Este mês, a convite de uma leitora, rumámos à margem Sul, mais concretamente à baía do Seixal, para tirar o véu a mais um jardim que se esconde da maioria.
Este jardim, plantado à beira da baía do Seixal, sem placa toponímica, é apelidado de Jardim dos Catos por quem ali passa. O anónimo que todos os dias, por amor, e com frequência religiosa, hidrata o que ali plantou é carinhosamente conhecido pelas crianças como Sr. dos Catos.
A baía prolonga-se por muitos metros de extensão, para lá do velho casario, numa costa serena e recortada com suavidade. A maré é tudo o que se faz notar no areal. Não há ondulação naquele lugar ribeirinho que comparte convívio com a população. Visivelmente, são muitas as pessoas que desfrutam da beleza pacífica que esta paisagem proporciona.
O rio confunde-se com a praia e esta com a paisagem natural vegetal. Deixando para trás pegadas que se afundam no areal, é ao atravessar os portais floridos que entramos simbolicamente num local onde o bulício das nossas vidas perde a voz, o Jardim dos Catos. Além de podermos desfrutar do verde introduzido neste jardim de difícil cultivo, outrora árido, estamos perante um convite à interação e reflexão.
Muitos serão os pensamentos que aparecem com o impulso das mensagens que populam o espaço. As plantas são também palavras que, por sua vez, compõem uma mensagem bem enraizada: plantar para partilhar. Algo que pode ser feito à volta de uma bem-disposta mesa redonda ou nas poltronas cuidadosamente colocadas para uma interação cara a cara. O que se nos apresenta fácil só é conseguido pelo modo com que cada exemplar é tratado, seja pelo composto seja pela hidratação que impera ser diária.
Aqui é ainda possível assistir a uma aula de aclimatação de espécies inesperadas: Ananas comosus, Musa x paradisiaca, Cereus repandus syn. C. peruvianus, Streliztia reginae e Cycas revoluta. São tratadas lado a lado com espécies muito mais bem preparadas para aquelas condições ecológicas. À vista estão estes bons exemplos de adaptação ao stresse hídrico, elevada exposição solar, ventos dominantes e ambiente totalmente desprotegido.
Uma aula de antagonismo botânico. Ao fim do dia, poucas são as barreiras do homem e plantas, nomeadamente quando se amam. Afinal, as plantas recompensam todos os fiéis jardineiros.
Com a colaboração de Leonardo Rodrigues.
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