Segundo a lenda, as propriedades estimulantes do chá foram descobertas casualmente quando uma brisa fez cair em água quente algumas folhas da planta do chá.
O chá verde resulta da infusão de folhas desidratadas de um arbusto [Camellia sinensis (L.) Kuntze] nativo das florestas do sul da China e do norte da Indochina. De acordo com a lenda, a descoberta das propriedades estimulantes do chá foi feita acidentalmente, quando o divino imperador chinês Shennong (c.2737 a.C.) aquecia água sob um chazeiro e uma brisa suave terá feito cair algumas folhas na água quente.
O imperador provou a bebida daí resultante, gostou e criou o «momento fundador» de uma longa tradição de consumo de chá verde. Esta lenda enfatiza, também, uma outra questão: consumir chá é uma forma saudável de beber água.
Quando se ferve água, reduz-se drasticamente o número de microrganismos que esta pode conter e, assim, a probabilidade de se ingerirem agentes patogénicos. Esta questão é relevante em regiões onde a água potável é um recurso escasso.
Tipos de chá
Existem vários tipos de chá, todos obtidos a partir das folhas do chazeiro, processadas de acordo com distintas técnicas, e originando o que tradicionalmente se denominam as classes de chá. Para efeitos da classificação do chá, existem seis classes: branco, verde, amarelo, oolong (azul), preto e pu-erh.
Chá preto
Embora o chá preto seja mais comum e popular no Ocidente, o mesmo não ocorre na China, no Japão e em outros territórios do Oriente, nos quais o consumo de chá verde é a norma e se integra numa tradição milenar ou multisecular. No Oriente, a exceção é, talvez, a Índia, onde o chá preto é muito popular porque a divulgação do seu consumo coincidiu com a instalação de plantações de chazeiros, a partir de meados do século XIX, e que tinham como objetivo abastecer o mercado inglês, no qual o chá preto era, e ainda é, o preferido.
O chá preto foi desenvolvido como forma de estabilizar as folhas de chá, para que estas pudessem conservar-se durante mais tempo e, assim, serem exportadas para territórios situados longe da China.
O substantivo “chá” pode ter vários significados, porque poderá aludir ao chazeiro, às folhas deste arbusto já processadas e secas, à bebida preparada e pronta a ser consumida, à refeição ligeira na qual se bebe chá ou, ainda, a determinados preceitos de educação e etiqueta que se pressupõem necessários à interação social [ter chá = ter educação, modos, saber agir conforme a ocasião].
Colheita do chá verde
Para se obter o chá verde, colhem-se os botões terminais (gemas) do chazeiro, assim com as duas folhas que lhe estão adjacentes, isto é, colhem-se as estruturas terminais dos ramos mais jovens. Seria através destes botões que o chazeiro continuaria a crescer e, por esta razão, é uma zona «preciosa e sensível».
Este facto faz com que o chazeiro deposite no botão terminal e nas folhas mais jovens, compostos químicos que os poderão auxiliar no caso de um ataque de predadores, que possam comprometer a sua integridade. Por outras palavras, a planta investe na defesa destas zonas, dotando-as de uma riqueza química singular, para que tenham um arsenal capaz de se defender.
É devido a esta riqueza química que os humanos encontraram no chá uma mais-valia para a sua saúde e bem-estar.
Processamento do chá verde
Logo após a colheita dos botões e das folhas de chazeiro, este material vegetal é colocado ao ar livre ou em grandes áreas cobertas, para que possa perder água, ou seja, murchar. Este primeiro processamento faz com que esta matéria-prima fique mais maleável e fácil de trabalhar, manualmente ou com o auxílio de máquinas. Atualmente, a produção manual é rara, mas ainda se faz, especialmente para chás verdes de maior qualidade, em relação aos quais o consumidor final se encontra disponível para pagar um preço superior.
Um exemplo de chá verde produzido manualmente é o chá Lung Ching, com origem na vila homónima, situada em Hangzhou (província de Zhejiang, China), e sempre referido quando se enumeram os chás verdes chineses de elevada qualidade. Conta-se que quando o presidente norte-americano Richard Nixon visitou a China, em 1972, Mao Tsé-Tung, fundador da República Popular da China, lhe ofereceu este chá como exemplo da sofisticação da milenar cultura chinesa.
O Japão, onde o chazeiro foi introduzido por monges budistas, a partir da China, durante o século VIII, produz dois chás verdes únicos: Matcha e Gyokuro. O primeiro insere-se numa longa tradição de consumir as próprias folhas de chá (e não a infusão das mesmas).
Esta prática era comum na China quando o chazeiro foi levado para o Japão, mas perdeu-se no país de origem. É este chá em pó que se utiliza na cerimónia japonesa do chá [chanoyu = (literalmente) água quente para o chá; também chamada chado = o caminho do chá]. Este é, também, o chá que se utiliza em bolos, tartes, gelados ou outras preparações culinárias com chá verde. Quanto ao Gyokuro, ele é o mais prestigiado chá japonês.
A sua preparação inicia-se três a quatro semanas antes da colheita, quando se cobrem as plantações com esteiras de ensombramento, para que o chazeiro (agora na sombra) produza mais compostos químicos e fique com propriedades organoléticas únicas (cor, aroma e sabor).
A preparação de chá a partir destas folhas requer água tépida (40-60 °C) para que a extração de compostos amargos não comprometa a experiência degustativa.
PRODUÇÃO DE CHÁ VERDE EM PORTUGAL
Em Portugal, produz-se chá verde em São Miguel (Gorreana) e em Fornelo, perto de Vila do Conde (Chá Camélia).
O chá verde contém teína (= cafeína), que é um estimulante do sistema nervoso central, embora, durante a preparação do chá verde, a extração de teína (para a água quente) seja menos eficaz, quando comparada com o chá preto, fazendo com que este último seja “mais estimulante”.
As catequinas são as moléculas responsáveis pelas propriedades antioxidantes do chá verde, que também contém L-teanina, um aminoácido não proteico, identificado em 1949, que aumenta os níveis de serotonina e dopamina no cérebro, promovendo a redução dos níveis de stresse mental e físico. Assim, o chá verde é, simultaneamente, estimulante, relaxante e antioxidante; razão pela qual é considerado, no Oriente, um elixir de saúde e bem-estar.
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