O norte de Portugal é particularmente rico em santuários que constituem verdadeiros sacro montes sejam eles de pequenas dimensões ou monumentais.
Os santuários enquanto destinos configuram espaços de encontro com o divino e as comunidades e alguns têm raízes ancestrais como lugares devocionais e de peregrinação. Associados às práticas devocionais próprias de cada santuário, aparecem espaços de festa, feira, entretimento, de merendar e pernoitar. Mais ou menos ordenados, mais ou menos arborizados, mais no alto mais na meia-encosta, as envolventes do templo principal evoluíram como verdadeiros parques públicos de recreio, constituindo hoje jardins históricos de referência e de grande simbolismo.
A paisagem minhota está pulverizada por esta imensa heterogeneidade de santuários que, na sua maioria, são propriedades de confrarias seculares. Teologicamente podem ser divididos em santuários cristológicos, centrados na pessoa e doutrina de Cristo, e mariológicos dedicados a Maria, mãe de Cristo, e a sua relação com o seu filho de natureza humana e divina. No Minho, em Braga, o Bom Jesus do Monte é a referência maior e indiscutivelmente o mais monumental de todos os santuários com os seus escadórios envoltos por matas e um notável parque na sua parte superior, acima do templo. O programa do santuário desenvolve-se desde o pórtico, na base do primeiro escadório da encosta, e por onde peregrinos e visitantes são convidados a acompanhar Cristo na sua Via Dolorosa, refletir sobre os Cinco Sentidos e as Virtudes, para depois apontar ao Caminho da Redenção até ao Terreiro dos Evangelistas.
Leia também:
Santuário do Bom Jesus do Monte
Após a construção de uma ermida no século XIV de invocação da Santa Cruz, no Santuário do Bom Jesus do Monte identificam-se três fases principais de construção e resumidamente referidas do seguinte modo:
1) Em 1629, foi criada em Braga uma confraria de invocação do Bom Jesus para restaurar o culto da Santa Cruz, restaurada e ampliada a capela ali existente e construídas capelas com os passos da Paixão de Cristo ao longo da encosta até à capela;
2) O arcebispo de Braga, D. Rodrigo de Moura Teles (1644-1728), restaurou o santuário construindo o pórtico, renovando as capelas e erguendo uma nova igreja; e
3) O arcebispo de Braga, D. Gaspar de Bragança (1716-1789), tendo como arquiteto Carlos Amarante, reedificou a igreja numa posição mais elevada e renovou os escadórios. Posteriormente, nos finais do século XIX, foram construídos o elevador e um conjunto de hotéis, tornando-se o Bom Jesus conhecido como uma estância de férias. Em articulação com estas obras, decidiu-se construir um parque com uma rede de percursos e diversos equipamentos, nomeadamente o grande lago, a gruta, um campo de ténis, tendo sido então plantadas diversas espécies exóticas a par com seculares sobreiros e carvalhos. Nas imediações do Bom Jesus existem outros santuários: Nossa Senhora do Sameiro (finais do século XIX), Nossa Senhora da Falperra – Santa Maria Madalena (finais do século XVII) e Santa Marta das Cortiças, igualmente envolvidos por parques.
Santuários de Nossa Senhora do Pilar e Nossa Senhora de Porto de Ave
Próximo do Bom Jesus, no concelho vizinho da Póvoa do Lanhoso, destacam-se dois outros notáveis santuários tanto pela riqueza do seu programa como pela qualidade construtiva e estrutura. Referimo-nos concretamente aos santuários de Nossa Senhora do Pilar e Nossa Senhora de Porto de Ave, ambos mariológicos. O primeiro começou a ser edificado em 1680, sabendo-se que, em 1724, já existiam a igreja e as sete capelinhas e que, em 1750, na base do monte foi construída a Capela do Senhor do Horto. O segundo, santuário real em 1874, foi iniciado em 1730 e, mais tarde, o arcebispo de Braga, D. José de Bragança, tio do bispo D. Gaspar, mandou ampliar o santuário. As obras de construção da igreja, escadório e capelas dedicadas aos passos da Virgem, do nascimento ao passamento, iniciaram-se em 1746. Neste santuário, a igreja encontra-se na base do monte, próximo do rio, e o programa desenvolve-se encosta acima; na Senhora do Pilar, a subida inicia-se desde a capela do Horto até à igreja (e, mais acima, encontra-se o castelo da Póvoa de Lanhoso). Ao subirmos à Senhora do Pilar por íngremes caminhos e visitando as pequenas capelas sob frondosa vegetação, podemos imaginar a 1.ª fase de construção do santuário do Bom Jesus enquanto a experiência da subida em Porto de Ave, culminando num grande recinto ensombrado, de certo modo, transporta-nos para o Bom Jesus de Moura Teles.
Leia também:
Gostou deste artigo? Então leia a nossa Revista, subscreva o canal da Jardins no Youtube, e siga-nos no Facebook, Instagram e Pinterest.