Os dias abertos na Quinta do Arneiro são sempre uma festa no verdadeiro sentido da palavra.
Esta é uma festa muito animada, porque há sempre música ao vivo e da boa.
A Luísa tem bom gosto. Este ano, foi um verdadeiro mergulho na música da adolescência de quem por ali andava, escapando do burburinho urbano, deliciando-se com a boa comida, os ares do campo e o som dos passarinhos e também com os clássicos dos anos 60: Joan Baez, Joni Mitchel, Creedence Clearwater Revival, Jethro Tull, America, Bob Dylan, Beatles…
Isto tudo enquanto íamos degustando lasanhas, sopas, saladas, tartes doces e salgadas… relaxando com lufadas de perfume de alfazema, contemplando os bonitos murais do filho Tomás, nome artístico Ôje, observando o vaivém dos passeios mais concorridos.
Não, não eram os meus passeios botânicos; eram passeios de trator. Filas de adultos e crianças à espera do passeio e lá vão eles sentadinhos no atrelado, copo na mão, subindo e descendo a encosta de 30 hectares de hortas e pomares.
O projeto
Acompanho este projeto desde o seu início, quase desde a sua projeção. É com imensa curiosidade, quase incrédula, que vou testemunhando a evolução deste espaço, o desabrochar deste sonho.
Colaborei e continuo a colaborar, agora nas novas instalações de um sótão cheio de luz a cheirar a madeira de pinho, onde, nos dias de inverno, o calorzinho da salamandra nos aquece corpo e alma enquanto aprendemos coisas novas. As refeições são sempre servidas na imensa sala/ cozinha ou na rua, à sombra de araucárias gigantes.
O meu amigo José Mariano, que é um excelente comunicador e conhecedor da sua matéria, dá os cursos de horticultura sustentável, (só se comunica bem aquilo que se conhece profundamente e se pratica).
Eu oriento os passeios e oficinas de plantas medicinais e aromáticas, ervas silvestres e flores comestíveis; o Gabriel Mateus ensina sobre farmácia na cozinha; a nutricionista Iara Rodrigues ensina coisas boas e nutritivas; muitas outras pessoas passam igualmente por ali para ensinar sobre sustentabilidade e comida do bem, pois claro.
Os campos
Esta primavera fiquei particularmente deslumbrada com os campos de facélia, uma das melhores plantas para enriquecer a qualidade dos solos.
Bonita e fotogénica, é um verdadeiro banquete para as amigas abelhas. Pertencem à família das Boragináceas e, quando plantadas ao lado de girassóis, inspiram qualquer artista.
Por falar em banquetes, é ver e ouvir a azáfama dos insetos nas imensas coroas de girassóis a transbordar de pólen. Sabiam que o amarelo é a cor que mais insetos atrai? Sabiam que as pétalas de girassol podem comer-se, tal como as suas sementes?
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A produção agrícola
Uma pequena parte da produção de hortícolas é feita em estufa, como é o caso dos tomateiros e dos pepinos, mas o Duarte, o outro filho da Luísa que também tem muito bom gosto, tem o cuidado e o entusiasmo de plantar muitas flores dentro das estufas para atrair polinizadores e evitar o aparecimento de pragas e fungos, e que lindas que elas ficam.
São os clássicos cravos-túnicos, com manjericão bordeando as filas de tomateiros, mas, quase a atingir o metro e meio de altura, estão os cosmos de todas as cores, desde o branco, até ao grená, passando pelas várias tonalidades de cor-de-rosa.
Estes também se podem comer e volta e meia são incorporados nos cabazes, sim porque é da distribuição de cabazes que a quinta vive, além da presença em mercados biológicos aos sábados, em Lisboa (Príncipe Real e Campo Pequeno) e Cascais (Parque Marechal Carmona), o restaurante aberto de quarta-feira a domingo para almoços (jantares sob reserva para grupos) e de outros eventos e cursos que organizam.
No exterior espreitam, bem vermelhinhos e maduros, morangos à espera que alguém se delicie, seja pássaro ou pessoa.
Também abunda a produção de batata-doce, acelgas, alfaces, feijão-verde, beringelas e pimentos, muitas capuchinhas, calêndulas e fidalguinhas, uma verdadeira festa, não apenas para pessoas mas e sobretudo para a enorme biodiversidade de plantas e insetos.
A produção de ervas aromáticas é também abundante; funcho, endro, vários tipos de Alliums, salsa, manjericão, coentros cujas flores, também comestíveis, entram assim na criação dos bonitos arranjos, fruto da inspiração e criatividade da Leonor.
O trigo-barbela
E para terminar, a seara de trigo-barbela de espigas douradas cintilando no sol da tarde, uma primeira experiência com este cereal antigo, resistente e muito produtivo que será então transportado até ao moinho local para ser moído em farinha para o fabrico de pão 100% bio, local e produzido na quinta desde a sua raiz — parabéns por este projeto da seara que achei maravilhoso, já estou com água na boca só de pensar no pão acabadinho de sair do forno!
O passo seguinte poderia ser o aproveitamento das sementes de girassol e o cultivo de sementes de linhaça para enriquecer ainda mais o futuro desse pão que se adivinha maravilhosamente saudável e incrivelmente sustentável, pegada zero.
É por aí o caminho. Parabéns, Luísa e restante equipa.
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