Jardins & Viagens

Diário verde do Uzbequistão

MESQUITA DE KOK-GUMBAZ

 

Durante 12 dias percorri uma grande parte do Uzbequistão de carro, comboio e avião.

 

Um périplo que me levou a Tashkent (a capital), Kokand, Khiva, Bukhara, Samarcanda, Shakhrisabz e até ao deserto de Kyzylkum.

O país é grande, maior que o Reino Unido, e a sua topografia é variada com zonas montanhosas, vales, deserto e rios. Entalado entre o Turquemenistão, o Cazaquistão, o Tajiquistão e o Quirguistão, não tem mar, o que me levou a pensar, erradamente, que deveria ser um país castanho, seco e pouco verde. Infelizmente, não cabe nestas páginas dedicadas a jardins uma descrição da beleza e riqueza arquitetónica do Uzbequistão até agora insuperadas por outras viagens a paragens islâmicas que tenho visitado. A grandeza do Registan Square, em Samarcanda, ou a visão noturna do imponente minarete de Kalta Minor, em Khiva, são experiências inesquecíveis.

 

MAUSOLEU TIMUR

Mausoleu em Timur

 

A história do Uzbequistão é riquíssima, ou não tivesse sido a encruzilhada do mundo até meados do século XV. Samarcanda era o ponto de confluência da China, Pérsia e Europa, local ideal para trocas comerciais e culturais. Sob a batuta de Timur, também conhecido por Tamerlão,(1336-1405), a cidade tornou-se um espaço arquitetónico colossal mercê da importação de artesãos trazidos das suas conquistas por terras da Pérsia, da Índia, Mesopotâmia e Geórgia, só não chegando à China devido à sua morte.

 

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PALACIO AK-SARAY DE TIMUR

Palácio AK-SARAY de Timur

 

Samarcanda era nessa época a mais esplêndida cidade da Ásia e podemos hoje ter um vislumbre desses tempos graças a um muito discutido processo de restauro iniciado durante a ocupação soviética dos anos 60 e 70 do século XX. Não importa, apesar das críticas académicas sobre o processo do restauro, grande parte dos edifícios das principais cidades são considerados pela UNESCO como World Heritage Sites. A cor dominante da paisagem urbana é um extraordinário azul-turquesa patente nas cúpulas de palácios, mesquitas e mausoléus presentes nas cidades. Fica-se tonto de tanta abundância de arquitetura e decoração islâmica que, analisada ao detalhe, também contém traços de outras civilizações só possíveis dada a miríade de culturas que passaram por esta parte do mundo.

 

À SOMBRA DAS ARVORES EM SAMARCANDA

À sombra das árvores em Samarcanda

 

Os jardins

Antes da viagem, pesquisando o Google e o excelente guia da Bradt, reparei na inexistência de menções a jardins ou parques no Uzbequistão (exceto um importante jardim botânico com flora autóctone) pelo que não esperava poder contar com grande coisa. Enganei-me. Tashkenté uma capital de inconfundível traçado soviético, com largas avenidas, um metro de luxo a lembrara sumptuosidade do de Moscovo, com uma arquitetura pesada e pouco imaginativa mas muita zona arborizada, embora os parques tenham um desenho formal e pouco atrevido. Neles abundam bancos para se usufruir da sombra nos tórridos meses de verão e fui testemunha da sua popularidade dada a quantidade de famílias e casais que por lá deambulavam.

 

PARQUE TASKENT

Parque Taskent

 

Também em Bukhara vemos zonas de convívio ao ar livre com pequenos lagos artificiais rodeados de árvores onde, à noite, nos deparamos com uma grande animação com gente a comer e a dançar ao som de orquestras ao vivo. Outro constante apontamento verde localiza-se junto aos monumentos das principais cidades. Parece haver uma constante preocupação de emoldurar mesquitas, palácios e mausoléus com árvores plantadas, embora não se vislumbrem flores.

 

PASSEIO POR TASKENT

Passeio por Taskent

 

O clima é duro com temperaturas extremas no verão e no inverno e a água escassa, donde a variedade do arvoredo é sobretudo constituída por exemplares muito resilientes, sem grande espetacularidade. Outra surpresa é a riqueza dos mercados cobertos, enormes e repletos de fruta fresca e legumes, bem como de uma grande variedade dos chamados frutos secos. Para quem goste da atmosfera de mercados animados e ruidosos como eu, são um ponto de paragem obrigatório para algumas compras e para degustar o famoso non (pão uzbeque).

 

 

A Babel de outros tempos é replicada na atualidade com a quantidade de turistas que se aventuram a descobrir um país mais ou menos desconhecido. Por enquanto, ainda é possível sentira cor local não adulterada pela globalização de marcas e quinquilharia made in China, mas com tantos bons ingredientes para encantar e o preço baixo dos low cost não tardará muito a que se assista uma invasão de visitantes. O país encanta e merece uma visita.

 

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