Conheci a Joana e o Roberto Guedes há longos anos, quando estudei no Porto, nada me fez pensar nessa altura, que se tornariam jardineiros amadores apesar da família do Roberto ter uma das quintas mais bonitas da região, a Aveleda.
Depois te ter passado pela banca, Vista Alegre e Associação Industrial Portuense, entre outros, o Roberto foi administrador da Aveleda durante 17 anos e orgulha-se, como jardineiro, de ter restaurado um jardim do século XVIII com 34 hectares e criação do zoo anexo com 15 hectares, a Quinta de Santo Inácio em Avintes, Vila Nova de Gaia. A Joana, por sua vez, esteve ligada ao Museu Soares dos Reis e foi presidente da Associação das Camélias, tendo produzido vários estudos sobre as ditas e recentemente publicou o livro Camélias Portuenses do Século XIX.
Onde se situa o seu jardim e que área tem?
Em nossa casa temos um pequeno jardim de cidade (500/600 m2) que, retirando zonas de circulação fica por 600 m2. Fica na zona da Foz do Douro, distanciado 4-5 km do mar. Grande parte é relvado (350 m2) e usamos as partes junto dos muros com os vizinhos para encostar plantas numa faixa de 1-3 ou 4 metros.
O que faz no seu jardim? Tem ajudas?
A Joana ajuda-me bastante no jardim, desde apanhar todas as ervas, plantar novas plantas e reformar canteiros até podas de formação e retirar grandes quantidades de lixo que a mais pequena operação no jardim faz sempre. Nós somos jardineiros autodidatas, com grande experiência nas coisas da terra. Eu Roberto, lido com jardins, desde os meus 10 anos, metendo bem as mãos na terra.
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Quantas horas diárias e/ou semanais dedica à jardinagem?
Geralmente jardinamos ao final da tarde e, às vezes, ao fim de semana. A presença de jardineiros para o trabalho pesado é eventual e pontual, tipo poda de todas as coberturas dos muros com os vizinhos, o abate de árvores, a preparação do terreno do relvado inicial, a limpeza de inverno com cava e adubação de fundo com estrume equino. A poda é feita por mim. Mas o que gostamos mais de fazer é sentarmo-nos ao final do dia no terraço a ver a noite entrar – primeiro, o céu vermelho, depois os morcegos, depois, a Lua e as estrelas e, seguir, o fresco da noite.
Quais as ferramentas de jardinagem que usa no seu dia a dia?
Temos todo o tipo de ferramentas, desde as tradicionais e mais pesadas (como a enxada, pé de prumo, as enxadas de bicos, a pá de bicos, serrotes, pequenos sachos e sachinhos, tesouras de poda manuais, de duas mãos e de relva, os ancinhos e os variscos, os grandes cestos de lixo, os baldes pequenos para adubar ou recolher ervas daninhas) até aos gadgets da Gardena (robô corta-relva, poda-sebes, serras elétricas, escarificadores, etc.). Ficam guardadas num pequeno barraco de madeira (num canto fora de vista).
Esta entrevista foi conduzida pelo fundador da revista Jardins. Conheça-o!
Que jardins prefere em Portugal?
Quanto ao estilo de jardim, prefiro o romântico informal. Em 1998-2000 tive o grande prazer de plantar um jardim de raiz na Quinta de Santo Inácio, em Vila Nova de Gaia, cujo jardim começou a ser plantado em 1702. Coube-me reconstruir estes jardins. Comecei pelo jardim formal, seguindo-se o antigo jardim botânico de buxo, azáleas e rododendros, bem como o bosque, hoje com arvoredo classificado. O total era de cerca de 3 hectares.
Recomenda algum livro sobre jardins? Que revistas e/ou jornais lê sobre o tema?
Durante toda a minha vida consultei frequentemente todo o tipo de livros sobre jardinagem. Recomendo os da RHS (Royal Horticulture Society), com catálogos imensos de muitos tipos de árvores, arbustos e flores. Para os amantes de rosas, não posso deixar de recomendar os catálogos, sites e filmes sobre as rosas inglesas de David Austin e as francesas Meilland. Muito gratificante é ver no Youtube os muitos programas da BBC de Monty Don ou da saudosa Carol Klein, quer sobre história de jardins no mundo, quer sobre operações de jardinagem em particular. Na FNAC encontram-se sempre muitos livros sobre jardinagem para todos os gostos. Quanto a catálogos de viveiristas, é sempre bom visitar o site da Planfor, mesmo que seja só para inspiração, bem como o do Horto do Campo Grande. Por fim não esquecer os vários livros sobre jardins portugueses publicados nos últimos 30 anos. Sobre revistas começamos pela Mon jardin et ma maison, a Gardeners world magazine, a Homes & Gardens e, evidentemente, a Jardins. Mas há muitas que não são verdadeiramente úteis, pois são “revistas de modas de jardins”.
Qual foi o último objeto relacionado com jardinagem que comprou? E que ofereceu?
O equipamento que comprei recentemente e me retira o trabalho obrigatório semanal (no verão): o robô corta-relva da Gardena (há para várias dimensões de relvado); recomendo vivamente.
O que aconselha aos jardineiros amadores?
Para os novos amantes de jardins, recomendamos que não se assustem, comprem um ou outro livro sobre jardins e comecem a tentar perceber a vida vegetativa das plantas. Olhem para os jardineiros dos jardins públicos, falem com eles, falem também com os viveiristas e, se
puderem, vejam os excelentes programas semanais ou mensais da televisão inglesa no Youtube. Erramos muitas vezes, mas isso é que nos dá o estímulo para continuar.
Qual é a sua planta ou flor preferida?
As plantas preferidas da Joana são as camélias, nas suas muitas espécies e sobretudo variedades. São plantas fáceis de cuidar em solos ácidos (Norte, Sintra, Açores e muitos locais graníticos e frescos). Estas plantas oferecem muitas surpresas, pois a mesma planta apresenta muitas mutações e varia a coloração quase todos os anos. Por outro lado, é de grande longevidade e aceita muito bem a poda e a topiária. Não é exigente em cuidados, bastando uma ligeira adubação nos primeiros anos. As minhas preferidas [Roberto] são as rosas e as azáleas. Mas aprecio também o equilíbrio do jardim e muitos arbustos persistentes, bem como as plantas coloridas para bordaduras.
Em que horto compra as suas plantas e porquê?
Nunca vou a um horto com a ideia fixa de uma planta. Simplesmente passeio e vejo qual a planta existente que encaixa melhor no local que pretendo. Assim vou variando de horto para horto para alargar a minha visão. Nunca sei se saio com uma planta ou com 20. Mas também compro na net algumas que sei que não encontro facilmente nos hortos. Considero que isso é uma lotaria, pois não posso certificar-me do estado da planta antes de a comprar. Considero que neste tipo de compra há sempre um risco de 50 por cento de ficar desiludido.
Que móveis de jardim tem e quais considera indispensáveis? Trata-os regularmente? Como?
Como zona de estar temos um terraço encaixado na casa, com um toldo. Somos muito simples quanto a móveis de jardim (bastam umas cadeiras, uma mesa e uma rede de descanso).
Qual foi o momento/acontecimento que a fez interessar-se por jardins?
Comecei por interessar-me por jardins ao acompanhar o meu pai nas suas idas aos jardins da Aveleda para instruir o jardineiro. Com ele fui aprendendo muito, desde a sementeira à poda, desde a cava e adubação até ao arranque das plantas anuais. Com ele procedi à distribuição ao longo do terreno, com cerca 2000 m2, de mais de 500 reproduções de azáleas. Hoje, passados mais 60 anos, é um verdadeiro espetáculo. Porque o jardim não pode ser secreto só para o jardineiro, é necessário partilhá-lo, mostrá-lo, conversar com outros apaixonados pela beleza. O meu bisavô juntava um grupo de amigos que se intitulavam “os catapereiros”, que se reuniam a cada 15 dias para analisarem o jardim dele. Juntos discutiam e reproduziam novas variedades de camélias e roseiras que eles tinham obtido nos seus passeios. E assim o jardim ganhava vida.
Tem roupa específica para jardinar?
Usamos sempre uma roupa especifica para o jardim, porque os estragos e sujidade estão sempre presentes. Claro que o calçado é próprio, desde as galochas aos sapatos de borracha. Também, e especialmente quando lidamos com plantas agressivas, usamos luvas mais ou menos fortes. Para arrancar ervas, as luvas são desaconselhadas pois perdemos o sentido do tato.
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