Ornamentais

Orquídeas pelóricas: mutações ou aberrações?

As flores das orquídeas obedecem a um padrão anatómico presente em praticamente todas as espécies – três sépalas e três pétalas -, sendo uma das pétalas diferente, geralmente com uma forma diferente e cores mais fortes, denominada labelo. Também é possível constatar que existem exceções, ficando as orquídeas com uma aparência incomum. O labelo não se salienta tanto das outras duas pétalas, ou melhor, as duas pétalas são muito semelhantes ao labelo, parecendo imitá-lo. Por vezes, parece que a flor tem mesmo três labelos, tornando-a, para uns uma aberração, para outros uma flor de beleza extrema.

A estas orquídeas, cujas flores têm duas pétalas semelhantes ao labelo, chamamos de orquídeas pelóricas (no Brasil usa-se também o termo ‘trilabelo’).

Esta mudança na forma, tamanho e/ou cor das duas pétalas ocorre principalmente em híbridos e é resultante  dos processos de hibridação e clonagem. No entanto, há registos de terem sido encontradas orquídeas selvagens com flores pelóricas. Neste caso, são mutações que devem ocorrer principalmente devido a fatores ambientais. Na maioria dos casos, a planta dá sempre flores pelóricas mas há alguns casos, raros, em que após uma floração de flores pelóricas dá-se uma reversão genética e a planta volta a dar flores não pelóricas nas florações seguintes.

Atualmente, encontram-se com alguma facilidade híbridos de Phalaenopsis, Cymbidium ou Cattleya com flores pelóricas. Por vezes, as pétalas adquirem só uma pequena mancha de cor diferente no extremo das pétalas, em outras ocasiões toda a pétala tem uma cor mais intensa, com a mesma tonalidade e uma  forma semelhante à do labelo e, mais raramente, a flor parece ter mesmo três labelos idênticos.

As orquídeas de flores pelóricas, em especial neste último caso, não sobreviveriam facilmente na natureza. A planta, em vez de atrair o seu polinizador para o labelo de modo a que ficasse posicionado para levar as polinídias da coluna e as depositar no local exato na base da coluna de outra flor de modo a que esta última fosse  fertilizada, andaria a baralhar o polinizador com ‘falsa publicidade’ e seria muito mais difícil ocorrer a polinização e a produção de sementes.

Uma variante muito mais rara de flores pelóricas que só vi ainda ocorrer em híbridos de Cymbidium faz com que, não as duas pétalas mas as duas sépalas laterais, muitas vezes só a metade inferior das sépalas, adquiram tonalidades semelhantes à do labelo. Estes híbridos são muito procurados pelos colecionadores pois são ainda raridades no mercado.

Divergências

Como em tudo na vida, desde que hajam duas opiniões, haverá sempre divergência. Por um lado há quem procure orquídeas de flores pelóricas para as suas coleções dando valores fora do comum por essas plantas e por outro há quem defenda que essas mutações não devem nem ser consideradas pois não são ‘normais’, são aberrações e, logo, devem ser excluídas de quaisquer concursos.

A meu ver, cabe a cada um escolher e cultivar as plantas que acha mais bonitas, as espécies, os híbridos mais comuns ou as mutações. Não siga regras nem modas. Divirta-se simplesmente com as suas plantas. Além de todas as opiniões, a verdade é que cada vez mais se vão encontrando orquídeas de flores pelóricas à venda e algumas com preços acima da média. Existe um mercado para essas plantas.

Ao contrário de algumas deformações que podem acontecer em algumas flores, já tive um Paphiopedilum com duas sépalas dorsais e já vi uma Phalaenopsis com duas colunas, só para dar dois exemplos, as flores pelóricas são mutações genéticas naturais ou resultantes da hibridação e as mutações sempre fizeram parte da evolução dos seres. E foi à custa dessa evolução, durante milhares de anos, que algumas plantas deram origem à imensa família das Orchidaceae que temos hoje, tão diversificada, tão peculiar e com flores tão diferentes mas tão apaixonantes.

Fotos: José Santos

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