Todos temos a nossa forma especial de nos relacionar com o ambiente que nos rodeia. Existem moradores de cidade que evitam a todo o custo a presença da Natureza, erradicando toda a conexão com o mundo vegetal, impermeabilizando todo o espaço exterior, anulando a Natureza, existindo ainda aficionados e apaixonados que cuidam e plantam em todo o lugar que encontram oportunidade. Naturalmente, insiro-me no último tipo e é com muita satisfação que verifico que cada vez somos mais, mais atentos e sensíveis a uma Natureza que se extingue, à nossa frente, dia após dia, nas pequenas coisas, na génese da nossa alma cada vez menos animal.
O termo “biofilia” provém do grego bio, que significa vida, e philia, que significa amor ou afeição. Amor pela vida ou por tudo o que vive. Os japoneses foram das primeiras civilizações a percecionar a importância da simbiótica do Homem com a Natureza, ao reconhecer que a presença e a interação do homem com o natural e o selvagem, promove sentimentos de bem-estar e equilíbrio que não podem ser explanados de outra forma sem reconhecer o sentimento de comunhão com o natural de onde provimos.
Têm inclusive um nome para este belíssimo exercício de união ao meio natural – shirin-yoku ou banhos de floresta – que consiste na imersão no mundo natural como terapêutica para uma melhor qualidade de vida. Ter oportunidade de desacelerar, de ouvir os sons da floresta e ver a paisagem velada pela luz filtrada da folhagem, a pureza do ar e a evasão são sentimentos de puro bem-estar e plenitude que nos remetem para a nossa existência original.
Assim, hoje, iremos falar sobre a planta que tem sido um marco na reintrodução da Natureza nos nossos lares e nas nossas vidas modernas. Com as suas exuberantes folhas de cor verde e de tamanho titânico, partilham o interior de muitas habitações e escadas de acesso a edifícios.
A sua origem
A Monstera deliciosa, também conhecida como planta-costela-de-adão, ou planta-queijo-suíço, é originária das florestas tropicais húmidas, da América Latina, nomeadamente do México e também Belize, Honduras, El Salvador, Costa Rica, Guatemala e Panamá. Colónias de plantas selvagens também podem ser encontradas noutras partes da América, Australásia e Mediterrâneo Ocidental nomeadamente na ilha da Madeira.
Ao longo dos últimos anos, atingiu o pico da sua popularidade, sendo muitas vezes comparado o seu reconhecimento e apreciação com a febre das tulipas holandesas na década de 1630.
A atração e popularidade da Monstera deliciosa na década de 1970 remetem para o pintor Henri Matisse, da qual era um grande apreciador, tendo sido captado em inúmeras fotografias com uma planta de grandes dimensões. Foi também pioneiro na sua introdução em grande parte da sua obra artística, produzindo inúmeras representações pictóricas da Monstera deliciosa na sua brilhante criação artística.
É conhecida nas variadas geografias por onde ocorre por diversos nomes, nomeadamente monstro-delicioso, planta-de-salada-de-frutas, árvore-de-salada-de-frutas, ceriman, fruta-monstro, monsterio delicio, monstereo, fruta-pão-mexicana, folha-de-janela, balazo e banana-penglai.
Os nomes em espanhol (costilla de Adán), português (costela-de-adão) e francês (plante gruyère) referem-se à mudança das folhas de inteiras para fenestradas. No México, a planta às vezes é chamada piñanona. Nas regiões costeiras da Sicília, especialmente Palermo, é chamada zampa di leone (pata de leão).
O epíteto específico do seu nome deliciosa significa “delicioso”, referindo-se objetivamente ao seu fruto comestível e enormemente apreciado por todo o mundo, sendo que o seu género, Monstera, tem origem na palavra latina com tradução de “monstruoso” ou “anormal” e refere-se às folhas incomuns com buracos naturais que os membros do género têm, chamadas tecnicamente fenestrações.
Faz parte da ordem das Aráceas e é uma planta hemiepífita, o que significa que é uma planta que inicia o seu crescimento de forma epífita (sem solo) após germinar sobre a vegetação existente, mas posteriormente vai lançando raízes aéreas em direção ao solo – após alcançarem-no, enraízam e conduzem a um rápido desenvolvimento da planta.
Como o nome indica, pode atingir proporções monstruosas na Natureza, atingindo comprimentos até aos 20 metros de altura devidamente suportada com folhas grandes, coriáceas, brilhantes, pinadas, em forma de coração de 25 a 90 centímetros de comprimento e 25 a 75 centímetros de largura.
As folhas das plantas jovens são menores e inteiras, sem fenestrações ou buracos, mas produzem folhas com os característicos buracos e fenestrações à medida que crescem. Embora possa atingir enormes tamanhos na Natureza, atinge geralmente apenas entre dois e três metros quando cultivada em ambientes fechados.
O seu fruto
A Monstera deliciosa é considerada uma iguaria devido ao seu sabor doce e exótico dado produzir fruta comestível, que é amarela quando madura, tem um aroma delicioso e tem um sabor comparado a uma salada de frutas de banana e ananás. Deve-se ter cuidado para não se comer a fruta até que a casca exterior verde-azulada se tenha soltado, pois esta pele contém ráfides e tricosclereídes – estruturas semelhantes a agulhas de oxalato de cálcio e é muito irritante para a boca e garganta. Importa ainda notar que a Monstera deliciosa é tóxica para pessoas e animais de estimação. A única parte da planta que é segura e comestível é o fruto maduro, logo são necessários alguns cuidados no manuseamento, especialmente junto de crianças e pessoas com pele sensível.
A fruta pode ser amadurecida cortando-a quando as primeiras escamas começarem a erguer-se e começar a exalar um odor característico Após colhidos, os frutos deverão ser amadurecidos num saco de papel ou embrulhados num pano até que as escamas do fruto comecem a separar-se do resto. Após este processo, a polpa comestível torna-se visível por baixo.
A polpa, que é semelhante ao abacaxi em textura, pode ser cortada do fruto e comida. Tem um sabor frutado semelhante ao da jaca e abacaxi. Os frutos verdes podem irritar a garganta, e o látex das folhas pode criar erupções na pele, porque ambos contêm oxalato de potássio e como tal é importante que os frutos sejam apenas consumidos quando as escamas se levantam. As fibras pretas irritantes podem ser removidas com a aplicação de um pouco de sumo de limão.
O fruto da Monstera deliciosa pode atingir até 25 cm de comprimento e 3-5 centímetros de diâmetro e parece uma espiga verde de milho coberta com escamas hexagonais, demorando, por norma, mais de um ano até atingir a maturidade.
O seu cultivo e propagação
No que concerne ao seu cultivo e propagação, é facilmente criada ao ar livre como planta ornamental nos trópicos e subtrópicos. É uma planta que atinge proporções ambiciosas, requerendo por isso espaço e um substrato rico que sustente o seu rápido e vigoroso crescimento. Idealmente, deverá ser plantada junto a uma árvore no exterior ou junto a um parâmetro vertical no interior para que possa trepar. Em termos de necessidades de águas, é uma planta que gosta de ter o substrato sempre húmido e não é tolerante a geadas ou temperaturas negativas sem proteção. Temperaturas próximas de zero graus podem ser toleradas desde que se encontre abrigada por outra vegetação de maiores dimensões ou sob copas de árvores, desde que não se prolongue por mais de algumas horas.
Em Portugal continental e ilhas, a planta floresce facilmente, não sendo fácil, no entanto, obter frutos maduros na maioria das plantações, com exceção das zonas continentais mais quentes e húmidas e, naturalmente, no arquipélago da Madeira e dos Açores, cujas condições atmosféricas favoráveis asseguram o sucesso de todas as plantações. Em condições ideais, floresce cerca de três anos após plantada.
No que concerne às variadas utilizações que não a de produção de fruto e utilização como planta ornamental, é conhecida a utilização das suas raízes aéreas para o fabrico de cordas no Peru, bem como para a execução de cestaria tradicional no México. Na Martinica, a raiz é usada para fazer um antídoto para dentada de cobra.
No panorama do cultivo ornamental nacional, existem dois tipos de Monstera deliciosa, a Monstera deliciosa e a Monstera borsigiana. A borsigiana é atualmente descrita como um subcultivar da variedade clássica M. deliciosa.
Presentemente, a origem da Monstera borsigiana não é clara, como tal não foi classificada com a sua própria espécie (apesar de ser comummente chamada Monstera borsigiana na comunidade científica e de colecionadores de exóticas).
De forma sintética, a forma de as identificar é relativamente simples, uma vez que a variedade mais comum, a Monstera deliciosa, é a planta com a forma de folha grande, e a Monstera deliciosa var. borsigiana tem a forma de folha pequena.
O cultivar original é a planta maior das duas e possui uma característica diferenciadora, nomeadamente o facto de possuir os pecíolos franzidos onde o pecíolo se liga à folha quando as folhas estão maduras. Os nós (ou lugares onde as raízes e brotos emergem) estão bem juntos. Na variedade borsigiana, não cresce tanto e não desenvolve os babados característicos nos pecíolos das folhas na maturidade. A borsigiana também tem maior espaçamento internodal, criando uma planta que é mais extensa na Natureza. Ambas podem ser encontradas como plantas ornamentais clássicas, totalmente verdes e plantas com mutações e albinismo ou vulgo variegadas.
O fenómeno da procura e do colecionismo
O fenómeno de procura e colecionismo de plantas raras que correntemente domina o panorama internacional representa um autêntico fenómeno de popularidade por todo o mundo neste momento. Plantas com mutações genéticas raras não são as típicas plantas de casa.
Falo de exemplares tão raros que, no mercado aberto, por uma única folha ou corte, que pode ainda não ter raízes, atingem preços que começam nas centenas de euros, podendo terminar nas dezenas de milhares de euros para colecionadores de plantas raras. Os preços online e para transações individuais variam muito, impulsionados por tendências e escassez, sendo os preços também influenciados pela disponibilidade de determinada variedade no mercado e dificuldade e velocidade de propagação de um determinado cultivar.
O que é único nessa tendência, porém, é a quantidade que as pessoas estão dispostas a gastar em plantas raras e procuradas nestas plantas de beleza quimérica, em que algumas células são geneticamente capazes de produzir clorofila (as partes verdes da planta) e outras células não possuem essa capacidade. As variedades mais variegadas são as mais procuradas no momento. As plantas variegadas são difíceis de propagar dado que a variegação ou albinismo não é constante, não podendo ser controlada. Quando replicadas, as plantas nem sempre saem bem variegadas. Algumas saem muito variegadas, o que leva a um crescimento insalubre devido à falta de clorofila, ou alguns saem com pouca ou nenhuma variegação.
Mesmo em um cenário de propaação bem-sucedido, não há garantia de que a planta permanecerá variegada. É possível que as células verdes assumam e revertam a planta para verde. Também é possível que as células brancas mutantes assumam o controlo, criando um problema ainda maior porque a planta não pode viver sem clorofila para fotossintetizar.
Pode encontrar este e outros artigos na nossa Revista, no canal da Jardins no Youtube, e nas redes sociais Facebook, Instagram e Pinterest.