
O aquecimento global está a provocar várias alterações climáticas; além das evidentes subidas das temperaturas, temos de escolher árvores de fruto preparadas para estas condições.
Existe uma certeza: as atividades humanas estão a contribuir cada vez mais para esta catástrofe da Natureza, ao liberar milhões de milhões de toneladas de gases que retêm calor na atmosfera da Terra. Assim as alterações já sentidas e constatadas em Portugal e que influenciam as nossas culturas agrícolas são:
Temperatura/insolação
Já se constatou que a temperatura passou o limite de 1,5oC e caminha para um aumento de 3-4oC na temperatura média anual. No verão espera-se que as temperaturas aumentem 3,4oC em relação à média do ano passado (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – IPCC). As ondas de calor (temperaturas superiores 34-36oC) são um grande problema para as plantas, causando paragem do crescimento e murchidão.
As radiações azuis, violetas ou ultravioletas, associadas a temperaturas altas, podem originar queimaduras nos frutos, crostas e vários danos nas folhagens. O aumento da temperatura traz mais pragas de insetos e outros invertebrados. Muitas árvores precisam de um determinado número de horas de frio; se não o tiverem, podem ter poucos rebentos vegetativos e florais.
Pluviosidade
A falta de chuvas vai causar problemas na agricultura, sabendo que nas árvores fruteiras, variam entre 700 mm e 1500 mm/ano de pluviometria. Inundações e encharcamentos em pouco tempo também podem causar asfixia dos órgãos vegetais em ativa respiração e erosão dos solos.
Humidade relativa
Portugal, especialmente no verão, pode ter humidades 20,2% mais secas (IPCC). Abaixo de 35%, durante mais de duas horas com temperaturas acima de 30oC afetam o crescimento das árvores de fruto.
Vento
Com alguns fatores climáticos que podem intensificar a velocidade do vento, originando ventos com velocidades de 24 a 48 kmstihl, podem originar queda das flores e frutos, ramos partidos e redução da polinização e fotossíntese. Os ventos abaixo de 14 kmstihl são mais favoráveis.
Escolhi dez árvores/arbustos de frutos que estão mais preparados para se ambientarem aos fatores edafoclimáticos que esperamos no futuro em Portugal.

Laranjeiras / citrinos
Crescem com temperaturas entre os 0oC e 40oC, mas a partir dos 36oC param o crescimento e com temperaturas abaixo dos 13oC entram em repouso. Também gostam de muito sol. Precisa de 850-1000 mm/ano de precipitação.
Utilização: Os frutos servem para indústria alimentar e as flores podem dar-nos mel e servir para infusões.
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Amoreira-negra
Árvore muito vigorosa, gosta de temperaturas quentes entre 20-30oC e suporta bem 35oC, prefere o sol pleno, apenas a humidade atmosférica não pode ser muito baixa. Precisa de uma precipitação de 900-1100 mm/ano.
Utilização: O fruto pode ser consumido fresco, mas pode ser utilizado em compotas e outros doces. As folhas servem para alimentar o bicho-da-seda.
Alfarrobeira
Temperaturas no verão devem ter uma média de 20oC e podem suportar 40oC de máxima, mas não devem descer abaixo de 10oC. Adaptando-se bem a ambientes secos com precipitações anuais de 500mm e solos pobres. Também é muito resistente aos incêndios.
Utilização: Dos frutos faz-se a farinha e extraem-se compostos que são utilizados na indústria alimentar, farmacêutica e da cosmética.
Pinheiro-manso
Boa adaptação a secura do solo (precipitação deve estar entre 500-700 mm/ano) e da atmosfera, suportando bem temperaturas de 41oC. Gosta de solos arenosos e pobres ligeiramente salinos. Suporta bem os ventos fortes.
Utilização: Sementes comestíveis e boa madeira para construção.
Figueira
Muito resistentes ao calor (média entre 17-21oC) e à seca. Não é exigente quanto ao tipo de solo, incluindo áridos, e resiste a ventos fortes. Pouco exigente em precipitação, bastam 600-700 mm/ano.
Utilização: Os frutos podem ser comidos em fresco ou para uso culinário, especialmente na doçaria.
Romãzeira
Cresce em ambientes quentes e secos, suporta temperaturas altas até 40oC e produz com precipitações entre os 500-600 mm/ano. Gosta de zonas com pleno sol.
Utilização: Come-se o fruto e também em sumo.
Oliveira
Grande rusticidade, suporta muito bem temperaturas estivais elevadas (média de 20-25oC), climas áridos e ventos quentes e secos, não gosta de humidade excessiva. Produz bem em solos pobres, secos e pedregosos. A precipitação deve ser de 500-700 mm.
Utilização: Come-se o fruto e elabora-se o azeite.
Amendoeira
Temperatura média anual deve estar entre os 15oC-18oC e resiste bem a temperaturas superiores a 30oC; as mínimas não devem descer dos 2oC. Gosta de alta luminosidade e sofre muito com doenças criptogâmicas, sendo os climas secos favoráveis. As precipitações devem ser superiores a 600 mm/ano.
Utilização: Ao natural ou na doçaria regional.
Videira
Adapta-se a zonas a onde a temperatura média do mês mais quente seja superior a 19oC e do mês mais frio não seja inferior a -1oC e é capaz de suportar temperaturas de 38oC a 40oC, podendo sofrer com acidentes como golpe de sol. Temperaturas altas e a alta intensidade luminosa favorecem o aparecimento de gemas florais. Gosta de zonas com verões grandes, secos e quentes, seguidos de um inverno frio. Adapta-se a solos pobres e secos. A pluviometria deve situar-se entre os 400-1000 mm/ano dependendo da casta.
Utilização: Come-se o fruto e elaboram-se sumos e vinhos.
Nespereira
Gosta de ambientes quentes e resiste à seca e ao vento. As temperaturas médias acima dos 15oC e humidades baixas são as melhores. Adapta-se a vários tipos de solos. As precipitações devem ser superiores a 1200 mm/ano.
Utilização: Fruto muito saboroso que se come ao natural.
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