beldro (Amaranthus blitoides, A. prostrato, A. Retrofl exus e A. hybridus)
Tem o ciclo vegetativo anual (apenas o A. prostrato e perene), que se propaga por semente (mais de 100.000 sementes por planta). As flores aparecem na primavera e verão. Existe espalhada por Portugal de norte a sul. Qualquer sistema de controlo é eficaz.
3. Verónica comum (Veronica agrestis e V. persica)
Planta anual de pequeno porte, com caules prostrados e ramificados. Esta planta, cujo nome é dedicado a santa Verónica, é medicinal e ajudava a curar a doença “escrófula”. Reproduz-se por semente (cada fruto tem 100 sementes) e está presente na horta, desde o outono até à primavera. Qualquer método controla esta erva.
4. Milhã ou milhã-digitada (Digitaria sanguinalis)
Planta anual que aparece na primavera e verão, da família das gramíneas (poáceas). Pode permanecer através das raízes, comportando-se como planta perene, formando pequenos tufos com floração, entre o verão e o outono, propagando-se por semente, que está pronta no final de outono. O método manual e de tela antierva são os mais eficazes.
5. Gerânio-peludo (Geranium rotundifolium)
Surge em todas as zonas de Portugal, tem época de floração na primavera e verão, propagando-se por semente. Uma simples monda mecânica ou utilização de telas (antierva ou de materiais orgânicos) controlam esta planta.
6. Grama-das-bermudas ou grama comum (Cynodon dactylon)
Aparece desde a primavera até ao outono. É uma planta vivaz que se pode propagar por semente (20.000 por semente) ou rizoma subterrâneo que se desenvolve rapidamente debaixo da terra. É muito agressiva e invasiva, difícil de controlar. Permanece no estado de latência quando as condições ambientais são, mas para o seu desenvolvimento. Para o controlo desta erva, utilizar a tela antierva de polipropileno ou tela de amido de milho.
7. Alho sem cheiro ou alho-napolitano (Allium neapolitanum)
Planta perene que pode atingir 20-25 cm de altura e que tem a sua época de floração no inverno e primavera. Propaga-se por bolbos e semente. Deve-se fazer a monda manual e eliminar todos os bolbos presentes na terra. Este processo deve ser feito antes da floração.
8. Beldroega, erva-porcelana (Portulaca oleracea L)
Planta anual de verão-outono, suculenta-carnuda e glabra que se propaga por semente (mais de 200.000 por semente) ou partes da planta, quando o solo é ligeiramente húmido. Esta planta, depois de cortada, pode continuar a sua vida, produzindo sementes, sendo por isso muito difícil de erradicar. Qualquer método de controlo é eficaz. Utilizada na culinária portuguesa em saladas e sopas.
9. Euphorbia ou maleiteira (E. pelpus ou E. helioscopia L)
Planta anual que aparece no inverno e primavera, pode ter entre 10-40 cm de altura. De flores amarelas, reproduz-se por semente. Uma simples monda mecânica ou aplicação da técnica do empalhamento controla esta erva.
10. Grama-carraspeira ou erva-pé-de-galinha (Eleusine indica)
Erva anual que aparece na primavera e verão, reproduz-se por sementes, com floração de junho a agosto. Dá se bem em solos em que as culturas se desenvolvem em solos compactos. O método manual de retirar a planta antes da floração, o empalhamento e as telas antierva são os mais eficazes.
Veja o vídeo “Como eliminar ervas daninhas”.
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