No século XIX, quando estas orquídeas foram descobertas e trazidas para a Europa pela primeira vez, as suas florações provocaram uma grande confusão no mundo botânico. Algumas plantas foram classificadas com dois nomes diferentes, com outras pensou-se que tinham sido trocadas. O comerciante de plantas da Guatemala, George Ure Skinner, chegou até a escoltar uma planta num navio para Inglaterra após tentativas de provar que tinha encontrado uma nova espécie.
Esta confusão deveu-se ao facto de, ao contrário dos restantes géneros da família Orchidaceae, as plantas Catasetum e Cycnoches produzirem dois tipos de flores na mesma planta: masculinas e flores femininas. Muito raramente estas plantas produziam flores ditas normais, com os dois sexos. Cada haste floral é composta por flores de um único sexo. No entanto pode acontecer que uma planta produza várias hastes florais em simultâneo e que uma seja composta por flores masculinas e outra por flores femininas.
As flores dos dois sexos são muito diferentes de aspeto. As flores masculinas são maiores, mais coloridas e com um mecanismo, que dispara a polínias para que estas atinjam os insetos que poderão polinizar. Já as flores femininas, são flores resupinadas e com o labelo franjado virado para baixo. As flores masculinas podem variar em tamanho e cor, de espécie para espécie, as flores femininas são semelhantes em todas as espécies. São mais pequenas, eretas, não-ressupinadas e globulares com um orifício arredondado, lembrando um capacete, as cores nas várias espécies variam pouco do verde amarelado.
O mistério das flores unissexuais
O que sucedeu na evolução destas plantas para que produzam flores unissexuais, é um mistério. Estudos sugerem que podemos influenciar as plantas a darem flores masculinas ou femininas aquando da formação da flor a partir da luz a que a expomos. Se quisermos obter flores femininas, teremos que expor a planta a uma maior luminosidade. Por sua vez se quisermos obter flores masculinas, devemos colocar as plantas num local mais sombrio. Assim que as flores (independentemente do sexo pretendido) estiverem formadas, estas orquídeas devem ser colocadas num local com boa luminosidade para melhor se desenvolverem.
As suas flores estiveram na origem dos seus nomes. Catasetum do grego “kata” (dirigido para baixo) e “seta” (cerdas) devido aos prolongamentos da coluna virados para baixo no interior do labelo. Cycnoches do grego “Kyknos” (Cisne) e “oches” (pescoço) referindo-se ao formato da sua coluna nas flores masculinas que lembra o pescoço de um cisne. Os Catasetum e os Cycnoches são originárias da América do Sul, desde o México à Argentina. São constituídos por pseudobolbos alongados, em forma de charuto, podendo cada um desenvolver várias folhas plissadas de espessura fina. Estas folhas são decíduas. As hastes florais podem crescer na base ou nos nós a meio dos pseudobolbos e em números variados, formando cachos de flores.
Cultivo
Para termos sucesso com estas orquídeas, há que perceber os seus modos de cultivo, diferentes do resto das orquídeas. Estas plantas crescem a baixas altitudes em florestas ou matos secos, com períodos quentes, fustigados por monções contrastando com estações secas. Adaptam-se assim a períodos distintos, desenvolvendo-se na estação quente e húmida e entrando em dormência na estação mais seca. São essas condições que temos de oferecer às nossas plantas.
Para estas orquídeas o substrato adequado é a mistura de casca de pinheiro, fibra de coco e musgo de esfagno. No entanto, há também quem utilize só musgo de esfagno. A drenagem é muito importante para evitar o apodrecimento das raízes e dos pseudobolbos. Um bom arejamento também evita a acumulação excessiva de água no substracto.
Em Portugal, esta atividade começa na primavera quando os novos rebentos surgem na base ou a meio, dos pseudobolbos. Isso acontece no final do período de dormência. Quando os novos rebentos tiverem um tamanho superior a 5 cm e começarem a desenvolver folhas, aumentam-se as regas que eram praticamente inexistentes no período de dormência. Começamos também a adubar com um adubo rico em nitrogénio (azoto). Esta é a altura certa para reenvasar ou envasar, pois os novos pseudobolbos vão começar a desenvolver raízes e a crescer. Os pseudobolbos engordam e crescem a olhos vistos e em algumas semanas podem atingir os 30 cm em algumas espécies. Durante a fase de crescimento devemos regar e fertilizar em abundância vigiando a planta para termos a certeza que o substrato tem boa drenagem e não fica empapado.
Se por alguma razão notamos que algum dos pseudobolbos velhos começa a ficar mole, este deve ser imediatamente retirado. Para isso, basta torcê-lo ou cortar com uma faca desinfetada. Passados 2-3 meses, começamos a notar o aparecimento de uma ou mais hastes florais. Após estar um pouco desenvolvida, mudamos para um fertilizante rico em sódio e potássio para auxiliar na floração e continuamos a regar.
Diminuir rega
No outono, depois da floração notamos que as folhas começam a amarelecer e a cair. A planta está novamente a entrar no período de dormência. Nessa altura diminuímos as regas para metade e uma semana depois para uma rega de 3 em 3 semanas. Isto é o suficiente para manter os pseudobolbos lisos, sem rugas provocadas pela desidratação. Nesta altura, há orquidófilos que os retiram pseudobolbos dos vasos, limpam, os dividem aos pares e colocam sem substrato num vaso, na vertical. Outros preferem deixá-los no período de dormência nos vasos, fazendo a divisão e reenvasamento quando os novos rebentos abrirem na primavera seguinte.
Os Catasetum e Cycnoches podem ser cultivados em qualquer tipo de vaso. Aconselho o uso de vasos de barro com orifícios no fundo e nos lados para aumentar a drenagem. São plantas muito interessantes de cultivar com o bónus de ter flores diferentes, perfumadas e muito bonitas na mesma planta. Vale a pena o esforço.
Foto: José Santos
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