Jardins & Viagens

Diário da Noruega – Parte 2

Fique com a continuação desta fantástica viagem de 12 dias, Bergen-Kirkenes-Bergen…

“A melhor maneira de visitar a costa da Noruega é ir com um dos barcos-correio da Hurtigruten. Não tendo os luxos e as distrações dos barcos de cruzeiro para milhares de passageiros, tem a enorme vantagem de se poder desfrutar tranquilamente de todos os pontos ao longo da costa, numa viagem de 12 dias (Bergen-Kirkenes-Bergen).”

DIA 7

Aportámos em Kirkenes bem cedo de manhã. O programa era ir em moto QUAD até à fronteira com a Rússia, passeio que implicava logo alguma excitação, quer pelo meio de transporte utilizado, quer pelo destino.

O meu guia local, um motard com muitas horas de ginásio, anunciou logo, à laia de cartão de visita: “I am Mafia”. É que entre os 3500 habitantes de Kirkenes e o milhão de russos do outro lado da fronteira, existe uma troca de visitas e favores mercê de um livre-trânsito dado pelos russos, com carimbo no passaporte e tudo, às pessoas que provem que habitam Kirkenes há mais de quatro anos.

Os noruegueses vão buscar à Rússia produtos mais baratos como a gasolina e a vodka e os russos regalam-se na Noruega com o comércio decadente (mas gratificante e de melhor qualidade) do sistema capitalista.

Na fronteira só há polícia do lado dos russos, já que as torres de videovigilância não deixam passar alma viva não autorizada com o tal selo.

No lado norueguês, há apenas um casinhoto de madeira, mal-amanhado, que por sinal estava fechado, que exibe na janela-montra vários produtos para comprar, desde bolachas de chocolate e batedeiras a embalagens de Viagra.

O percurso de Kirkenes até à fronteira tem pouco tráfego e é um prazer andar de moto com o vento a bater na cara numa paisagem pouco ou nada construída e que é suavizada pela existência de enormes lagos.

DIA 8

Hoje, parados em Vardo, no mar de Barents, fui a pé visitar um curioso forte, em forma de estrela pentagonal, que, desde a sua origem no princípio do século XIV sofreu as habituais vicissitudes até ao século XX, altura em que acolheu noruegueses colaboracionistas com os alemães durante a II Guerra.

Hoje em dia, o forte de Vardo está aberto ao público e é sede de um museu. O mais notável do forte é a sua situação e a bela vista que dele se desfruta.

A baixíssima concentração populacional da Noruega dá a todas estas vilas uma escala humana a que não estamos habituados. A paisagem é intocada em quase toda a parte.

À noite, pouco dormi. Fiquei mesmerizada com o espetáculo do sol da meia-noite, que, na realidade, perdura noite dentro. Para dormir no escuro, só com vendas ou umas cortinas com blackout.

A NORUEGA FIGURA AGORA EM TERCEIRO LUGAR DO MEU RANKING DE PAISAGENS, apenas ultrapassada pela Nova Zelândia e pela Antárctica.

DIA 9

Dia tranquilo, durante o qual apenas passeei, com 7 graus de temperatura, duas horas por Hammerfest, onde aprendi que era a cidade mais a norte do mundo (o famoso cabo Norte é mais a sul), facto que disputa com a vizinha Honninsvag.

Mas o ponto alto do dia era o concerto à meia-noite na catedral de Tromso, onde aportámos pelas 23 horas. A catedral é em forma de triedro, projetada na vertical e o concerto, de sala a abarrotar, foi notável, com um barítono, um órgão e um violoncelo ao som de Bach, Saint-Saëns e Grieg, pois claro.

À saída, a caminho do barco, a beleza da beleza do sol da meia-noite prolongou por mais algum tempo a magia do acontecimento.

DIA 10

Após navegação noturna chegámos a uma das áreas mais bonitas da Noruega: as ilhas Lofoten. Dia cinzento, e, toda a manhã, o barco balançou com algumas baixas entre os passageiros, mas, ao princípio da tarde, a coisa melhorou e fui outra vez de RIB (rigid inflatable boat) conhecer de perto o Trollfjord.

Situado entre as Lofoten e as Vesteralen, este fiorde é outro ponto obrigatório da costa norueguesa. Escarpas altíssimas por onde escorregam quedas de água servem de poiso a uma quantidade de aves, entre as quais se distingue a águia-marinha-de-steller, a maior águia do planeta.

No Trollfjord, experimentei pela primeira vez a iguaria nacional: o bacalhau seco. Valeu pela experiência. Depois de explorados todos os recantos do Trollfjord, seguimos de RIB para Svolvaer, uma deliciosa vilazinha de pescadores onde apetece pernoitar.

Aí, comi no Bacalao, tasca que faz jus ao nome, mas que não chega aos calcanhares dos nossos pratos nacionais. De Svolvaer, um percurso por terra até Stamsound, onde apanhei o Hurtigruten às 22h30 para jantar. O percurso por estrada de Svolvaer a Stamsound é simplesmente maravilhoso e a merecer repetição da visita.

DIA 11

Visita ao arquipélago Vega, considerado Património Mundial pela UNESCO por ser um hino à sustentabilidade. A fonte económica deste território de 59 ilhotas habitadas é a recolha das penas com que os seus milhares de patos Eider fazem os ninhos.

Nascidas as crias, abandonam os ninhos e os habitantes recolhem e limpam a penugem para encher edredões (Eider downs) especialíssimos e superquentes para o inverno. Ainda perguntei o preço de um, mas o valor de 7000€ com que me acenaram, tirou-mo logo da ideia.

Na ilha principal, há um centro interpretativo da UNESCO, aberto recentemente, onde se pode almoçar e admirar as vistas. Regressei ao barco grande num passeio, de duas horas, através do arquipélago numa barcaça de pesca.

DIA 12

Ultimo dia no Hurtigruten. Resolvi não sair da terra e apenas usufruir do último dia de uma paisagem simplesmente extraordinária; uma vista que se pode admirar quer de dia quer de noite.

No dia seguinte, desembarquei em Bergen para, de avião seguir para Copenhaga onde fiquei uns dias.

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