Aromáticas e Medicinais

Por que motivo bebemos café?

café

 

Honoré de Balzac, verdadeiro viciado em cafeína, escreveu, no ensaio Plaisirs et douleurs du café, que “assim que o café entra no nosso sistema, as ideias rapidamente se põem em marcha como se fossem o batalhão de um grande exército”.

 

O café teve um efeito absolutamente transformador na sociedade para o bem e para o mal. Muitas das grandes obras literárias da nossa história foram escritas em cafés. Em 1650, os estudantes com aspirações literárias nas universidades de Oxford eram assíduos frequentadores da primeira coffee house do Reino Unido.

Diz a lenda que os efeitos estimulantes do café terão sido descobertos por um pastor de cabras etíope que, andando à procura do seu rebanho, foi encontrá-lo muito entretido a devorar um arbusto de grãos vermelhos. Admirado, o pastor Kaldi provou também estes frutos e passado pouco tempo sentiu-se eufórico e começou a dançar.

Levou depois estes grãos aos seus amigos monges dum mosteiro próximo que terão começado a fermentá-los e a tomar a bebida que originavam para melhor se manterem acordados durante as longas madrugadas de oração. Na verdade, estes grãos são a semente de um fruto do arbusto do cafezeiro ou cafeeiro, que pertence à família das Rubiaceae.

 

Veja o vídeo:

Jardinar em Casa #10 : Como Usar Borras de Café nas Plantas

 

Esta planta, originária das zonas montanhosas da Abissínia, atual Etiópia, foi difundida para o sudoeste da Arábia, possivelmente levada pelos peregrinos a Meca ou por comerciantes árabes que a terão introduzido também na Índia. A Etiópia, que é o país mais velho do mundo e o primeiro país cristão, tornou-se também, graças ao comércio do café, no mais pobre à face da Terra.

Somos todos responsáveis, sim, senhor, quando pagamos 70 cêntimos pela nossa bica sem nunca nos questionarmos de onde veio, como chegou até nós e o que podemos fazer para alterar este ciclo vicioso de mão-de-obra barata e condições sociais profundamente injustas. Ao não nos importamos nada com a proveniência dos bens de consumo mais comuns, estamos a compactuar com este ciclo de injustiças sociais, económicas, morais e ecológicas.

 

 

Sabia que o café ocupa o segundo lugar nos produtos mais consumidos no mundo? Em primeiro está o petróleo. Surpreendido?

Terá sido talvez Marco Polo a trazer para a Europa pela primeira vez estes grãos preciosos quando regressava das suas viagens pela Rota da Seda em 1295. Há também suspeitas de que os portugueses o conheceram no Oriente, para onde tinha sido levado pelos árabes ainda antes do século XVI e daí o terão levado para o Brasil.

É cultivado em cerca de 70 países, sendo os principais o Brasil e a Colômbia, que detêm cerca de 40 por cento da produção mundial.

Constituintes e propriedades

Existem cerca de 70 espécies de café, sendo as mais comuns a arábica Coffea arábica e a robusta C. robusta − este último, que conta com cerca de 20 por cento da produção mundial, é mais barato, mais amargo e contém maior percentagem de cafeína. Oitenta por cento da produção é a arábica, que é um café mais caro, de sabor menos intenso e menos teor de cafeína.

A cafeína é um alcaloide estimulante do sistema nervoso central, faz-nos sentir acordados, centrados, alerta e atentos. A adenosina faz com que as glândulas suprarrenais produzam mais adrenalina, estimulando o coração, os pulmões e os músculos.

O descafeinado também contém antioxidantes, é-lhe apenas retirada a cafeína, no entanto esse processo é quase sempre feito por meios bastante industriais, recorrendo a químicos pouco saudáveis. Vão começando a aparecer no mercado alternativas em que o processo de extração da cafeína é feito recorrendo a formas mais naturais e menos danosas para a nossa saúde.

 

grãos de café

 

Alguns estudos demonstram que o café pode ser benéfico no tratamento de algumas patologias cardíacas inflamatórias associadas à diabetes tipo 2. De uma forma geral, o café reduz o stresse oxidativo e a inflamação. Têm-se verificado bons resultados no alívio de sintomas em pessoas que sofrem de problemas de fígado, incluindo hepatite C crónica, aumenta a velocidade de filtragem dos rins, fazendo aumentar a micção, sendo, portanto, considerado um bom diurético.

Existem centenas de estudos sobre os benefícios e os malefícios do café, chegando-se à conclusão de que os benefícios são muito superiores aos malefícios e que o segredo está na dosagem: uma bica ou duas por dia é uma boa dose, dependendo também do organismo de cada um, obviamente.

Tomar cinco expressos por dia começa a colocar muita pressão no ritmo cardíaco, nas suprarrenais e no sistema nervoso. Podemos dizer que o consumo moderado de café tem efeitos estimulantes, diuréticos, laxantes, regula os níveis de açúcar no sangue, é broncodilatador, vasoconstritor, antioxidante, protetor cardíaco e anti-inflamatório.

Combate o cansaço e as enxaquecas, a fadiga nervosa, a prisão de ventre, a resistência à insulina, estimula a digestão e aumenta as nossas capacidades cognitivas.

Na Europa, a única região que cultiva o cafeeiro encontra-se nas fajãs do sul da ilha de São Jorge, no Açores, onde visitei uma pequena produção familiar deste arbusto que afinal pode ser considerado uma planta medicinal.

As várias formas de cultivo de café mais éticas e menos éticas ficarão talvez para um outro artigo.

 

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Histórias e segredos do algodoeiro

 

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